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O poder, no lugar de sempre

Desde a explosão da crise financeira nos Estados Unidos da América (EUA), em 2008, que se ouve e lê a cada canto que o Ocidente está em declínio. Há quem diga por aí que uma nova ordem mundial está a ser montada, sendo a China o seu actor principal. Muitas previsões apontam a mudança do poder do Ocidente para o Oriente, mas será que é realmente isso que se está a passar?

Bancos, empresas e governos caíram. Milhares de pessoas despedidas. Outras tantas não encontram emprego. Casas penhoradas. Cortes. Subidas de impostos. Austeridade. Troika. Fome. Depressão. Greves. Manifestações. Emigração. A Europa e os EUA entraram num ciclo vicioso. O domínio da civilização ocidental tinha, pelos vistos, chegado ao fim, vítima do crescimento económico lento, das dívidas galopantes e de populações envelhecidas.

Seis anos depois, de previsões e mais previsões, o Ocidente continua, surpreendentemente, ou não, com o poder. Robert Wade, professor de economia na London School of Economics não tem dúvidas: “a narrativa comum afirmando que a China e alguns outros países em desenvolvimento ascenderão para desafiar os EUA e outros importantes países ocidentais, acabou por se revelar um exagero”. Para este académico não existem dúvidas – “os EUA e outros países ocidentais continuam a estabelecer a maior parte da agenda governamental mundial económica e financeira, enquanto os grandes países em desenvolvimento têm exercido uma liderança insignificante, até agora”.

DR_opodernolugardesempre_1Um dos sinais dessa continuidade da liderança ocidental verificou-se em 2012, quando os EUA continuaram a presidir o Banco Mundial. Um falhanço total para os países emergentes, que não se conseguiram unir em prol da candidata nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala. Segundo Robert Wade “a história mostra igualmente como a desconfiança mútua entre os países em desenvolvimento torna fácil para os EUA dividi-los em acordos bilaterais”.

A realidade é que desde o rebentamento da crise, os países ocidentais têm-se esforçado para se manterem à frente do comando e têm de facto conseguido. O sucesso deve-se em parte às regras institucionais que colocaram em jogo há décadas. Mesmo assim, não se pode ignorar a incompetência dos restantes países, que não têm sido audazes em imporem e apresentar ideias mais poderosas.

Contudo, este não é o único segredo do Ocidente. Tanto a Europa como os EUA continuam a desfrutar da afluência de mais capital humano, do que outras zonas do globo. Milhares de adolescentes latino-americanos insistem em invadir o território norte-americano à procura de um futuro mais promissor, distante de uma América Central dominada pelo crime e pela pobreza. O mesmo se passa no velho continente. Países como Espanha e Itália debatem-se todos os dias com imigrantes nas suas costas. Apesar de todas as dificuldades vividas nos últimos anos, ambos continuam a ser regiões fortemente atractivas para a emigração. A perspectiva de vida no Ocidente é, apesar de tudo, melhor do que na África, na Ásia e até na América Latina, mesmo depois de imensas pessoas terem regressado para os seus países de origem.

As recentes previsões económicas também são favoráveis. A Zona Euro está a recuperar lentamente de uma séria recessão, prevê-se para este ano (2014) um crescimento de 1,1%. Já para os EUA, as estimativas indicam um desenvolvimento na ordem dos 2,7%. Esperando-se com isto que, em 2014, ambas economias contribuem para o crescimento global com cerca de um terço (em 2013, foi apenas um quarto) e os países emergentes com dois terços.

Apesar do Ocidente ainda se encontrar em primeiro lugar no pódio, precisa de se manter atento. Nunca se pode ter a certeza de nada. A cada dia que passa, existem novas crises a surgir no horizonte. A partilha de África é uma delas, entre a China e os países ocidentais. Aliás, os chineses são já o maior operador de marinha mercante do mundo, em zonas estratégicas como o Médio Oriente e a África Oriental. A adicionar a isto, a multiplicidade de conflitos um pouco por todo o mundo: Gaza, Iraque, Síria, Líbia e Ucrânia, que colocam a todo o momento em perigo a paz mundial.  Quanto a nível económico, o caminho ainda está cheio de espinhos. Nos países ocidentais, os programas de austeridade fiscal continuam em vigor, a procura permanece significativamente baixa – os bancos, as empresas e as pessoas ainda estão a tentar equilibrar as suas contas. Para os especialistas, ainda não é possível ver uma saída para os EUA e para a Europa.

Certo é que o Ocidente não será o mesmo, depois deste terramoto. Tanto a nível económico, como a nível político e social. É possível que o mundo até se torne mais equilibrado, com a China, a Índia e o Brasil a dividirem o poder com os EUA e a Europa. Entretanto, vai-se segurando a hegemonia como se pode, travando a todo o custo a globalização restringindo fortemente o comércio exterior com medidas de proteccionismo, como já se verifica claramente na América.

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