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Slow J

O trabalho todos podem conhecer, mas é o modo como o trabalho é feito que define aquele que o faz. É essa uma das principais caracteristicas que distingue Slow J dos demais. Cantor, compositor, faz de tudo um pouco na área da música, não o faz bem, fá-lo de forma única. Talvez seja isso que o torne num dos maiores artistas em Portugal.

Não há nada de normal no seu fugaz trajeto: em 2015, com um EP intitulado “The Free Food Tape”, um jovem de Setúbal oferecia um banquete servido a hip-hop, eletrónica e R&B, com isso só gerando mais estômagos esfomeados. Regressado a Portugal, depois de estudar Engenharia de Som em Londres, Slow J foi para os estúdios da Big Bit, em Lisboa, onde explorou à vontade tudo aquilo que queria aprender.

Numa primeira fase, o tremor fez-se sentir, sobretudo, entre os círculos de hip-hop, mas rapidamente difundiu para outros ouvidos e públicos. O resultado é reconhecido por muitos em Portugal, sobretudo, por essa extraordinária canção chamada “Cristalina”. A aclamação do EP foi a tal ponto abrangente que o músico, com apenas esse registo no bolso, subiu a palcos como o Sumol Summer Fest, Super Bock Super Rock, Festival Iminente e Meo Sudoeste, o que ilustra o raio de penetração da sua música, cativante tanto para espaços mais juvenis como noutros mais históricos, onde existe um público mais exigente.

Se o EP criou o burburinho que criou, tal deveu-se a um fator concreto: o facto de, na sua riqueza sónica, se reconhecer que, não obstante o hip-hop ser o ponto de partida de Slow J, este rapaz tinha (e tem), música para dar e vender noutros territórios. Como no futebol, o “menino do rio”, do Sado e não de janeiro, encantou pela virtuosidade e, talvez até mais do que isso, pelo amor, pela alegria que a sua música transborda. Como se da celebração efusiva de um golo marcado por um “menino vadio” fugido às obrigações escolares se tratasse. Ao contrário, porém, do que classicamente acontece no hip-hop, o seu berço, Setúbal, nunca foi motivo de exaltação aguerrida, isso mesmo transparecendo de “Sado”, canção inscrita em “The Art of Slowing Down”:

“O Sado não sente saudade, o Sado olha sempre de lado / Quem não vai voltar / Os putos do Sado já sabem, se nunca saírem da margem / O Sado não julga quem volta, nunca se importa.”

E, quanto ao Sado, a visão de Slow também é de outra ordem. Para o artista o rio corre sempre, quer se esteja lá ou não, porque ele não muda de sítio, está sempre lá. Slow considera que tal acontecimento é frio da parte do rio, mas também é caloroso, porque ele não se importa, quando se volta. Ele observa-nos exatamente da mesma maneira.

O instrumento vocal é um dos seus grandes trunfos, dando-lhe uso como bem lhe apetece. Por outro lado, no capítulo da composição, em que todo o seu talento fica a descoberto, a percussão revela-se o eixo central, intercessor de várias mudanças de velocidade dentro da mesma canção, discussões acompanhadas por iguais mudanças melódicas.

O abraçar generoso de diferentes extensões passa também para as letras. Algo, de resto, comum a géneros em que redutos puristas sempre permanecem, caso do fado, no qual Mariza ou Ana Moura vêm delineando propostas igualmente desordenadas neste sentido.

O impossível é não reconhecer nele um fantástico compositor, sábio no modo como cria harmonias, picos, quebras e ambientes específicos não só ao longo álbum, mas, sobretudo, dentro da mesma canção.

Desafio-vos a ouvir o que tem para nos dizer o músico de hoje, a fazer música de e sobre os nossos dias e da única forma que toda a música deve ser feita: com paixão. Não com a necessidade de fazer vendas, mas sim com o objetivo de abrir mentes, com o objetivo de mudar mentalidades.

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