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Os novos hippies

São 3 meninas, de idades em escadinha, criadas ao ar livre, ao vento, ao sol e à liberdade. A mãe não as descura, orienta-as, ensina-as e mostra os caminhos que possam existir. É Verão, está calor e a vida é mais agradável o ar livre. Vivem numa roulote/carro, onde dormem e vagueiam de um lado para o outro. Os pais delas podem ser diferentes ou o mesmo, mas isso que interessa? Elas estão com a mamã, que é assim que lhe chamam, e nada lhes falta. São filhas do acaso, da brisa que se atravessa e ameniza vidas que apresentam durezas grandes e desenfreadas. Vivem em comunidade com outros que tais, com vidas soltas, sem amarras que os prendam e que lhes permitem fazer aquilo que lhes der na gana. Crescem juntos, crianças e cães, que as seguem, que as cuidam e que as protegem. Tudo é de todos e o amor é infinito. De manhã a mais velha acorda, levanta a do meio enquanto a mais nova dorme. A mãe já organizou o dia e recolheu os despojos do dia anterior, a roupa lavada e a loiça que se usou. É um novo dia e todos acordam para o que der e vier.

Vivem aos pares, mas não são casais nem têm relações emocionais. Estão juntos por uma questão de sobrevivência. Só há um carro, partilhado e uma lona que se estende no chão. Dormem em sacos cama, que se desenrolam, ao ar livre, durante o estio que se faz sentir, muito forte. Deambulam, mas não pedincham. Fazem artesanato e vendem, junto a piscinas, a parques de campismo e festivais de música. Vendem fruta, sustentam-se e vivem. A noção de diversão está associada à sobrevivência e fazer amigos, onde quer que passem. Quando acabar a estação logo se vê o que irá acontecer mas agora vivem o momento, o dia , o sol e o calor, que acaba por ser o seu companheiro. As noites são quentes e não são necessários muitos cuidados, somente um espaço onde o corpo possa repousar. E riem muito, falam línguas diferentes, mas entendem-se. É o retomar de um ritmo antigo, viver segundo o clima, as estações, o que for preciso para se estar bem.

São um casal, há sentimentos que os unem, fortes e que se pretendem que perdurem. Estão de férias ou saíram de casa uns dias. Têm uma cadela que os segue, que vive a mesma vida, que os acompanha na sua rotina. A roupa é leve, descontraída e a vida é complicada e injusta. Compram comida para repartir, mas primeiro pensam na cadela, bonita, lustrosa e bem tratada. Mais facilmente saltavam a refeição do que a sua menina passar fome. Ela aguarda-os quando entram no restaurante para encomendar a refeição. Recolhem os despojos dos outros: a salada que não comeram, o pão que não foi tocado e tudo aquilo que ainda possa ser aproveitado. São os novos recolectores. Têm mais cuidado com a fiel amiga do que com eles. Dão-lhe água limpa, que água não se recusa a ninguém. Aproveitam o gelo, que ainda não derreteu e usam a água da torneira para acalmar a sede da noite, que está escaldante. Vivem felizes, limpos, livres e jovens. A cadela talvez seja a treino para o filho que querem ter. Serão bem-sucedidos, com toda a certeza.

Estão de férias, numa tenda porque o bebé é muito pequeno e precisa de cuidados redobrados. Não há mãe nem pai, mas sim progenitores que cuidam do seu rebento. Enquanto um o cuida, o outro trata da refeição. É preciso lavar bem a alface, os legumes que se comem crus para aproveitar as vitaminas na sua totalidade. A mãe ainda amamenta e não tem vergonha de o fazer em público. Todos nascemos de uma mãe e mamámos, não há lugar a falsas moralidades. As mamas amamentam e talvez levem a outros pensamentos, mas não agora, não aqui, onde o pai arranja a salada. Depois embala-se o menino e os pais almoçam ou jantam. Acabam todos por adormecer. Afinal são umas crianças que tomam conta de outra, a sua, que sonham com um futuro risonho, livre, fácil e feliz.

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