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Os avós

Dizem que o melhor do mundo são as crianças. Ora, diz-se tanta coisa. Quanto a mim o que temos de melhor, além do chocolate negro, amargo, picante e muito saboroso, são os avós, aquelas pessoas já com alguma idade e cheios de boas intenções. Um avô ou uma avó são peças singulares e fundamentais na vida de cada um. São eles que permitem as loucuras dos netos, os desvarios e ficam impunes pelos crimes cometidos.

No entanto esta relação familiar não é nem uniforme nem homogénea. Cada ser é uma entidade única e o estatuto atingido é vivido de modo peculiar. Na verdade existem vários tipos de avó que convêm serem analisados detalhadamente de modo a serem entendidos no seu expoente máximo.

Primeiro grupo: os avós convencionais

São aqueles velhinhos tipo, que moram numa casa grande, cheia de recordações e de inutilidades. Há sempre um agradável cheiro a maçãs e a óleo de cedro. A avó tem o clássico hábito de cozinhar para um batalhão de familiares e gosta de fazer bolos. Ainda não percebeu os malefícios do açucar e diz sempre que se paga o mal que faz pelo bem que sabe. Também faz casacos de malha e gorros. Por vontade dela, no Natal, parecíamos todos da tribo do Wally, o que seria mais fácil para ser encontrado. O avô fuma cachimbo, o que impesta a casa, que nos seu entender a aromatiza. Anda sempre vestido como se ainda fosse para o trabalho e a maior parte das vezes usa gravata. Nunca sabe onde está nada em casa e está constantemente a chamar pela avó. É uma espécie de criança muito grande. Trata os netos como se fossem uns palermas, porque, para ele território de ” crianças ” é areia movediça. Isso é assunto de mulheres. Faz uma enorme distinção entre os netos e as netas e não entende nada do que eles lhe dizem. Insiste um usar bigode, porque homem que é homem, exibe as suas pilosidades com orgulho. No Natal quer sempre oferecer uma boneca às netas, mesmo que elas já tenham mais de 20 anos, e um carrinho a eles. Diz que é para pensarem no futuro.

Segundo tipo: os avós modernos

Para eles o passar dos anos é inevitável e aceitam muito bem. A casa tem uma decoração simples e as janelas estão sempre abertas. Estão sempre cheios de planos para o futuro. A avó vai ao ginásio todos os dias, sai com as amigas, conduz melhor do que o avô e tem uma energia que nunca mais acaba. Trata os netos como pessoas, mas não deixa de lhes fazer algumas vontades e compra, às escondidas do avô, algumas coisitas proibidas. É muito prática e usa sempre calças, porque permitem os movimentos. O avô está ligado às tecnologias e domina a net como ninguém, porque tem imenso tempo para o fazer. Tem actividades com os amigos, como a pesca e as caminhadas, em locais onde não lembra o diabo. Nunca larga as calças de ganga, que são as suas fiéis companheiras. Fazem férias no estrangeiro, com outros casais amigos e divertem-se que se fartam. Os netos são filhos dos filhos e eles que cuidem da sua prole. No Natal dão dinheiro e cada net compra o que quer.

Terceiro grupo: os avós motards

Estes eternos jovens são aficionados das duas rodas e nunca as largam. O carro está cheio de ferrugem, anda de quando em vez, mas a moto é a menina deles. Os amigos deles são todos como eles: vestidos de cabedal, com calças engraçadas e blusões muito velhos. Dizem eles que têm todos histórias. O capacete nunca os larga e, às vezes, entram nos supermercados e centros comerciais, com o capacete na cabeça. Suscitam uma quantidade enorme de risos. Conhecem locais que mais ninguém ouviu falar e têm milhares de fotos que fazem questão de passar para o computador. A avó tem o cabelo preso num rabo de cavalo generoso e já muito grisalho. As botas têm uns saltos estranhos, quadrados e fazem barulho ao passar em certos pisos. Tem uma colecção enorme de lenços que, como ela diz, são para se proteger do vento e das intempéries. Se veste uma saia fica ridícula, porque aquele não é o seu estilo e parece que os joelhos querem sair e ir sozinhos. O avô tem botas texanas, muito gastas e com o salto deformado das travagens. As calças são sempre pretas e o lenço cinzento. O braço direito já está deformado de levar o capacete. A casa deles quase não tem móveis, mas sim peças de motas, por todo o lado. No Natal nunca estão cá, porque andam em viagem.

Quarto grupo: os avós ideais

São aqueles que estão sempre disponíveis quando são precisos. A casa deles é de todos e ainda há um quarto que fica sempre para os netos. Há brinquedos espalhados, mas também tablets e computadores. Os dois cozinham e bem. A avó usa saias de ganga, curtas e compridas, pinta os olhos com vigor e os lábios são sempre coloridos. O cabelo nunca é da mesma cor para não se cansar. O avô não larga a t-shirt e o blusão da ganga.É assim que se sente confortável. Está sempre atento às notícias e nunca deixa escapar uma rapariga bonita na rua. Fica a olhar para ela até a perder de vista. Para ele os homens apreciam as mulheres e o que é bom é para se ver. A avó está-se nas tintas para isso tudo e tem inúmeras actividades: ginásio, cursos de pintura, de línguas, excursões culturais e tudo o que a possa manter ocupada. Têm tudo o que é electrodoméstico e não perdem tempo com inutilidades. Sabem a idade dos netos e o que estudam. No tempo deles era diferente e, por isso, actualizam-se. Sabem sempre quem são os namorados de quem, mas pensam que o segredo é só deles. Técnica que os netos usam para os manter mais domados. No Natal emprestam a casa e todos se juntam para o jantar e o almoço. Têm a série completa do Walking Dead gravada que vêm todos juntos, na noite de Natal.

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