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Treinadores de bancada

Os pais são um grupo curioso para ser analisado. Aqui a palavra pais, no plural, refere-se aos dois progenitores, mãe e pai. Num conjunto são engraçados mesmo que não estejam de acordo em muitos assuntos. No entanto há pelo menos um em que todos os esforços se conjugam: o futebol.

Normalmente estão convencidos que os seus rebentos são todos uns craques e que têm o futuro assegurado como jogadores de futebol. Se bem o pensam melhor o fazem. Queixam-se da vida, complicada, mas para acompanhar os filhos estão sempre disponíveis. Ainda bem. É vê-los, muito cedo, antes das 8 horas, à porta dos clubes desportivos, com os meninos vestidos a rigor. Aos fins de semana, seja dito, porque durante a semana os atrasos são frequentes.

Encontramos de todos os tipos. Pais que acompanham os filhos, mas só estão lá, outros nem querem saber, é só mais uma actividade e ainda outros que levam tão a sério o futebol que tudo fazem para serem notados. Não são os pequenos que são os atletas, são os pais que se tornam os protagonistas.

Primeiro não gostam do equipamento, porque isto ou porque aquilo e depois vem a parte mais complexa da questão: discordam dos treinadores em tudo. Eles é que sabem e não os técnicos. Querem assistir aos treinos e dão opinião sobre todos os assuntos. Nitidamente estão a atrapalhar.

Aproveitando a deixa, porque não olhar para os manuais e igualmente opinar sobre eles? Quantos são os pais que o fazem? Quantos sabem qual é a matéria e a podem analisar correctamente? Não está em causa o conhecimento de cada um, mas sim o interesse que demonstram, o que é muito diferente.

Seria caricato ter os pais a assistirem às aulas dos filhos e expressarem os seus ditos. Camões não escrever nada disso, uma equação é estúpida, tira-se o X e está resolvido, a escala de Ph não serve para nada, o inglês só serve para engatar babes e outras pérolas semelhantes (tudo isto é ficção e é meramente ilustrativo do ridículo que seria se acontecesse).

Uma das funções dos progenitores é ensinar a abrir as asas e voar. Quer isto dizer que devem  fornecer o essencial para que os seus pupilos possam sobreviver em todas as circunstâncias. Dar o peixe no prato, sem espinhas e cortado aos pedaços é muito mau caminho. É preciso mostrar que existem dificuldades. Não é o que acontece.

Assim que começa o jogo dão instruções, gritam ordens, definem tácticas e os seus filhos ficam divididos entre os conselhos técnicos e os dos não especialistas. É uma pressão contínua e mal direccionada, que baralha e pauta-se por resultados menos bons. Não respeitam os técnicos, porque lhes estão a passar, claramente, um grande atestado de incompetência e muito menos os seus descendentes, porque os perturbam.

Gostava de ver tanto entusiasmo para o estudo, para as matérias que podem e vão fazer a diferença no futuro deste jovens. Não venham com a desculpa que não sabem ou que não têm tempo, porque o dia tem sempre 24 horas e estas podem ser usadas para o estudo curricular e para o futebol. Basta que se queira e o tempo estica-se e alarga-se até onde se quiser.

Recordo-me de um episódio ocorrido com um pai que teve um resultado pouco simpático. O aluno estava com dúvidas numa matéria e perguntou ao pai. Este, como não sabia e não queria ficar mal visto, inventou. A resposta, como se calcula, estava errada e depois atribuiu as culpas a quem o ajudava a estudar. Nunca dele. Isto não se faz, porque quem não sabe aprende ou então admite. Para ficar bem perante o filho acabou por o fazer passar uma humilhação.

O desporto é importante, mas o conhecimento é que poderá fazer a diferença. A conjugação dos dois é o passaporte para a segurança, para a eficácia e para o sucesso. Não vejo o mesmo furor nem a mesma garra para estudar com os filhos ou se dispor a ouvi-los com toda a atenção.

A sociedade perfeita, constituída por jogadores de futebol e respectivas esposas não existe a não ser nos jogos e nem poderia existir. Fazem falta todas as profissões, sobretudo aquelas onde o imediato é preciso e não devem ser, de modo algum, desprezadas. Olhando nessa perspectiva a escola não tem valor algum a não ser que seja para praticar futebol. As matérias escolares não têm importância?

Será que estes pais se apercebem do mal que estão a fazer aos filhos? Além da pressão exercida e da desorientação que provocam, demonstram uma tremenda falta de respeito para com aqueles a quem são entregues os alunos. Ninguém é melhor do que ninguém e todos são importantes para o contrabalanço. O futuro é agora e não depois e apresenta várias possibilidades.

Deixem os filhos crescerem, estejam presentes, mas aceitem que existem outras pessoas importantes na vida deles. O exemplo do futebol é simplesmente uma metáfora da vida, mas aplica-se a inúmeras situações. O sucesso e a necessidade de reconhecimento acabam por ser palavras vãs se os educadores não prepararem os seus educandos para uma vida real.

A vida é dura, não se podem colocar paninhos quentes e andar sempre com a mão por baixo. Quanto mais rija for a educação mais preparado fica o aluno. Sim, nestas coisas da vida somos todos alunos e professores, uma vida inteira e sem descanso. É uma formação contínua que nunca se esgota e sem certificados nem diplomas.

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