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A Bravura no Desporto

2014 marca o centésimo aniversário da declaração de guerra da Grã-Bretanha à Alemanha. Eram 23 horas, a 4 de Agosto de 1914, quando os britânicos decidiram entrar num dos conflitos mais dispendioso da História, em combates que duraram até 11 de Novembro de 1918. Muitos foram aqueles que tiveram de se inscrever no exército para continuar a alimentar os conflitos que iam surgindo, entre eles encontravam-se grandes atletas de vários desportos. Muitos eram as estrelas do desporto de uma outra era. Capitães, colegas de equipa, heróis locais. Muitos foram dos campos de jogo para os campos de batalha da Primeira Guerra Mundial, para nunca mais voltarem.

Coração e Mente – o Espírito de Equipa de Tynecastle

Uma placa memorial está guardada num expositor no Heart of Midlothian Football Club, o estádio dos Tynecastle, para relembrar a memória daqueles que morreram nos combates da Primeira Guerra Mundial. O tempo pode ter passado, mas o exemplo dado pela equipa, com jogadores a colocarem a sua vida em risco para proteger o seu país, nunca foi esquecido.

Na época de 1914-15, o clube estava no topo da Liga Escocesa e estavam num bom caminho para ganharem o título, mas a pressão para que os futebolistas se alistassem no exército era progressivamente maior. Muitos jogadores, apesar de estarem ligados contratualmente aos seus clubes, eram acusados de serem cobardes, por não lutarem pelo seu país. A 25 de Novembro de 1914, onze jogadores deste clube escocês inscreveram-se no serviço militar, voluntariando-se para o novo Batalhão de Royal Scots, conhecidos, oficiosamente, como os McCrae’s Own, em honra do seu fundador, Sir George McCrae. Ao fim de uns dias, 16 jogadores dos Heart alistaram-se, catapultando o alistamento de atletas de outros clubes, como Raith Rovers, Falkirk, Dunfermline, East Fife, Hibernian e Clapton Orient. Às centenas, foram muitos os jogadores de futebol que decidiram abandonar os campos e defender o seu país.

No final, 3 jogadores do Orient perderam as suas vidas e 7 dos Hearts foram mortos em batalha. Foram poucos os sobreviventes que decidiram voltar a usar o emblema do clube escocês, mas a sua coragem ainda hoje é recordada em Tynecastle. “A bravura destes homens é algo de que nos temos orgulhado, desde sempre”, afirmou o historiador da equipa ao BBC Radio. Sete jogadores morreram na guerra, incluindo o avançado Tom Gracie, que escondeu a sua leucemia, para que pudesse continuar a treinar para o campo de batalha. A equipa demorou mais de duas décadas a recuperar, tanto emocionalmente, como em termos de força.”

Mobbs & Tull – os Melhores de Northampton

Quando a equipa de rugby de Northampton joga contra os Barbarians, no seu encontro anual de Mobbs, os jogadores estão a honrar um dos mais famosos filhos da terra. Com mais de 1,80 metro de altura, Edgar Mobbs foi o capitão dos Saints, durante seis temporadas, decidindo também, ao fim desse tempo, mostrar as suas qualidades como líder na frente de guerra. Formou o seu próprio batalhão, composto por membros do corpo especial e 400 voluntários, e ficaram conhecidos como o Batalhão dos Desportistas, uma parte importante do regimento de Northamptonshire.

No meio de uma troca caótica de balas, pó, fumo e adrenalina, o Tenente Coronel Mobbs pagou o maior preço na Batalha de Passchendaele, ao atacar sozinho um posto de guerra inimigo. Já havia sido ferido três vezes, durante o período que participou na guerra, e acabou por falecer com um tiro no pescoço. Porém, antes de falecer, conseguiu ainda dar um mapa com as referências de todos os postos inimigos a um colega.

A menos de um quilómetro de distância do estádio de rugby de Franklin’s Garden está o estádio de futebol Sixfields, na cidade de Northampton, que tem, nas suas traseiras, uma estátua de Walter Tull Way a correr. Este jogador, que fez parte do Tottenham antes de se juntar aos Cobblers, é considerado o primeiro atacante negro da história do futebol inglês, tendo também feito história no campo de batalha.

