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Um dia seremos pó

O milagre da vida implica uma energia extraordinária. Sonhos, planos, tantas ideias que ainda se vão concretizar. Viver implica quebrar barreiras e saltar os obstáculos que surgem no caminho. Tudo é mais além e difícil de lá chegar.  Quer-se sempre mais e mais e é legítimo que se exija o impossível.

Sem se dar conta a vida toma conta do assunto e manipula com toda a facilidade. As marionetas a que se dá o nome de pessoas, são levadas para onde ela entender e estipular. Passa a correr e o tempo está sempre a seu favor para permitir que as velas circulem a alta velocidade.

Crescer e multiplicar. Cresce-se e a multiplicação pode ser par ou ímpar. É o círculo imperfeito que gira e estonteia levando a que os intervenientes sejam rodados para um lado e para o outro. Faz parte. Voltas e mais voltas até que se pára e se encontra uma porta aberta para se voltar a fechar.

Por um lado, somos pequenos e temos quem nos dê a mão, nos diga por onde ir e nos mostre os labirintos e os animais ferozes. Avisam que não devemos ou que seremos, mas cada um tenderá para o caminho que se oferecer de imediato. Podem recusar e procurar outro. Segue a vida.

Na ponta oposta a mão que se estende é a nossa, a que ampara e cuida. Subiu-se de escalão e o patamar está elevado. Vimos de cima, mas já não podemos recuar. É um legado que já nos foi transmitido e que se perpetua. Massa que se cria e se tapa para fermentar com rezas e mezinhas caseiras.

Contudo, esta adversativa tão poderosa, explica que tudo tem um fim e pode ser gracioso ou menos dramático. Ficaremos sós, porque na verdade já o estamos. A solidão pode ser um porto de abrigo num mar de tormentas, porque aquilo que acontece, a introspecção leva a uma análise mais profunda do eu.

Tantas interrogações que surgem e tão poucas respostas. Queremos viver, mas a qualidade pode não acontecer como se desejava. Ficaremos mais pequenos, mirrados e quase invisíveis. É isso que acontece. Desaparecemos para muitos, mas ainda estamos vivos. Não somos percepcionados, mas existimos e a vida é que continua a comandar.

Os laços que se estabelecem não devem ser cortados, mas sim alargados. Todos precisamos de alguém e ninguém pode viver sem os outros. Para uns pode ser uma tarefa complicada ter que se relacionar com o próximo, mas para outros é uma alegria constante. Somos tantos e tão diferentes.

Triste é chegar a um ponto em que só se avista uma pequena sombra, uma ligeira mancha, um amontado de ossos, ainda ligados entre si, abandonado numa qualquer viela, aos olhos de todos que não ligam ou, se tiverem mais sorte, numa cama de hospital à espera que percebam que ainda respira.

O fim nunca é agradável, mas pode ser menos penoso. Onde estão as mãos que foram dadas, onde estão aqueles que foram auxiliados, onde estão aqueles que cirandavam à sua volta? Pois é, nas suas vidas que não precisam daquele peso que os arrasta para uma realidade dolorosa.

Quando forem somente uma imagem de ossos que mal se nota num qualquer local, mas que ainda respira como se sentirão? A vida não desaparece só, porque se deseja que assim o seja. Vamos olhar para o lado e disfarçar? Fazer de conta que nunca aconteceu?

Estaremos capacitados e aptos para lidar com este degradar da vida que, com toda a certeza, espera por nós? As células nascem, cresce, reproduzem-se e morrem. Os amontoados de células, aquilo que todos somos, seguem a sua rota, um caminho que não tem retrocesso. Que seja suave e tranquilo.

Um dia seremos pó, mas, enquanto estivermos arrumados em cabides de esqueleto e ligados por articulações, que sejamos humanos suficientes para saber existir e soltar as nossas emoções com qualidade e com racionalidade. No início não éramos nada, mas fomos sendo quem nos tornámos, construindo a nossa identidade e posição até que tudo se esvaziará e ao nada retornaremos.

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