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O sobreiro está a morrer

Quando falamos do sobreiro a primeira imagem que nos vem à cabeça é a cortiça. Orgulhamo-nos em ser o maior produtor mundial, sendo que o sector exporta anualmente o equivalente a 845 milhões de euros e prevê-se que esta margem seja ultrapassada dentro de dois anos para os mil milhões. O segredo é o clima típico do Mediterrânico conjugado com a influência do Oceano Atlântico que impede que os Verões sejam demasiado quentes e que fazem de Portugal um local privilegiado para o crescimento do sobreiro. À primeira vista até parece que sabemos tudo sobre aquela que é considerada, desde 2001, a árvore símbolo do país, mas enganamo-nos. A maioria de nós não imagina que o sobreiro está a morrer e não é um problema recente.

Tudo começou em finais do século XIX, quando começaram a surgir registos de surtos de doenças em Portugal, assim como em Espanha, França, Tunísia e Marrocos. A situação agrava-se nas décadas de 80 e 90, chamando à atenção da comunidade científica europeia e norte-americana que designa o fenómeno de “Declínio”, devido, sobretudo, a um fungo exótico – o Phytophthora cinnamomi. Dentro das áreas afectadas encontravam-se os concelhos de Santiago do Cacém, Grândola e Sines.

Ao que tudo indica, com os avanços da tecnologia, os proprietários (década de 60) começaram a utilizar maquinaria para limpar e tratar do montado (grandes áreas de sobreiro). Um erro fatal. Hoje sabe-se que as máquinas contribuíram para a erosão dos solos e pior, arrastaram consigo fungos que contaminaram a terra adoecendo estas árvores. As secas sucessivas dos últimos anos, que, em muitos casos, originaram em gigantescos incêndios, apenas agravaram o cenário. Foi o caso da Serra do Algarve, em que pelo menos 58 mil hectares foram destruídos e logo na melhor zona de cortiça do país.

Contudo, as razões que têm levado ao lento “declínio” do sobreiro não se restringem apenas a estes dois pontos. Quem não se lembra da construção da barragem de Alqueva, que foi alvo de duras críticas por parte das associações Quercus e Geota por causar o abate de milhares de sobreiros? Em outras zonas do Alentejo foram simplesmente substituídos por plantações de olival e vinha, tudo porque se tratam de sectores mais rentáveis a curto prazo. Se pensamos que a situação tem vindo a melhorar, enganamo-nos. Ainda este ano foi notícia no jornal “i” o aumento de abate ilegal de sobreiros, com as autoridades a multarem 580 madeiros só nestes últimos dois anos. Os Fundos Comunitários também não ajudaram. Quando a Europa começou a dar dinheiro por cada cabeça de gado bovino, causou uma exploração excessiva do montado, levando à sua destruição. Alcácer do Sal, Montemor-o-Novo, Mora e Ponte de Sor foram alguns dos concelhos onde se notou a desmatação.

O sobreiro está a morrer_imagem1No entanto, é a ausência de regeneração verificada na maioria dos povoamentos que mais tem preocupado a comunidade científica, uma vez que coloca em causa a perpetuidade da espécie. Investigadores da Universidade de Évora afirmam que nos últimos 16 anos desapareceram em Portugal três mil hectares de montado por ano. “Uma tendência clara e problemática”, segundo os próprios, quando se sabe que o sobreiro cobre 737 mil hectares do território nacional, o representante de 23% da mancha florestal do país, como confirmam os dados do 6.º Inventário Florestal Nacional – Fevereiro de 2013. Conscientes disso, a Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), sob o título “Os sobreiros estão a morrer”, alerta para a necessidade de se tomar medidas urgentes para inverter a situação num momento em que a produção de cortiça (sobretudo a de qualidade) vai progressivamente decrescendo e a procura se intensifica, devido à produção vinícola.

Ao contrário do que possa pensar a importância do sobreiro não se limita à cortiça. À sua volta cria-se gado bovino, caprino e os famosos porcos pretos alentejanos que se alimentam da bolota. O montado de que faz parte gera riqueza: caça, turismo, valor ambiental. Sendo ainda benéfico para a apicultura, para as plantas aromáticas e medicinais. Tudo em torno de uma só árvore.

Assim sendo, torna-se imperioso conhecer o sobreiro em termos biológicos, não só por representar um “trunfo” importante para a riqueza nacional, mas, sobretudo, pela importância da conservação da biodiversidade. Investigar as causas do seu declínio e promover uma alteração de comportamentos junto dos trabalhadores agrícolas é fundamental para um país que pretende ter uma floresta preservada. É o que está a fazer, por exemplo, o Centro de Biotecnologia e Agroalimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL) desde este ano, ao desenvolver um estudo para descodificar o código genético do sobreiro. Este e outros núcleos de investigação espalhados pelo país devem ser apoiados e a falta de recursos não deve ser justificação. O nosso futuro depende disso.

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