Segundo o professor de História do Desporto da Universidade Leicester’s De Montfort, Tony Collins, “o pai de Walter era dos Barbados e a sua mãe era de Kent. Quando a guerra foi declarada, ele alistou-se para o batalhão de futebolistas do Regimento de Middlesex e e serviu na Frente de Guerra. Em 1917, foi promovido a Comandante, algo extraordinariamente fora do comum. Foi o primeiro negro a chegar Comandante na Armada Britância.” Esta foi uma grande conquista para Tull, neto de um escravo e criado num orfanato, depois da morte dos seus pais, tendo ainda sido alvo de partidas racistas, nos jogos de futebol em que participou.

Walter Tull Way acabaria por falecer na Batalha de Somme com 29 anos, quando uma bala o feriu mortalmente, enquanto liderava um ataque. Muitos dos seus companheiros de batalha tentaram levar o seu corpo para as trincheiras britânicas, mas o seu corpo nunca foi recuperado.

As Pioneiras do Futebol – as Mulheres das Munições

Enquanto os homens britânicos combatiam por toda a Europa, as mulheres tiveram de ocupar um papel crucial, no seu país. Foram milhares aquelas que aceitaram ter trabalhos perigosos em fábricas de munições e o desporto permitia-lhes ter actividades divertidas e saudáveis.

Conhecidas como as “Canários”, trabalhavam longas horas, normalmente em más condições e com químicos perigosos, que lhes faziam contrair icterícia e ficar com a pele amarela. Com esta rotina diária, o futebol feminino começou a florir, atraindo para a Taça de Munitionettes a atrair 30 equipas no norte de Inglaterra, mas, no meio de tantas jogadoras, houve uma que se destacou. Bella Reay marcou 133 golos numa só temporada no Blyth Spartans Ladies FC, um clube que foi invencível durante dois anos, depois de terem sido ensinadas a jogar por membros da marinha. “Dos 17 aos seus 20 anos, ela jogou futebol, incluindo para a selecção nacional inglesa, onde marcou 101 golos, em 32 jogos”, relembrou a sua neta ao BBC Radio. “Ela jogou também no Newcastle United e em Wembley. Penso que, se ela jogasse actualmente, valeria uma fortuna como jogadora.”

Durante a Primeira Guerra Mundial, este jogo era tão entusiasmante para as mulheres, que, contam as lendas, uma jogadora do Blyth, Jennie Morgan, chegou a ir directamente do seu casamento para um jogo de futebol, marcando dois golos, para comemorar. No entanto, quando a guerra terminou e as fábricas de munições fecharam, em 1918, as equipas femininas acabaram por desaparecer e, em 1921, a Associação de Futebol Britânica fez um comunicado, onde dizia que “o futebol não é adequado para as mulheres e que não deve ser encorajado”. Durante 50 anos, qualquer envolvimento feminino neste desporto foi terminantemente proibido, no país.

O Chamamento do Capitão

Lewis Moody tinha a alcunha de “Mad Dog” e, como jogador de rugby, ganhou a Taça do Mundo, com a selecção nacional inglesa, em 2003, e, sucessivamente, tornou-se no capitão da equipa. Contudo, o antigo jogador do Leicester Tigers admitiu recentemente que, por vezes, não se sentia motivado para jogar, até que se lembrou do seu avô, que tinha o mesmo nome que ele.

“Quando jogamos um determinado desporto, não temos ideia alguma de como eram as coisas em 1914”, relembrou Moody ao BBC Radio 5, num documentário intitulado “First World War and Sport”. “Nos últimos anos da minha carreira, estava a tornar-se muito complicado encontrar vontade de jogar, excepto nos jogos internacionais. Era difícil preparar-me mental e emocionalmente, como havia feito em anos anteriores. Costumava levar comigo a Medalha de Honra e de Vitória do meu avô e segurava-a nas minhas mãos antes de entrar em jogo. Usava-as para me concentrar e tentar preparar o meu espírito para o campo.”

Moody sempre demonstrou ter um grande interesse pela História Militar e ficou particularmente comovido com uma visita que fez a túmulos de guerra franceses, durante o Mundial de Rugby, em 2007. Chegou a afirmar que o “pungente” livro Somme Mud, escrito por um soldado australiano, tem uma particular ressonância para si. “O meu avô ficou ferido na Primeira Guerra Mundial e foi capaz de voltar com vida, mas muitos não tiveram a mesma sorte. Eles deram as suas vidas pelo seu país.”

“Muitos, como Edgar Mobbs e Walter Tull, não foram encontrados e as suas sepulturas não podem ser visitadas. São apenas nomes num memorial qualquer. Eles deram tudo o que tinham em si, para que, agora, todos possamos viver o estilo de vida que vivemos.”

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