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Não és tu, sou eu: Porque é que os Finais são tão Difíceis

É difícil convencer um canal de televisão a apostar numa série de televisão, mas é ainda mais difícil terminar uma correctamente, quando esta atinge o auge da popularidade. Exemplo disso foi a forma como os fãs reagiram este ano ao fim de How I Met Your Mother, ou a falta de consenso em relação ao fim da primeira temporada de True Detective, apesar desta ter conquistado a crítica norte-americana.

Post it mental para os produtores de uma série televisiva: Nunca terminem as séries que produzem, porque nada de bom pode surgir daí.

Brincadeiras à parte, não sou da opinião de que um final de uma série deve agradar aos gregos e aos troianos que a acompanharam, durante os anos em que esteve no ar. Como sou apaixonado por um bom debate, considero-os, na maioria dos casos, revigorantes (pelo menos até a exaustão se apoderar de mim, deixar de acompanhar a guerra de argumentos e abandonar as redes sociais por uns dias). Porém, a verdade é esta: hoje em dia, a televisão é um elemento excepcionalmente vital, variado e interessante para o nosso estilo de vida e acredito que, à medida que as séries vão melhorando, mais difícil se torna criar um final satisfatório para todos os fãs. Criar finais sempre tive dificuldades inerentes, mas, recentemente, estes finais em televisão conseguiram atingir níveis terríveis de exigência e dificuldade. Por essa razão, a minha atitude para com a maioria dos finais de série pode ser resumida a uma única frase – “Por favor, simplesmente não sejas terrível”. Assistir aos finais de temporada, ou de série com esta filosofia permitiu-me apreciar cada um deles com um sabor diferente da maioria das pessoas (apesar de, mesmo assim, ter ficado desapontado com o final de Breaking Bad, que, na minha opinião, foi estruturalmente coeso, mas moralmente evasivo).

Exemplos: de um modo geral, gostei dos finais de Lost e de Battlestar Galactica, porém, como já referi, não gostei muito da forma como Breaking Bad terminou. Contudo, aqui vem o “mas” da questão… apesar disso, adoro qualquer uma das séries. O facto de ver séries há quase 20 anos e de, há 6 anos, acompanhar de perto as reacções aos finais ajudou-me a baixar as expectativas em relação à abordagem criativa que os últimos episódios normalmente têm. Quando começo a ver esses episódios, não espero ser impactado com um episódio digno de um Óscar, mas espero que consiga fechar todas as questões levantadas e que me faça passar uma boa hora, ou duas a vê-los. Afinal de contas, os finais não irão ficar na memória dos espectadores como tendo sido um episódio épico. Na melhor das hipóteses, irá estar no meio de um ranking de episódios, não sendo memorável, nem uma total perda de tempo.

Duas das séries que considero terem sido eximias no modo como decidiram terminar as suas respectivas histórias foram Angel e Six Feet Under, porque souberam fechar todos os arcos narrativos que tinham construído ao longo dos anos e os temas mais significativos para os fãs. Ambas as séries souberam encapsular e desenvolver nos seus derradeiros episódios os pormenores que fizeram dos seus seguidores amantes das séries, ao mesmo tempo que conseguiram colocar os seus personagens em situações com significado e arranjaram formas significativas de expressarem os temas e as ideias que estavam no núcleo das séries. Nenhum dos finais foi apressado, desesperado, nem extremamente elaborado. Foram simplesmente orgânicos e respeitadores em relação a toda a história criada.

O mesmo não se pode aplicar a séries como Dexter e How I Met Your Mother, cujos finais, comparativamente aos restantes episódios, foram diferentes e sem sintonia com a série que havia sido construída até aí, principalmente no que toca ao tema central que as sustentou durante anos. Contudo, a temática é apenas um dos elementos com que os argumentistas têm de lidar, quando uma série chega ao fim, tendo também de lidar com questões estruturais que foram construídas ao longo de vários anos. É o caso dos criadores de How I Met Your Mother que sentiram a necessidade de se prenderem a um elemento narrativo que colocaram no início (a “Tia Robin”) e terem gravado uma cena com os filhos de Ted tão cedo nas gravações da série, mantendo-se, assim, como um dos maiores mistérios televisivos que existe. Eles tiveram muito tempo para desenvolverem um final que fosse mais orgânico e mais enquadrado na narrativa do que aquele que apresentaram, mas, no fim, tenho de concordar com os críticos que disseram que a série teria de ter sido mais rigorosa e disciplinada com o desenvolvimento das personagens, ao longo dos anos. Daí ter considerado o final satisfatório, dentro das muitas voltas que a série deu (lá está… a minha filosofia voltou a funcionar).

Outra armadinha em que muitos finais se vêem presos é na tentativa de colocarem demasiadas linhas narrativas num único episódio. Quando o final de série se aproxima, a maioria dos programas já tem na sua história seis, ou sete temporadas repletas de material e lidar com isso pode tornar-se num grande desafio. Os finais não têm de estar repletos de enredos e cheios de twists. Parte do que fez do final de The Shield tão satisfatório foi o facto da última temporada ter sido utilizada por inteiro para resolver todos os enredos construídos ao longo dos anos, deixando as linhas narrativas com mais força emocional e moral para os últimos dois episódios. O derradeiro episódio tornou-se, desta forma, limpo e cheio de momentos marcantes, sem se sentir que estivesse demasiado cheio de argumentos.

Claro que a fórmula para o final de uma série varia de programa para programa. De certeza que o final de Supernatural, por exemplo, não será capaz de fazer justiça à lealdade que os seus fãs têm tido com a série. Os fãs têm uma longa história com o mundo que a série criou e o melhor que este programa irá conseguir é fazer uma homenagem aos momentos mais importantes de todas as temporadas. Ou seja, independentemente de ser uma série longa, ou curta, uma comédia, ou um drama, os finais assumem sempre a tarefa herculânia de contar o verdadeiro significado que sempre esteve inerente em toda a história da série. Mesmo quando não pretendem dar um grande significado às escolhas e acções feitas pelos personagens, os roteiristas sabem que irão acabar por abordar estas temáticas e é por isso que as conclusões não têm o sucesso que se pretende. Para além disso, muitas vezes quem escreve tem dificuldade de se despedir das personagens que criou (pergunto-me se esta não terá sido uma das razões que levou os criadores de Breaking Bad a serem tão bondosos com Walter White).

A ignorada pela crítica Angel é um dos poucos dramas que terminou repleto de emoção, tanto a nível de tom, como de temática. Existiram cenas complexas a nível emocional, um termino inteligente das principais linhas narrativas e a última cena continua até hoje viva na mente dos fãs. No que toca a cenas finais, a que esteve no último episódio de Six Feet Under não se encontra entre os meus favoritos, apesar de ter gostado do que o final conseguiu fazer pela série num todo. Não foi só uma sequência de eventos excepcionalmente criada (e com uma música maravilhosa), também ajudou a que as pessoas se esquecessem do quão irritante a família Fisher se havia tornado nas últimas temporadas. De um modo surpreendente, olhando agora em retrospectiva, as últimas cenas da série conseguiram igualmente apagar toda a acidez que o programa tinha ganho nas temporadas anteriores.

Com tudo isto dito, reservo para mim o direito de ter a esperança de encontrar um final de série “muito bom”, “decente”, ou “não muito mau”, mas também sei que, algures pelo caminho de espectador de séries televisivas, irei encontrar muitos finais que me irão desiludir e que não terei qualquer problema em partilhar a minha visão sobre isso.

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