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Séries de televisão

A Apologia de Cristina Yang

Era expectável que o final da décima temporada de Anatomia de Grey se desenvolvesse em torno da despedida de Sandra Oh da série que a catapultou para a fama. No seu último episódio, a Dr.ª Cristina Yang decide abandonar o Hospital Grey Sloan Memorial, para poder substituir o seu ex-noivo, Dr. Preston Burke, como directora de um dos mais prestigiados hospitais de cardiologia a nível mundial.  Depois de ver este desfecho para a história de uma das personagens mais importantes da série, fiquei com a sensação de que a opção criativa tomada foi um pouco improvável tendo em conta a personagem em questão, mas é, simultaneamente, uma saída que consegue parecer real (talvez a qualidade que melhor definiu esta personagem, durante 10 anos). No meio de todos os desastres que os doutores de Anatomia de Grey viveram, desde um tiroteio, a uma queda de avião, a um atentado terrorista num centro comercial, Cristina Yang sempre conseguiu manter a sensação de ser uma personagem autêntica, num verdadeiro testemunho ao poderio representativo de Sandra Oh e à capacidade criativa dos argumentistas.

Yang, como era conhecida pelos corredores do hospital, com quase toda a certeza é uma das personagens femininas mais fortes que apareceram na televisão recentemente e é, certamente, uma das mais importantes, encontrando-se como um dos pilares de uma das séries centrais da cultura pop actual. O que existe de mais notável na personagem é a sua inabalável dedicação à grande paixão da sua vida – a Cardiologia. As suas relações pessoais e as suas decisões foram todas influenciadas e condicionadas pelo seu desejo de ser a melhor cirurgiã cardiotorácica que conseguisse. Por exemplo, quando Cristina fez um aborto na oitava temporada, a sua decisão, apesar de difícil, seria a única que ia ao encontro da essência da personagem. Uma mudança repentina de opinião seria algo completamente inexplicável e, como a criadora da série, Shonda Rhimes, disse, tal seria uma destruição por completo do que havia sido criado até ali.

Na sua eterna busca pela realização do seu sonho, Cristina Yang redefiniu o significado da expressão “ter tudo o que se deseja”. A totalidade da definição desta expressão é baseada naquilo que os homens acreditam ser os desejos das mulheres, ou seja, ter um casamento feliz, uma família e uma carreira realizadora (pelo menos por um período curto de tempo). Facilmente imagino que muitos tenham dito a Cristina, tal como disseram a muitas mulheres que se focam muito na sua carreira, que o que ela necessitava era de encontrar o homem certo com quem assentar e que tudo o resto iria, magicamente, construir-se à volta dessa relação. Contudo, Cristina, há umas largas temporadas, parecia ter encontrado o “homem certo”, aliás, encontrou-o mais de uma vez, e a exclusiva vivência desse amor não chegava para satisfazer as suas ambições, uma vez que era na sala de operações que se sentia verdadeiramente feliz. O seu trabalho  é que a fazia sentir-se preenchida e o que a torna verdadeiramente extraordinária é a sua constante busca por algo que só ela (sozinha) possa controlar.

A paixão que demonstrou ter pelo seu trabalho era reforçada pelo seu imenso talento. Desde o primeiro episódio que o espectador soube que ela era excepcional. Aliás, todos os personagens sabiam isso e, mais importante, ela sabia-o, fazendo com que fosse sempre sincera no que tocava a referências ao seu génio. No seu último episódio, ela disse a um outro médico: “Tu nunca serás tão bom como eu, mas tu és muito, muito bom.” De uma forma um pouco estranha, esta afirmação pareceu um genuíno elogio, tendo em conta de quem partiu. Para além disso, na sua despedida da série, nada se adequaria mais do que aliar num mesmo episódio os seus dois grandes amores: a cirurgia e a sua constante luta pela procura pela sua própria grandeza e de todos aqueles que se encontram à sua volta.

A verdadeira história de amor de Anatomia de Grey nunca foi a de Meredith com Derek, mas sim a construção da amizade entre Meredith e Cristina. No caminho que ambas construíram lado a lado, ambas souberam recriar em televisão a complexidade e o afecto que existe em qualquer amizade entre duas mulheres. Tal como aconteceu em outras ocasiões, tenho de admitir que a despedida entre estas duas amigas irmãs conseguiu roubar-me umas quantas lágrimas. Depois de dançarem sozinhas, as últimas palavras que Cristina disse em toda a série foram dirigidas à “sua pessoa”, encorajando-a a enfrentar o seu marido Derek e a lutar pela sua carreira. “He’s very dreamy, but he’s not the sun—you are”, disse-lhe ela.

Talvez este artigo seja um reflexo das emoções que o último episódio da décima temporada de Anatomia de Grey conseguiu despertar em mim, mas a verdade é que, apesar de ser uma personagem de uma série, Cristina Yang sempre teve a capacidade de me inspirar. Foi refrescante ver uma mulher que não tinha vergonha nenhuma em assumir o que era, mesmo que, por vezes, fosse um pouco rude, e que normalmente estava certa. Sandra Oh soube construir uma personagem ricamente complexa nas suas várias facetas, enquanto profissional, amiga e mulher, e isto foi e sempre será parte integrante do legado da série. Anatomia de Grey é uma plataforma para a representação da totalidade do que significa ser humano, permitindo a muitas pessoas reverem-se em personagens como a de Cristina Yang.

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Comments 2
  1. Foi com muita pena que vi sair uma das minhas personagens favoritas desta série. Faltou saber porque motivo Sandra Oh saiu da série e como conseguiram que o ator que interpreta o Dr. Burke voltasse, depois de ter sido dispensado.

    1. Não sabes tu o que eu chorei a ver a despedida do que para mim é o casal da série: Meredith e Cristina. Pode ser que a actriz queira volta daqui por um ano.

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