Numa semana tão cheia de acontecimentos e polémicas, é difícil escolher apenas um tema para falar. Contudo, acho que existe um que merece uma abordagem bem séria.
Pelos vistos, o Ébola chegou ao mundo, dito, desenvolvido, algo que foi suficiente para começar uma onda de histerismo colectivo que já vimos acontecer noutras situações. Não digo com isto que o Ébola é uma brincadeira, muito pelo contrário, até é um assunto bastante sério e uma doença muito grave. No entanto, há que separar dois factores.
O primeiro é a falta de esclarecimento. Os meios de comunicação social, que já visei nesta crónica inúmeras vezes pela sua postura sensacionalista, deveriam ser os primeiros a auxiliar no esclarecimento, algo que parece ser muito difícil de acontecer, pois o que vende jornais e a publicidade que os paga são as notícias de sangue, faca e alguidar. Quando uma população não está informada, o medo gera-se e com ele reacções despropositadas e até histéricas. A contrainformação é bem mais grave do que qualquer pandemia, pois pode tornar algo que com algum trabalho, é certo, pode ser antecipado e tratado.
Há poucos meses, falava-se de uma pandemia grave de Ébola, com a situação em África muito descontrolada. De um momento para o outro, as notícias acalmaram e quase desapareceram, o tratamento da doença e o controlo da sua expansão começou a ser feito, mas ninguém, no seu perfeito juízo, acharia impossível restringir o Ébola a África e tentar eliminá-lo lá. Vivemos tempos globais, é impossível controlar tal coisa.
Quando começaram, nomeadamente nesta semana, com o caso da enfermeira espanhola, do norte-americano e, agora, com um caso em França, o Ébola parece ter chegado à Europa e aos Estados Unidos da América e o que se começa a ver é muito semelhante a algo que já vivemos há algum tempo, o que nos leva ao segundo factor.
Quem não se lembra do H1N1, a Gripe das Aves? Gravíssimo, pandemia, descontrolo total. De repente, surge o Tamiflu, miraculoso, e os Estados a desembolsar às indústrias farmacêuticas milhões para poder ter o medicamento nos países. Não sou de teorias de conspiração, mas cada vez que vejo casos destes, noto mais e mais os negócios milionários que estão por detrás destas doenças e as indústrias farmacêuticas, para quem a doença é o negócio e para quem não interessa, na realidade, a saúde, até porque maior parte da sua actividade deixaria de fazer sentido e veríamos muitas a abrir falência, a continuarem a ganhar à custa do sofrimento de milhões.
O maior problema que denoto com toda esta situação é, precisamente, a histeria que, automaticamente, se cria à volta de algo, sem sequer se tentar perceber os seus verdadeiros contornos, não ajudam nada a resolver um problema que, na realidade, é grave, mas que exige, acima de tudo, esclarecimento. A histeria é, na realidade, reflexo de um medo latente e que permite que qualquer coisa seja solução, que leva a situações limite e a atitudes impensadas e desnecessárias. A histeria é também o reflexo de uma sociedade preguiçosa, habituada a soluções fast-food, que não quer ter tempo para uma leitura, ou, simplesmente, para pensar. Este é o maior vírus, a maior pandemia, e já está entre nós a infectar-nos há muito tempo, há demasiado tempo.