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20-D: o fim do bipartidarismo espanhol?

Está oficialmente decretado. Pelo menos, nos próximos tempos, o bipartidarismo – o domínio alternado da politica espanhola por Partido Popular (PP) e Partido Socialista Obrero Espanol (PSOE) – acabou. No ato eleitoral de dia 20 de dezembro, os espanhóis optaram por um cenário parlamentar em que há quatro ‘grandes’ partidos. Um Parlamento tão diverso como este não era visto desde 1936, ano do início da guerra civil e das últimas eleições livres antes da ditadura franquista.

Para se perceber melhor as eleições espanholas, é necessário, primeiro, contextualizar o ambiente em que as mesmas decorreram.

A queda de popularidade do partido de governo – o PP – que, nos últimos anos, tem estado debaixo de fogo, quer de protestos sociais, quer de acusações de corrupção, e a impopularidade (crónica) do principal partido da oposição, o PSOE, ainda manchado pelos governos de má memória de Zapatero, abriram a porta parlamentar a duas outras formações políticas em crescente ascensão nos últimos anos: o Podemos e o Ciudadanos.

O Podemos é um fenómeno que emergiu dos movimentos sociais de descontentes que corporizaram os protestos anti-austeridade e anti-establishment. Fundado em 2014, rapidamente ascendeu aos primeiros lugares em todas as sondagens, tendo chegado a estar em fevereiro deste ano em primeiro lugar com quase 30% das intenções de voto. Auto-posiciona-se politicamente à esquerda do PSOE, apesar de muitas vezes ser tido como um partido populista de extrema-esquerda, apoiante do chavismo.

O outro fenómeno da eleição, o Ciudadanos, surgiu há já mais tempo, na Catalunha, com o objetivo de fazer o papel que o PP não tem conseguido desempenhar nessa mesma comunidade autónoma: o de uma forma moderada de centro-direita que defendesse, sem tabus, a unidade espanhola. O sucesso das últimas eleições regionais catalãs, que os colocaram como principal partido da oposição no Parlamento catalão, fizeram este partido catapultar para um âmbito de combate nacional. Apesar de ter uma retórica algo anti-establishment, o Ciudadanos faz questão de se afastar do estilo do Podemos. O facto de terem uma postura moderada e de, politicamente, se colocarem à direita do PSOE, é fonte de especulação sobre a possibilidade de poder vir a ‘dar a mão’ ao partido do governo, o PP.

A entrada no Congresso dos Deputados destes dois partidos veio dar mais representatividade a várias franjas da sociedade espanhola, até agora algo polarizadas numa espécie de três blocos muito assimétricos: dois grandes blocos – o bloco conservador (do PP e aliados regionais) e o bloco socialista (o PSOE e o Izquierda Unida) – e o bloco nacionalista (partidos regionalistas bascos, catalães e galegos) que, nos últimos anos, têm apoiado, ainda que de forma restrita, os executivos minoritários socialistas.

O bipartidarismo espanhol é um comportamento social e político que começou nos anos 80, com a entrada do PP enquanto força política preponderante na alternância governativa com o PSOE. No dia 20, nenhum dos partidos conseguiu chegar sequer aos 30% de votos. O grande ‘vencedor’ das eleições foi, sem dúvidas, o Podemos. Mesmo num sistema eleitoral “algo anormal”, segundo Pablo Iglesias, o seu partido consegui entrar no Congresso logo na primeira eleição geral disputada, com um número significativo de deputados, 69, tendo vencido em duas regiões fulcrais, a Catalunha e o Pais Basco.

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Resultados eleitorais por região. Legenda: Azul – PP; Vermelho: PSOE; Roxo: Podemos.

Para um partido que nasceu há apenas dois anos, o seu desempenho está a ser fulgurante. No que toca ao partido mais votado, o PP, volta a resultados que não eram vistos há décadas e o PSOE obtém o pior de sempre desde a transição para a democracia nos anos 70. O Ciudadanos, embora tenha entrado pela primeira vez no Congresso, logo com 40 deputados, decepcionou todas as expectativas (que eram enormes).

O bipartidarismo morreu. Agora o que se sucederá? O cenário já apontado por todos os analistas é de ingovernabilidade. O PP teve mais votos e elegeu 123 deputados dos 350. Ou seja, está muito longe da maioria pretendida, a de 176. Rajoy não consegue falar com ninguém, muito menos com o PSOE, o único partido que poderia viabilizar um governo minoritário do PP e cujo líder já afirmou que recusará dar aval à posse de Rajoy. Assim, a possibilidade de ser reeleito está cada vez mais longe. O cenário de eleições antecipadas é o apontado por cada vez mais analistas políticos como a solução para resolver o caos político em que Espanha está prestes a entrar.

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