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O Adeus a Álvaro – Parte 1

Quando chegou a Ministro da Economia e do Emprego, em Junho de 2011, com 39 anos, Álvaro Santos Pereira não poderia prever o que os dois anos que esteve à frente do ministério lhe iriam trazer. Constantemente apontado como remodelável, este independente teve os seus dias contados praticamente desde o início do mandato, mas acabou por ser, na verdade, a grande vítima de um sistema político pesado, dominado por estruturas de poder e lobbies.

“Tratem-me por Álvaro”, marcou a primeira intervenção do ex-ministro perante os jornalistas. Acabado de chegar do Canadá, onde foi professor universitário, Álvaro Santos Pereira trazia consigo um lado informal que é mal visto e interpretado entre a classe política portuguesa (e entre a população face aos políticos), sendo automaticamente alvo de gozo e chacota nos media nacionais, assim como entre os comentadores políticos. A esse primeiro acontecimento sucederiam outros famosos que fizeram correr muita tinta e que, desde cedo, fizeram de Santos Pereira uma espécie de alvo a abater. No entanto, quando se tem esse estatuto de alvo a abater, é porque se é mais importante do que se aparenta ser.

Álvaro Santos Pereira não era um total desconhecido dos portugueses antes de chegar ao governo. Os mais atentos reconheceram este nome de diversas intervenções, comentários e artigos em diversos jornais, ao longo de mais de uma década. Embora estando a residir, há muitos anos, fora de Portugal, este economista licenciado pela Universidade de Coimbra sempre foi um espectador atento e interventivo da realidade nacional, tendo inclusivé publicado diversos livros com a sua perspectiva sobre o caminho que Portugal estava a fazer. Foram precisamente as suas intervenções que suscitaram interesse de Passos Coelho e fizeram com que o convidasse para integrar o XIX Governo. Com uma postura muito frontal e directa sobre diversos temas da economia nacional, nomeadamente sobre a reforma da estrutura do Estado, o papel da Educação em Portugal e o caminho em termos de inovação e crescimento económico, esperava-se deste Super-Ministro, assim como de todo o governo, uma espécie de milagre na inversão da escalada recessiva em que o país estava (e ainda está).

Álvaro Santos Pereira - Agência LusaNo entanto, estávamos perante um membro da sociedade civil, professor universitário, que por muito atento e por muitas opiniões e soluções que pudesse ter, não tinha a experiência necessária para lidar com os meandros dos jogos políticos de um mega-ministério com excesso de áreas para tratar e temas muito sensíveis aos lobbies e aos poderes instituídos. A prova disso foi que, ao sair da função, o seu super ministério foi dividido e as suas pastas entregues a três ministérios diferentes.

Podemos tentar escrutinar as diversas razões que fizeram, talvez, da passagem de Álvaro Santos Pereira pelo Ministério da Economia e do Emprego um flop, começando pela apontada no parágrafo anterior, a sua inexperiência política num país onde o peso da estrutura e dos jogos políticos não permitem a entrada de personalidades sem jogo de cintura nesta área. Directamente ligada a esta circunstância, uma má gestão da sua comunicação foi um dos pontos que levaram a que fosse sempre considerado remodelável. Entre as intervenções descontraídas e, aos olhos de muitos, a roçar o idílicas, como foi o caso do cluster dos pastéis de nata, Álvaro Santos Pereira nunca foi capaz de marcar uma posição e mostrar o seu verdadeiro trabalho.

O facto de ter aceite a direcção de um enorme e, nos tempos que correm, muito sensível ministério, levou a que, muitas vezes, a resposta às solicitações das pastas não fosse eficaz, nem em tempo útil. O ex-ministro sempre foi um enorme defensor, ainda antes de assumir o cargo, de diversas reformas no sentido do crescimento económico que, em última instância, permitiriam retomar o desenvolvimento do país, mas nunca conseguiu, de verdade, fazer algo que mostrasse essas suas convicções, encontrando nos lobbies, nomeadamente da energia, inúmeros obstáculos para promover mudanças que considerava essenciais.

(Continua na próxima semana…)

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