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Sociedade em Dó maior

Escrevo este texto ao som de Mozart. É uma das minhas companhias favoritas para escrever. Não faço questão que seja Mozart, mas é uma paixão já muito antiga. Podia ser, sem sombra de dúvida, outro compositor ou outro estilo qualquer, desde que me permitisse manter os pensamentos focados para poder criar um texto.

Sou daquele tipo de pessoas que valoriza a música de tal forma que não consegue viver sem ela. Aos 10, 11 anos, música era das minhas disciplinas favoritas e equacionei mesmo em seguir estudos de piano. Acabei por não o fazer, é certo, mas o “bichinho” da música nunca me largou. Por isso, quando olho para a situação do Conservatório Nacional, acima de tudo e mais do que a já muito batida questão dos apoios à cultura, vejo o estado de uma sociedade.

Não sou dos que defende que deva ser o Estado a suportar todos os custos da Cultura, apoiando tudo e mais alguma coisa, mas sou dos que acredita que a Cultura e nomeadamente a música, principalmente através da aprendizagem, é um dos bens mais preciosos que uma sociedade pode ter, bem mais do que qualquer empresa, obrigações do Tesouro, ou dívida. Sou também dos que acredita que o gosto pela Cultura não se impõe, mas alimenta-se e transmite-se, fazendo com que mais e mais a procurem e, dessa forma, o tal investimento que falta possa surgir de forma quase natural.

Muitos estudos comprovam que aprender música auxilia ao raciocínio lógico e dedutivo, mas também trabalha a nossa inteligência emocional, libertando o coração, abrindo a nossa consciência às nossas emoções e ajudando-nos a trabalhar com os nossos sentimentos. Dessa forma, as nossas capacidades naturais, como a criatividade, amplificam-se e manifestam-se mais rapidamente. Aos olhos disto que acabei de descrever, observemos a nossa sociedade, fechada de sentimentos, direccionada para o material, para os bens e para as posses, que mais rapidamente dá 600 euros por um telemóvel do que 30 para um bilhete para um espectáculo, ou para um concerto.

O ensino das artes, nomeadamente da música, assim como a dinamização da consciência cultural, é tão essencial para a vivência individual e em sociedade como o simples facto de ter comida na mesa, mas precisa de ser vista como parte integrante do ser humano, não como uma máquina de fazer dinheiro. É preciso, por isso, libertarmo-nos da sociedade fast-food, da procura do lucro rápido, quase instantâneo, busca obsessiva pela criação de riqueza e pelo crescimento, compreendendo que o desenvolvimento social e a felicidade são o que realmente vai fazer a economia crescer da forma correcta.

Se lermos as notícias à volta da questão do Conservatório, vamos perceber que este problema tem décadas, não é algo recente, e eu arriscaria dizer que tem o mesmo número de décadas em que nos preocupamos mais com o trabalhar para ganhar dinheiro, para ter uma boa casa, um bom carro e boas roupas, ainda que sejam para os filhos, do que em passar tempo com eles, ouvi-los e às suas necessidades e gostos, vê-los crescer e sermos parte integrante desse desenvolvimento. Sim, a música também está aí inserida. Eu cresci com música em casa, não com auscultadores nos ouvidos constantemente, e também lá pelo meio com televisão e videojogos. Nas casas de hoje, para além da correria normal, será que também partilhamos música?

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