+1 202 555 0180

Have a question, comment, or concern? Our dedicated team of experts is ready to hear and assist you. Reach us through our social media, phone, or live chat.

60 linhas de Wallace

60 minutos não chegam para contar todas as conquistas vitais que atingiu. Mas foi através do “60 minutos” da CBS, que ficou conhecido. Durante 38 temporadas foi a cara do programa e, por vezes, nem importava quem é que ia entrevistar: a vontade de assistir ao debate prendia-se com as perguntas que fazia e a forma directa como as colocava. Pôs a actriz Barbra Streisand a chorar; questionou Vladimir Putin sobre corrupção e sobre se a Rússia era mesmo uma democracia; a Ayatollah Khomeini questionou a sanidade mental e, entre dirigentes políticos, figuras de estado e inúmeros rostos da economia, da cultura ou da ciência, foi com o Dr.Kevorkian que atingiu o pico de audiência, ao transmitir imagens de um suicídio medicamente assistido. Se ainda assim, não sabe que estamos a falar de Mike Wallace, o melhor é ficar até ao fim para conhecer mais detalhes dos seus 94 anos de vida intensa.

Mike Wallace foi, sem sombra de dúvidas, o rosto da mudança no jornalismo no século XX. Deixou o banho-maria das reportagens para o lado e levou, em ebulição, as perguntas que tinha para fazer aos entrevistados. Antes de ser a cara do programa “60 Minutes” Mike passou por inúmeras redacções, desde rádio, a televisão ou a imprensa. Em todas elas, deixou claro que a grandiosidade o acompanhava nos trabalhos que fazia e que a paixão pelo Jornalismo era condição sine qua non para empregar vinte e quatro horas por dia. O primeiro contacto que teve com o Jornalismo foi durante a faculdade: enquanto frequentava a Universidade de Michigan era repórter do Michigan Daily. Corria o ano de 1939 e, de canudo na mão, Wallace ingressou na aventura do jornalismo radiofónico. Durante a 2ªGuerra Mundial foi Oficial de Comunicações na marinha dos Estados Unidos da América e, fora desta batalha, mostrou ao mundo o seu estilo implacável de entrevistas quando, em 1957, passou a ter um programa com o seu nome: “The Mike Wallace Interview”. O primeiro aperitivo para cativar as massas estava servido e as doses pediam-se, sem parar.

Apesar de alguns relatórios médicos indicarem que Wallace sofria de demência, a sua postura revelava um homem com um cariz forte, cuja principal missão era conduzir o jornalismo à sua verdadeira missão: ser a voz dos cidadãos e confrontar os entrevistados com a realidade dos factos, sem filtros. E foi também sem filtros que o seu nome se viu envolvido em casos jurídicos, que o deixaram à beira de duas depressões. Esteve internado mas manteve essa realidade pessoal fora da esfera pública, até ter confessado o problema pelo qual tinha passado, bem como a tentativa de suicídio. A morte do filho mais velho foi outra estrada que o guiou no caminho da mudança: a partir dessa data passou a ser repórter a tempo inteiro para a CBS e sublinhou o seu carácter porque sabia que era aquilo que o filho queria: um pai forte e um jornalista mais ainda, com a capacidade de revolucionar o mundo e levar a verdade aos quatro cantos do globo. E assim foi.

Wallace era a imagem de um homem destemido e de um jornalista com marca própria. Viveu intensamente cada entrevista e levou a sua ideologia até ao fim. Uma das suas aventuras nos ecrãs foi palco para o filme “The Insider”, de Michael Mann. Dentro e fora das linhas que eram esses guiões, Wallace dirigiu a caravela dos descobrimentos de um jornalismo “de emboscada”. O seu estilo de entrevista era agressivo, marcando uma ruptura radical com o estilo de entrevistas que se faziam até então. Questionou factos sem aviso prévio e, enquanto fã desta técnica, fez chorar, gaguejar e chatear entrevistados. Tinha reputação de não ter “misericórdia” por quem se sentava a conversar com ele e isso valeu-lhe a alcunha de “inquisição”. A busca constante pela verdade e a forma como Mike o fazia desenharam a janela que garantiu o sucesso do programa. Ganhou 21 Emmy Awards e durante esse tempo foi ganhando a admiração e o respeito do público. Incansável a desempenhar as suas funções, Mike abordou assuntos controversos, temas polémicos e entrevistou personalidades que mais ninguém teve a coragem ou a oportunidade de o fazer.

Wallace era a força do jornalismo, da coragem e da determinação. Provocou e foi processado, inspirou e foi inspirado, viveu intensamente até 2012, quando deixou que os 94 anos intensos de vida o levassem. Na inteligência de ser persuasivo, fazer muita investigação e conhecer os assuntos a fundo, Wallace foi a força impulsionadora para mudar os paradigmas do jornalismo. Dizem que, sem ele, o carisma e o próprio programa não existiriam hoje. E deste lado nós acrescentamos que o jornalismo também não, esperando que todos os profissionais da área bebam esta inspiração e sejam Wallace, por momentos, para ampliar a verdade e projectar os factos que (realmente) importam.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

A crise não é o único desafio das empresas

Next Post

Europa: Fragmento e União

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Workaholic vs. Worklover

Uma pessoa passa, em média, 33 a 42 anos da sua vida a trabalhar. A variação está relacionada com o país e com o…