As ruas inclinam-se na despedida dos jovens, Lisboa acena-lhes um “até um dia” e Portugal perde uma das gerações mais qualificadas. A taxa de desemprego é assustadora e não cessa de crescer. Segundo o Instituto Nacional de Estatística atingiu, no terceiro trimestre do ano passado, 175 mil pessoas com idades entre os 15 e os 24 anos.
Foi, em tempos, chamada de Geração à rasca, uma geração feita de jovens entre os 21 e os 35 anos que desesperaram na procura de um futuro profissional que lhes permitisse auferir um salário e obter a desejada independência financeira para sair da casa dos pais.
A maioria, porém, tem conseguido pouco mais que as ditas experiências de trabalho em que as empresas mais não pagam que despesas em transportes e subsídio de alimentação. Os próprios, já pouco acreditam num futuro marcado pelo tradicional decurso da vida – comprar casa, ter um filho e construir uma família. Os desejos profissionais e a procura incessante suplantam quaisquer ideias românticas de vida.
A idade é propícia a sonhos sem peso e medida e a vaguear pelas ruas infinitas da mente ambicionando cada vez mais, mas as pretensões saem fracassadas. Definem-na como a “década perdida”, com um mercado de trabalho sobrecarregado de pessoas a ocupar postos de pedra e cal, sem perspectiva de oportunidades para os mais novos, os que terminam a licenciatura e estão aptos para trabalhar, são ‘sangue novo’ e fresco capaz de refrescar ambientes. É uma desigualdade entre gerações que priva os mais novos de garantirem, a longo prazo, o conforto da vida.
As tentativas em tornar o mercado de trabalho mais flexível têm sido um fracasso e muitos jovens têm perdido a esperança. Optam por realidades diferentes, por áreas de trabalho que não correspondem à área de formação ou por sobreviver com mesadas dadas pelos pais.
O desemprego tem vindo a crescer nos últimos 10 anos, mas o que hoje mais espanta é a progressão desse crescimento que faz desta década, uma ‘década perdida’.É uma geração acusada de ser demasiado qualificada e está subaproveitada. As habilidades adquiridas não estão a ser postas em prática e muitos jovens optam por emigrar. Partem na conquista de um posto que lhes garanta mais que a sobrevivência ou um mero contrato temporário. E não há que enganar – 30% é o número redondo que assusta os de idade inferior a 25 anos.
A realidades são, porém, antagónicas – o acesso à internet é ainda limitado para muitos alunos e a média de jovens que conclui o secundário é ainda muito reduzida. Comparando com a média europeia de 70%, Portugal atinge pouco mais de 30% de estudantes sem o ensino secundário. A falta de investimento em formação já vem de tempos remotos da altura da Ditadura do Estado Novo. As escolas secundárias eram quase inexistentes e a oferta mais significativa vinha do ensino primário.
Este défice de qualificação foi-se recuperando ao longo dos anos, mas agora outro fantasma acompanhou a evolução dos tempos – a emigração, registou uma vaga de aumento de mais de 20.000 pessoas nos últimos dois anos, segundo dados estatísticos do INE. Agrava ainda mais quando o apelo vem, com franca perseverança, do primeiro-ministro. Pedro Passos Coelho insiste, aos que com distintos cérebros estão a fugir das terras lusas, que se deve fazer provas de maior esforço. As palavras já ecoam porque muitos já seguiram o seu conselho.
É dramática a forma como o estado do País está a afectar os mais jovens, sobretudo porque falamos de uma inactividade involuntária de um País que se está a esvair em dificuldades económicas e sociais e o Fundo Monetário Internacional, nas conclusões da missão a Portugal, alerta que “um risco de médio prazo é que o crescimento recupera demasiado lentamente para ter um impacto significativo no elevado desemprego, desencadeando a emigração de trabalhadores jovens e qualificados, que poderá ser difícil reverter”.
Imagem de destaque retirada de: http://virgireverdito.blogspot.pt/2011/01/el-flautista-de-hamelin.html