No início, o estilo de Faulkner remeteu-me para o saudosismo da adolescência. Tardes intermináveis de sol e liberdade, onde a pressão escolar colocava, nas mãos de todos nós, a necessidade de descodificar o Memorial de Saramago, Baltasar e Blimunda. Porém, o estilo d’O Intruso de Faulkner apela a uma concentração extrema na leitura – muito mais do que um estilo, claramente diferente e provavelmente único – que não permite o envolvimento do leitor, de forma adequada, nos melhores momentos do pensamento do autor.
O aparente intruso é Lucas, um homem que vive à margem da sociedade sulista dos EUA. Lucas é negro, mas, segundo a população do recanto onde habita, não se comporta como tal. Este tipo de discriminação, lugar comum neste ponto geográfico dos EUA durante demasiado tempo, ganha novas proporções, quando Lucas é acusado de assassínio de um homem de uma família influente na região. No seu papel de narrador, Faulkner conta-nos a história de Lucas por intermédio de Chick, na minha opinião, o verdadeiro intruso, um jovem adolescente que vive fascinado pela opção de vida de Lucas. Este fascínio, inicialmente interpretado através de sentimentos como o ódio e a raiva, cedo se traduz no único motor de ajuda do prisioneiro Lucas.
Faulkner atira-nos para o interior de uma sociedade muito trabalhada em diversos domínios das artes. Neste caso, a sociedade americana, uma sociedade bem peculiar, devido aos seus excessos, mas também pela divisão de opiniões entre norte e sul, no que diz respeito a assuntos estruturantes de uma sociedade. A história é curta para a dimensão do livro e a escrita demasiado peculiar para conseguir um melhor aproveitamento do enredo. Os exercícios de pensamento de Faulkner sobre este tipo de discriminação assumem todo o lado positivo da obra.