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O que eu nunca te disse

Um dia disseste-me uma frase que até hoje não esqueci: que existem dias de tempestade e dias de pequena chuva. Volta e meia penso nela. Teimo, no meio da minha existência, em persistir numa busca diária de dias de sol. Também têm de fazer parte.

Seja em dias de sol ou de chuva não me esqueço de ti. Ser mãe ou pai é tarefa que não requer esquecimentos. Da mesma forma que é inconcebível deixar de amar um filho, por outra a melhor forma de sermos bons pais é também nos amarmos a nós próprios.

Se a sociedade se amontoa de regras e directrizes para nos guiarem na direcção de sermos bons pais e mães, não existe outra forma de aprendermos a não ser sê-lo na prática, todos os dias.

Por outro lado, nunca te disse que a parte mais difícil é a de manter o equilíbrio: entre ser justa e assertiva, autoritária e permissiva, mostrar-te que te aceito tal como és e que te vejo como um ser completo, com opiniões e mundo próprio. E que, por vezes, muitas vezes até, também se tem de fazer um exercício de humildade e pedir ajuda, nem sempre conseguimos fazer tudo sozinhos.

Olhamos para o lado e perguntamo-nos: estarei a fazer isto bem? Na altura que voares e procurares o teu caminho, vais me procurar, volta e meia, para aquele abraço? As bases que te dou, será que são suficientes? Estou a fazer de ti um ser humano porreiro?

Não sei o que distingue um pai e uma mãe de um não-pai e não-mãe. Sei que sempre te quis presente e agora és a melhor e mais difícil tarefa do mundo. Porque o amor que se sente é tão maior, que não cabe em espaço a definição de grandeza.

Sejam solteiros ou casados, independente da idade, o que cabe nesta tarefa maior do que qualquer outra são as noites mal dormidas, as pequenas proezas que contamos ao mundo inteiro (mas que na verdade só nós nos apercebemos da verdadeira piada), a gana de te defendermos se acharmos que há ataque, o coração a rebentar no peito quando nos apercebemos da verdadeira grandiosidade disto tudo.

E o tempo passa. Os dias se convertem em anos, as piadas e aborrecimentos de hoje convertem-se rapidamente em memórias. No amor mais desprendido de sempre. Porque, na verdade, nunca é nosso.

Digo-te algo em jeito de segredo: muitas vezes choro, porque tenho medo por ti, muitas vezes rio, porque me lembro das nossas alarvidades. Não sei se sou melhor ou pior que ninguém. Percebi que para ser melhor também tenho de te dar o exemplo e mostrar-te que tenho de ser feliz e lutar por mim.

Na verdade, o que eu nunca te disse é que todos os dias ao aprender a ser mãe, aprendo a ser muito melhor. Para ti e para mim.

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