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O Passado ficou e não voltou?

É usual dizer-se que o passado ficou lá atrás. Não deixa de ser uma característica tremendamente humana e que por si só define que a data presente, o hoje, o aqui e agora é a vida que mexe, que realiza e que por enquanto se eterniza. “O passado está lá atrás” carrega connosco uma ideia do que foi e já não é. O amor ganho, conquistado, adornado e perdido. O objetivo tido, assegurado e esquecido. O abraço apertado, sentido, que hoje está foragido. O ontem é uma rede de circuitos e memórias que definem o hoje. Nada está dissociado do que somos, do que fizemos e porque nos alegramos e lamentamos.

O passado serve de espelho do caminho que trilhamos. Vivemos no presente, mas visitamos o passado invariavelmente inúmeras vezes. O passado é uma espécie de mãe, pai, melhor amigo, inimigo público, um conceito de puzzles diferenciados, que juntos formam exatamente aquele que hoje no presente se revê num espelho de si mesmo. Buscamos no passado a ideia de que a aprendizagem tida em momentos de alegria, violência verbal, física, traumas, conceitos de amores e amizades, podem ser e devem ser a chave que abre no presente a nossa caixa de pandora, para efetivamente criarmos uma noção diferenciada daquela que tivemos.

Essa intenção que tantas vezes fica vegetativa apenas na ideia da mudança realça a dificuldade que existe em lidar tanto com o que foi, como com o que é. Há um receio intenso que a conjugação daquilo que passou, se case com a noiva de branco a quem atribuímos uma espécie de senha de atendimento e esperamos que nos livre neste presente do jugo do passado. Reviramos as nossas gavetas completamente cheias de emoções variadas tentando perceber os porquês? Porque foi feito assim? Porque foi dito assim? Porque se amou menos? Porque não se deu mais? Porque demos e não tivemos? Porque acabou e jamais se alterou? Porque nunca se ousou? Quem construiu a esperança e destruiu o sonho? Por quem me sacrifiquei? Que promessa foi feita e sempre desfeita?

Em todas as gavetas vazias existentes no passado ficou a escrita que não fez história. Ficou o livro inacabado. Ficou um beijo por metade. A esperança de um abraço que nunca foi dado. Ficou o amor do “quase”. Quase perfeito, quase assumido e consumido. Ficaram metades de nós e de outros. Ficaram palavras desgovernadas, tentando encontrar ainda hoje o sentido que as coloque na linha correta. Há uma linguagem no passado que não consta dos dicionários. São letras e frases que vivem em perfeita solidão, ainda ansiando e esperando que a junção das mesmas dê um sentido a um silêncio absurdo a que as mesmas foram votadas. O presente de hoje é o passado que aguarda pacientemente a escolha entre a gaveta feita de frases soltas ou o preenchimento das mesmas numa simbiose feita de melodias onde possas vislumbrar o quadro que pintas com todas as cores.

E assim deliciar-te com a ideia de que parte do que fazes é parte do que és. Ainda que descontente, ainda que por linhas e caminhos enviesados não tenhas tido a graça de poderes contemplar na totalidade a simbiose que desejavas. Hoje procuras nessa manta de retalhos e de memórias formas ainda de poder coser todas as feridas que não tem mais salvação.  Não é um perdão que se exija pelo que fizemos ou pelo que por nós foi cometido. É uma linha entre o sofrimento e a angariação de aprendizagem que pronuncia o nome da arte que carregas, que dá pelo nome de vida. Lutas incessantemente pelos “porquês”. Porque não foi feito? Porque não foi dito? Porque não foi delineado, estruturado, combatido, angariado, transformado, realizado?

Porque não fui compensado, amado, desejado, ouvido e requerido? Combatemos o passado vestidos com a nossa armadura de ferro, de espada na mão, combatendo os nossos próprios fantasmas. Não paramos nessa busca, entre a ideia de que será tarde demais para procurar e cedo demais… para desistir…

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