Invariavelmente, quando me junto com o W, para o cafezinho nas manhãs de trabalho, a conversa ruma sempre às nossas cozinhas e às novas receitas que acabámos de testar. Um destes dias, numa teima sobre churrascos e as marinadas que cada um utiliza para temperar a carne, ou o peixe, falei-lhe sobre o único tempero que costumo utilizar: Homemade.
Ele, muito espantado, abriu-me muito os olhos e perguntou-me: “Ah Bonitinha… só isso? A carne vai ficar sem sabor. Além disso, tudo o que se vende por aí tem um gosto horrível!” Expliquei-lhe, então, que o meu tempero era caseiro e ensinado pela Raquel, à torreira do sol do Alentejo.
– Ah, então tem de trazer um pouco para eu experimentar!
– Já estou a fazer, mas só tenho um pouquinho lá em casa e este ainda não está pronto. Vou ao Alentejo este fim-de-semana e, se conseguir, trago um pouco para experimentares.
E assim foi. Depois de contar à Raquel que o meu amigo paulista desconfiara do tempero, ela enviou-lhe um frasco bem cheio, dizendo-me que haveria de durar algum tempo. Na segunda-feira seguinte, levei o presente ao W, que me disse ter um almoço com os amigos no fim-de-semana seguinte, momento ideal para o testar.
– Vou fazer entrecosto, mais ou menos 2 quilos. Quanto coloco Bonitinha?
– 3 colheres de sopa, é mais do que suficiente. Mais do que isso ficará salgado.
– Tem a certeza?
– Tenho. De contrário, não se conseguirás comer e terás de ir almoçar fora. – disse a rir.
Passou-se a semana, o fim-de-semana e o W lá fez o churrasco com a dose que a Raquel lhe enviou e que foi bastante generosa… Almoço para os amigos. Na Segunda-feira, telefonou-me logo cedo para tomarmos o café e assim que chegou perto de mim, disse-me:
– Menina, o tempero da sua amiga é divinal. Toda a gente adorou aquela carne. Minha filha não parou de comer. O que tem afinal?
– Pimento vermelho e sal.
– Não pode!
Dei uma gargalhada.
– Pode sim. É só isso.
– Me ensina a fazer?
– Claro que ensino, mas ainda tens que chegue para mais umas quantas vezes. A quantidade que a Raquel enviou foi bastante generosa.
– Já não tenho.
– Não tens? Não tens como? Por amor de Deus, não puseste aquela quantidade toda na carne certo?
– Não, mas meus os amigos gostaram tanto que distribuí o resto por eles e fiquei sem nada.
Vamos às compras?
- Pimentos vermelhos na quantidade que se desejar. Costumo fazer este pimentão na época deles, pois estão no ponto de maturação ideal.
- Sal grosso, sempre em dobro da quantidade dos pimentos.
E agora preparar:
Os pimentos devem ser abertos e limpos de quaisquer sementes. De seguida, acondicionar em cama, no fundo do recipiente, alternando com outra de sal e assim sucessivamente até terminar ambos.
Esta salmoura deverá ficar cerca de um mês no frio, sendo que todos os dias se deve retirar a água que forma.
No final do mês, retirar do frio, limpar sob água corrente com um coador, reservando o sal utilizado. Após estava lavagem, colocar noutro recipiente e passar a varinha mágica, até ficar numa massa espessa.
Esterilizar frascos e, depois de secos, acondicionar o pimentão, colocando um fio de azeite por cima, antes de fechar. Conserva-se por seis meses, em despensa.
O sal que reservámos da salmoura e que se torna aromatizado, poderá ser seco no forno, juntado depois outras especiarias, para ser utilizado em carne, peixe ou saladas
Simple as that!