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O cancro acha que sou sexy

Então não é que este bicho está cheio de vontade de me andar a apalpar? É um malandro que passa o tempo a assediar-me e a fazer propostas absolutamente indecentes! Eu bem faço ouvidos de mercador, mas ele insiste. Assobia, manda piropos, tira-me as medidas e faz tudo o que está ao seu alcance para me deixar cair na sua teia. Eu continuo a resistir.

Mesmo sabendo que “mulher honrada não tem ouvidos” eu oiço tudo o que ele diz. Parece o cigano a tocar o violino, a dar uma grande música e a fazer-me sonhar com paraísos que só nós é que sabemos. Tenho dias que quase cedo, fico lamechas e toda melosa, como se estivesse em bicos de pés e presa por arames. Depois passa-me. Este outfit de vítima fica sempre apertado debaixo dos braços e dificulta os movimentos.

Sigo novamente no meu caminho, segura e determinada e esqueço tudo o que já ouvi. Nem sempre é fácil, porque as memórias têm tendência a aflorar e a picar os miolos, mas eu faço-me de desentendida. E volta vezes sem conta. Chega a uma altura que começo a ficar muito cansada e tenho que parar. As pernas ficam bambas e trémulas. Sento-me.

Lá volta ele, com aquelas palavrinhas delicodoces que me faz isto e aquilo e que eu vou deixar, porque assim a nossa relação fica mais forte e que seremos unos para sempre, que o nosso relacionamento é um casamento forte e mais parvoeiras deste teor. Fico pensativa e algumas vezes tenho que lhe dar alguma razão. Temos mesmo uma relação da qual não consigo escapar. Não gosto.

A seguir começo a relembrar como tudo começou e como estava desatenta. Como é que estas coisas me acontecem e eu deixo que fique assim, sem mais nem menos? Estaria numa fase mais parvinha do que o costume ou fui, simplesmente, apanhada no meio do acidente e só dei conta quando estava a ser socorrida? Fui um efeito colateral?

O certo é que ele não me larga e está cheio de vontade de assim continuar. Deve pensar que me conquista pelo cansaço, mas está enganado. Eu não quero nada com ele, apesar da sua persistência. Deve ser assim um pouquinho para o sádico, porque gosta de levar pontapés e caneladas.

Então eu dou-lhe com as análises, com as ecos, com todo o tipo de exames para ver se ele percebe que tem que ir embora e mesmo assim o parvalhão continua instalado, sentadinho onde lhe apetece a olhar, com ar e gozo para mim. E deve pensar que eu não percebo. Um estúpido, é o que ele é!

Mesmo quando eu mudo de caminho, de roupa, com cabeleiras para ver se passo despercebida, ele continua a insistir e a piscar o olho. “Oh, jeitosa eu ainda estou a aqui!” E olha para as unhas, muito afiadas, prontinho a espetá-las na carne para fazer doer.

Isto não é amor nem desejo é uma outra coisa que ainda nem tem um nome bem definido. No entanto, incomoda e aborrece a toda a hora. Aquelas garras estão sempre a um milímetro de nos acertar, de deixar marcas profundas e cicatrizes que ficarão para sempre. Mesmo que sejam leves nunca mais vão desaparecer. Sabemos isso muito bem.

Por outro lado, se me quiser abstrair da parte psicológica posso sempre pensar, assim com cabeça de tontinha, que afinal sou muito atraente e cheia de qualquer coisa de excitante que o provoca constantemente. Isso já tem outro valor e sabe bem melhor. Olha, sou sexy e não sabia.

A verdade é que a nossa autoestima é muito importante e não nos devemos sentir um frangalho nem uma coisa, assim toda marada, atirada para um canto e que ninguém quer ver. Nós queremos e somos as maiores! É assim que devemos pensar. Somos e vamos continuar a ser.

Afinal não é só o cancro que acha que sou sexy, são todas as outras pessoas que olham para mim e me invejam. Isto de ter ou não ter cabelo é só uma moda que pode passar. Não é o cabelo que me define, mas a minha essência. No final desta etapa sou muito mais forte e bela! Querem uma aposta?

Sou sexy e nem o sabia. Tinha deixado de olhar para mim, porque me tinha instalado na vida e pensava que estava tudo a ir bem. Esta chapada até me fez algum bem, porque me acordou para a realidade. Era dispensável, mas temos que ver sempre o lado melhor das questões, não é verdade?

Sou sexy, sou mulher, sou forte, sou lutadora e, acima de tudo, sou eu, aquela pessoa única e irrepetível e muito importante para mim. Eu sou a minha maior prioridade e, por isso, continuo a lutar por mim. Sou sexy e agora sei-o!

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