Nunca escondi o interesse de fazer um dia, uma pequena incursão pela ponta mais a sudoeste do território britânico, nomeadamente pela costa da Cornualha e deixar-me surpreender pela riqueza das suas paisagens, pela vasta herança histórica celta e perder de vista uma costa que vagueia entre mar, terra e entre histórias épicas do Rei Artur.
Cada pedra da costa quase sussurra um passado que foi “grande” e as ondas do mar que banham as falésias testemunham séculos gloriosos de um condado conhecido pela ligação histórica ao mar e pelas aventuras únicas e intrépidas dos seus heróis locais.
Esta viagem teve o seu início em Londres, cidade que continua a deslumbrar-me por cada visita que faço, sobretudo pelo seu modelo cosmopolita e único de receber os turistas e de fazê-los sentir também personagens principais da sua história.
Londres continua a encantar e sempre com novos pontos de atração turística e cultural para visitar que valem muito a pena. Depois de matar saudades de Londres e de beber quase toda a cultura disponível, novas tendências, visitar novos pontos de interesse, eis que chegou o momento de fazer-me à estrada para seguir para a Cornualha e começar esta jornada turística de 11 dias em Junho de 2019 e que terminaram precisamente no ponto de início: Londres.
A Cornualha situa-se no extremo sudoeste do Reino Unido, banhada a oeste pelo mar Céltico e a Sul pelo Canal da Mancha. É conhecida pela costa diversificada de praias arenosas, por paisagens pitorescas e, também por ter uma identidade cultural muito própria, com a sua língua tradicional: o “Cornish” (combinação da língua celta com gaulês). A sua sobrevivência económica depende muito do sector mineiro e, nos últimos, tempos do sector do turismo que tem tido um crescimento significativo, atraindo mais visitantes e investidores.
Esta jornada de visitas iniciou-se em Salisbury, cidade medieval no Condado de Wiltshire e conhecida pela majestosa Catedral de Salisbury, com a sua torre de 123 metros, uma fachada arquitetónica de grandes ornamentos, destaca-se ainda por conservar o relógio mais antigo do mundo e a Carta Magna datada de 1215.
Salisbury é também associada a Stonehenge, monumento icónico formado por círculos de pedras neolíticas com quase 5 metros de altura e que criam uma visão de mistério enigmático que nos fazem sentir como que peças minúsculas num cenário gigantesco de pedras seculares. A viagem continuou de carro por autoestrada e vias secundárias em direção ao mar, a St. Michael’s Mount, muito idêntico ao Mont St. Michel, na Normandia em França onde já estive uma vez e que considero um dos pontos mais bonitos na Europa para visitar.
Saint Michael’s Mount ergue-se majestosamente cerca de 230 metros em relação ao nível do mar e fica situado a cerca de 8 km a leste da cidade costeira de Penzance. Considerada um dos tesouros da Cornualha mais preservados, situa-se a 500 milhas de Marazion, uma praia deslumbrante e vista como uma pérola em Mounts Bay.
Daqui percorremos estrada até à vila costeira de Polperro, conhecida pelas famosas gaivotas que se convidam para refeições com os turistas e, uma paragem obrigatória para apreciar a gastronomia típica com a famosa sanduíche de caranguejo. Uma iguaria especial para quem aprecia caranguejo, que não é o meu caso.
Polperro foi uma vila piscatória conhecida pelas atividades de contrabando nos séculos XVIII e XIX e esconderijo dos pescadores contrabandistas. Considero uma vila muito pitoresca, de casario harmonioso e uma espécie de cenário de filmes antigos de piratas, com a recomendação da visita ao Museu Polperro.
A gastronomia da Cornualha mistura-se com ingredientes frescos locais, destacando-se os pratos de peixe e legumes feitos a vapor. O pastel da Cornualha, “Cornish pastry” é um salgado de massa tenra que combina carne e vegetais, muito típico na região.
Esta viagem não estaria completa sem a visita a Falmouth, uma cidade portuária que fica na costa Sul da Cornualha, com um considerável legado marítimo a nível de praias que são atrativas para a prática de desportos náuticos como: a vela, a canoagem ou o mergulho, bem como o famoso passeio pela baía Falmouth Seafront Promenade que recomendo pela beleza do porto, contrastando com as imensas velas dos barcos atracados. Falmouth convida ainda à visita do National Maritime Museum e, por fim. o Castelo de Pendennis para a visita panorâmica do estuário de Fal. Continuámos viagem pela costa, mergulhando por entre a vegetação de verde vivo, com tons intensos da primavera de um Junho húmido típico na região.
De Falmouth segui para a visita ao Cotwolds, região conhecida pela beleza da natureza, pelas colinas suaves e vales pitorescos que convidam a passeios por trilhos específicos e a conhecer as casas locais cuja arquitetura tradicional é de pedra calcária. Estas aldeias têm uma preciosa herança cultural que inclui igrejas antigas medievais e uma ligação própria à indústria local de produção de lã.
Não posso deixar de referir que fui surpreendida pelas aldeias de Bourton-on-the-Water e de Castle Combe, a nível de beleza e simplicidade num cenário ficionado de quase um livro de histórias.
Após a visita ao Cotwolds continuei a viagem até Bath, última paragem de visita desta viagem. Esta cidade é património mundial da Unesco e célebre pelo complexo de termas romanas para além de ser a cidade berço da escritora inglesa Jane Austen.
A Abadia de Bath é uma das igrejas mais importantes e outro ponto importante de visita histórica. Bath é banhada pelo rio Avon e percorrida pela Pulteney Bridge que tem características semelhantes à Ponte Vecchio de Florença por englobar lojas, restaurantes em toda a sua extensão e que vale muito a pena de ser fotografada e apreciada.
Cada viagem, cada experiência são o momento único para se criarem memórias inesquecíveis que eternizamos em cada olhar e também em sentimento de saudade – a Cornualha sente-se e vive-se muito o espírito!
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico