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O Exemplo

Portugal é um país pequeno e, dizem, de brandos costumes. Às vezes esses costumes são tão brandos que, ao longo do tempo, vão engrossando e fazendo uma massa que depois é difícil de reduzir, ou de tornar mais fluída. Para mim, esse é o principal problema da máquina política do Estado, nomeadamente na sua ligação com os partidos. No momento em que se discute na Assembleia, fervorosamente, o levantamento da suspensão do pagamento das subvenções vitalícias aos ex-titulares de cargos políticos, esta questão é algo muito pertinente de reflexão.

Em resumo, dois deputados, um do PSD e outro do PS, decidiram levar à Assembleia uma proposta de levantamento das ditas subvenções vitalícias. Deputados do PSD, em revolta, discordando dessa proposta de levantamento, conseguiram o adiamento da votação da proposta e tentam, por diversos meios, impedir que ela siga. O seu argumento é simples, esta acção é um erro, “um insulto”, pois representa muito do que tem afastado os portugueses da política. Eu concordo.

Em Portugal, desde há séculos, a classe política tem tido um conjunto de regalias que não se justificam para um país desde há muito tempo com problemas orçamentais e financeiros. Sim, é verdade que temos muitos palacetes, conventos e afins, mas teremos de os ocupar a todos com gabinetes, institutos e figuras do Estado? Será por uma questão de espaço, ou apenas por uma questão de ego? Ainda esta semana saiu a notícia de que o Presidente da República, Cavaco Silva, após o fim do seu mandato, vai ocupar profissionalmente um gabinete num antigo convento em Alcântara, que vai ser remodelado por pouco menos de meio milhão de euros e que vai servir também o Ministério dos Negócios Estrangeiros. O ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, na remodelação do gabinete que ocupa, gastou 746 mil euros. São estas regalias, constitucionalmente aceites, que nos fazem olhar para o sistema político e desconfiar, duvidar e, cada vez mais, recusá-lo.

O problema não é destes, ou de anteriores políticos, o problema é de todos os anteriores e actuais, mas também de nós, enquanto povo. A política é reflexo de todos nós e, se nós, muitas vezes, preferimos poupar na saúde, ou na comida para ter um carro topo de gama, qual a nossa moral para exigir que os ex-políticos não recebam uma subvenção vitalícia, ou ocupem gabinetes de palacetes, conventos e afins? O exemplo tem de vir de cima, é verdade, mas quem os põe lá “em cima” é quem está cá “em baixo” e isso tem, obrigatoriamente, de nos fazer pensar.

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