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Politização dos Blogues

Quando entramos no tema dos discursos dos media, já não podemos ficar indiferentes aos blogues. Eles existem, estão massificados e, em alguns casos, têm mais visualizações que meios de comunicação considerados tradicionais. Com essa notoriedade instalada, uma das áreas que aproveita o fácil acesso aos blogues é mesmo a política.

Aliás, no top 30 de blogues mais visitados em Portugal, é possível vislumbrar três de teor, maioritariamente, político: O Insurgente, Blasfémias e Aventar. Esse facto prova que existe realmente um público fiel ao tema, existe aquela possibilidade/responsabilidade tão boa e, ao mesmo tempo, tão perigosa, de poder moldar mentalidades. É certo que audiências com um elevado nível de literacia dos media não vão ser influenciadas só por lerem texto x, ou y, no entanto, nós sabemos, infelizmente, que os níveis de literacia da população portuguesa estão ainda longe do ideal. Sim, mesmo as pessoas que lêem blogues estão, por vezes, apenas à procura de uma sustentação de terceiros para argumentar ideias que já possuem. Isto para, posteriormente, tentar convencer outros de que a razão está do lado deles.

Os blogues entram, portanto, na campanha política. Não digo que seja de forma preponderante, mas, em certos círculos, já usufruímos de alguns exemplos práticos. Recuemos até ao Verão do ano transacto. O blog “António“, criado por José Borges, presidente da JS de Lisboa, era um blogue de apoio ao, agora, secretário-geral do PS, António Costa. Um blogue de campanha interna, contra António José Seguro, que tinha como autores, entre outros, os deputados socialistas João Galamba, Isabel Moreira e Pedro Delgado Alves. É claro que, com nomes tão importantes no seio do Partido Socialista, este blogue foi utilizado para moldar as mentes de quem o seguia, neste caso, os eleitores do Partido que, a cada texto, a cada postagem, ficavam mais convencidos de que António José Seguro não era o líder ideal para o PS e que António Costa deveria vencer as eleições internas. Se um blogue é bem afamado e aplicado dentro de um nicho certo, como é este exemplo uma ilustração perfeita, pode e tem um poder desmedido na influência da opinião pública.

Contudo, o caso do blogue “António” terminou em polémica, depois de um texto onde um autor comparou a actual liderança socialista de António José Seguro ao III Reich de Hitler. José Borges escreveu, num texto intitulado “Seguro e o fim do III Reich“, que “se Hitler ameaçava levar o mundo todo com ele para o abismo caso a Alemanha tombasse, assim parece agir António José Seguro do seu ninho de águia, lugar supremo da abstracção e da desrazão”. E acrescentou que o PS “encontra-se hoje nas garras de um homem perdido”. Após o incidente, o blogue passou a estar em modo privado e assim se mantém até aos dias de hoje.

Mesmo sendo um mau exemplo no que diz respeito à gestão da comunicação, este blogue é o exemplo perfeito da utilização de um espaço mediático (ou que se pode tornar mediático) para dizer coisas que não se dizem nas televisões, para argumentar com o espaço e tempo que não existe nos jornais.

Num caso mais recente, de pura campanha política, existe o exemplo do blogue do Fórum Manifesto, de onde começaram a surgir os textos fundadores da candidatura cidadã, Tempo de Avançar, apadrinhada pelo partido LIVRE. Um blogue que serviu para juntar um grupo de cidadãos, subscritores, tendo como base ideais políticos ainda abstractos, por desenvolver, por criar, mas muito bem escritos e sustentados ao nível da prosa e, até, da retórica. Estes blogues não entraram na campanha polícia, criaram essa campanha, esse movimento que, na minha opinião, é totalmente meritório. Achei por bem esclarecer essa parte antes de avançar mais no meu texto. O movimento Tempo de Avançar é meritório nos mais variados aspectos da sua orientação política. Com esta “declaração de interesses”, posso concluir que, através de um blogue, bem referenciado por apoiantes do Bloco de Esquerda, ou, até, do PCP, se conseguiu atrair e angariar subscritores para este novo movimento. Tudo através de um blogue. Algo impensável há dez anos. Este é o poder da Internet e este é o poder da descentralização dos meios para passar uma determinada mensagem.

Em súmula, não só de debates e promessas são feitas as campanhas políticas do século XXI. As campanhas são feitas através da influência de opiniões que começam nos nichos, que começam nos círculos conhecidos, com expansão, primeiro, através das redes sociais e, em alguns casos, terminando em notícia nos meios tradicionais. Os blogues existem, são cada vez mais políticos e são mecanismos que prorrogam as campanhas eleitorais para períodos ininterruptos, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.

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