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Os fumos do incêndio

Será que é desta que os nossos governantes percebem que Portugal é um país pequeno, mas apresenta algumas diferenças gigantescas? Não é numa sala de reuniões onde o ar condicionado não deixa perceber como está o ar atmosférico, mas sim no terreno, nalgumas cidades e no seu restante, maioritariamente rural. Já entenderam ou ainda não?

Neste momento estão a almoçar, muito provavelmente, num local confortável e com vista agradável. Fazem bem. De onde provém essa comida? Do supermercado. No entanto, antes de lá chegar por onde passou? Sabem? O país rural é aquele que produz o que se vê, o sector primário que muitos teimam em não ver. E quem são as pessoas que trabalham a terra, que cuidam dos animais e que são guardiões da floresta? Sabem?

A tragédia que nos assolou mostrou uma parte do nosso recanto paradisíaco onde o inferno se instalou e gostou. Espaços largos, mas demasiado pequenos para serem notados. Como podem estas pessoas, estes trabalhadores incansáveis, passarem despercebidos a quem governa um país?

A vaca é um animal doméstico, mas não se cria num apartamento nem numa vivenda. Necessita de muito espaço e de cuidados. O porco, animal bastante sociável, não anda de elevador nem pula nas escadas. É de espaço aberto, de campo que estes animais clamam para serem saudáveis e úteis.

A natureza é sábia, mas manhosa. É preciso saber domá-la, dar-lhe a volta e fazer-lhe ver que não pode tomar conta de tudo de modo desordenado. A manutenção é essencial para que tudo se processe com a maior das tranquilidades. Palavras soltas e vãs que se dizem sem valor de verdade.

Não entendo como ainda se brinca com estes assuntos tão sérios! O planeamento e o ordenamento do território é uma mais valia, um bem comum que deve ser preservado. Já nem se fala dos planos nos programas escolares. Somos um país de crentes e ingénuos? Somos é parvos!

Portugal não são só as cidades onde tudo está mesmo ali, sem trabalho algum, mas uma amálgama de localidades onde se anda muito e trabalha ainda mais. Apesar de todos usarmos o mesmo calendário e relógio, o campo não quer saber disso. Tem os seus ritmos próprios e sabe como é importante.

Quando acontecem estes dramas é logo de atribuir culpas. Nunca foi ninguém, mas foram sempre os outros. Aqui não há inocentes e somos todos culpados. Culpados de sermos desleixados e não querermos saber das coisas, culpados por sermos absolutamente inaptos para tarefas básicas e culpados pela enorme preguiça que dominamos com a maior das facilidades.

Os bombeiros não são culpados, são também as vítimas, porque arriscam as suas vidas para salvar os outros, sem se lembrarem de si e dos seus. Estes homens e mulheres auferem uma ninharia de salário para trabalhar para uma comunidade. Os engravatados dos gabinetes elegantes são pagos a peso de ouro e falam do que não sabem.

Tanta injustiça e tanta falta de respeito é atroz! E agora que se pode fazer pelas pessoas que ficaram sem nada, quase sem elas próprias, porque as suas almas praticamente se consumiram no incêndio? Quem lhes dá a mão? Particulares, um colectivo que se junta e não as autoridades, aqueles que tinham obrigação de o fazer.

Repartir a riqueza de modo equitativo. Balelas que se escrevem em livros e que são repetidas mecanicamente, mas não são sentidas. Porquê? Porque não sabem o que é a realidade, mas sim a teoria que se comenta nas torres de marfim onde tudo acontece lá longe, muito longe, da verdade.

É hora de agir, de não esquecer e de não voltar a arrumar as ideias na gaveta de baixo, juntamente com os botões de punho que já não se usam. De nada servem os estudos e os gabinetes que continuam a ser somente teóricos. É necessário passar à acção, ao muito importante e urgente. É agora e hoje que tudo tem de ser feito!

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