Eu não estou no fim!
Ou não quero estar. Já não sei a diferença. Sei que acordei para o mundo assim, mal acordada para mim mesma, diferente aos olhos (subtil) da natureza. Tenho dificuldades com tudo o que me rodeia e o mundo não se adequa às minhas características. De visão, claro! Não ignoro a minha posição de mulher num mundo em reboliço, mas aqui, ali, tudo é o mesmo, quase nada vai mudando. Só a cara das pessoas, a expressão indistinta, o olhar diferente. Não sou única nem quero ser, quero pertencer. E tanto fiz e faço que acabei por conquistar o lugar de mulher. Mas nada mais. Tento absorver o que me rodeia, mas pouco ouço de diferente; por isso não ouso olhar (subtil) para os assuntos de perspectivas diferentes. Não quero ser melhor, pior ou até entender. Quero pertencer!
A família tornou-se tudo. Aqui posso esquecer o quase porque é o que conheço. A minha mágoa, pai, és tu, que pouco olhas para mim. E eu, logo eu, que te trato como rei, pai. Já tu és diferente, a minha alegria és tu, tesouro. É pouco sobrinho e tudo restante. És a pedra basilar da família. És tudo o que nos une, tudo o que desejas são ordens, todos somos nada ao pé de ti. Minha mãe, ouve: sei que tiveste melhores dias, mas outros melhores estão para chegar. Sei que me olhas de soslaio, sei que não sou como as outras, mas elas não sabem o que é amor. Amor sempre para dar. Já não me lembro de o receber ou de o querer. Não me torna feliz ou triste, apenas resignada com o mundo que me adoptou. Aqui estou, sempre entre vós, sempre para vós!
Por isso, nunca estou no fim.