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Ser e parecer

“O homem é um animal social”. Esta é uma frase que se costuma ouvir com alguma frequência. Nasce-se e aprende-se a viver numa determinada sociedade. Incutem-se as regras sociais e as morais e seguem-se as ditas como se fosse um carreiro de formigas que leva a porto seguro. Quem se desvia é penalizado e excluído. Quem as acata faz parte de um todo que deve funcionar.

As pessoas fazem um completo, um grupo que se torna tão homogéneo quanto diferente, dependendo das suas bases e dos alicerces que apresentam, que são umas estruturas complexas e nem sempre duradouras. Tudo o que é bom é simples e fácil de entender cobrindo o espaço que resta no essencial. A força que cada um desenvolve consegue contornar as adversidades e apresentar-se como se nada tivesse acontecido.

Há fardos pesados e fardos leves. Pesados são os que obrigam quem os carrega a lutar por eles, a fazer justiça ao que é seu e a marcar a sua posição num território que possa parecer inóspito. Como leves identificam-se os que se sugam os outros, que lhe retiram o valor e o mérito, usando-o como se fosse seu. Uma brincadeira que é levada tão a sério como se fosse real.

Há pessoas que se dedicam a uma determinada causa ou um objectivo e o levam até à sua conclusão. No final recebem a merecida recompensa, a medalha, o elogio ou o diploma. Quem nasce com alma de vencedor não necessita de usar uma capa que o identifique nem títulos que o elevem. São justos vencedores.

Outros, que não se identificam com causa alguma ou se encontram, de certa forma perdidos, encostam-se à sombra dos genuínos e retiram-lhes os louvores e hábitos. Não são, mas gostariam de ser e de tanto querer nas suas mentes essa ideia instala-se como se fosse verdadeira. Usurpam as identidades.

Os títulos académicos podem ou não ser usados por quem os conseguiu. Não raro se conhecem pessoas que continuam simples e se comportam com uma postura sem alteração. Quem termina um curso superior é o portador de uma licenciatura. Tornou-se frequente o uso de doutor, quando na realidade não o é. Esse é um grau bem mais elevado. Antes desse ainda se encontra o mestrado.

Curioso é verificar que quem não tem estes títulos, por variados motivos, é quem mais os usa. Uma parte considerável considera que frequentou a Universidade de Vida e como prémio sente-se no direito de usar os graus que entender. Uma forma de promoção social que valoriza quem pronuncia aquelas letras: doutor.

Estes sentem que crescem, que se fazem gente por ter algo escrito antes do nome próprio. Talvez assim consigam encobrir o que não conseguiram ou não lhes foi possível. Circulam de peito feito, cheios de si mesmo, porque são o que afinal não são. Aqui o parecer é suficiente para lhes encher o ego e permitir andar de cabeça erguida e nariz levantado como se as alturas fossem o seu habitat natural.

Por outro lado, muitos dos que podem usar os já referidos epítetos não lhes dão destaque e nada alteram na sua vida só, porque os têm. Uma etapa concluída e nada mais. E a educação, que deve vir do berço, não permite que a vaidade ganhe terreno e muito menos o convencimento. A não ser que as regras sociais e profissionais assim o obriguem. Nesse caso o ser tem a primazia.

Perfeito é o mundo que não existe, os seres que nunca deixam de se completar e encontrar soluções para os males que assolam os tempos. O compromisso é algo de grandioso e só alguns o conseguem levar até ao fim. Por isso tudo o que seja rudimentar e tosco pode surgir como uma mezinha que resolve temporariamente a situação.

Ser e parecer são vocábulos bem distintos e com significados muito subjectivos. Ser uma pessoa que seja detentora de um curso superior não implica que se sinta diferente dos demais. Dar a entender que se é especialista em coisa nenhuma, mas usufruir dum título é o parecer que faz toda a diferença e anima quem o pratica.

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