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Mobbing, agressão no trabalho

Temos vivido tempos que são consequência de dois ciclos fortemente transformadores das sociedades e com muito significativas consequências no mundo do trabalho. Um, o movimento da globalização, o outro, os programas de austeridade impostos por entidades supra-nacionais.

Se, na vida das pessoas, das famílias e no conjunto de todo um povo, as consequências da globalização e dos programas de austeridade têm sido demasiados impactantes, nem sempre, ou em geral nunca, estando os países preparados para estes ciclos, nos ambientes de trabalho, um outro problema se tem verificado e de forma crescente: a agressão, ou assédio, psicológico a colaboradores e colegas. O mobbing.

Definido como assédio moral e psicológico no trabalho, constitui-se por comportamentos abusivos – gestos, palavras e atitudes – que, pela sua repetição ou persistência, atentam contra a dignidade, a integridade psíquica, ou mesmo física de uma pessoa, colocando em perigo o seu emprego e mesmo a sua carreira profissional e, ainda, degradando o ambiente laboral.

O enorme desequilíbrio entre a oferta e a procura no mercado de trabalho que, quer pelas consequências da globalização, com a redução intensiva das forças de trabalho em empresas internacionais, quer pelas ainda mais devastadoras consequências dos programas de austeridade, tem conduzido ao aumento deste fenómeno, que sempre existiu, mas hoje se torna uma prática já não inconsciente, mas intencional, premeditada e com objectivos concretos.

As causas do mobbing são o sentimento de ciúme e a ameaça que alguém pode constituir por se demonstrar mais capacitado, ou formado, ou o medo de inovação e de mudança que novos elementos podem introduzir num sistema ou num serviço.

Contudo, a austeridade, pela sua pressão no mercado, trouxe outras motivações aos autores de mobbing. A austeridade tem tido no trabalho os reflexos do desequilíbrio artificial e provocado entre oferta de força de trabalho e postos de trabalho disponíveis e, com isso, o aproveitamento pelas empresas e também pelo Estado, no sentido da pressão nas actividades laborais diárias, na volatilidade do posto de trabalho e nas ameaças de despedimento. O aproveitamento, por um conjunto de sensível dimensão, de gestores muito menos interessados em recursos bem qualificados, ou competentes, do que em pessoas com capacidade de resistência e que a tudo se sujeitam para manter um emprego, cada vez pior remunerado e cada vez menos qualificado é cada vez mais frequente.

O mobbing tem sido uma arma banalizada pelos gestores nestes tempos difíceis nos empregos, nas empresas e nos locais de trabalho do Estado – que devia ser exemplo de responsável atitude e de respeito e consideração num ambiente laboral. Porém, esta forma de agressão psicológica não é apenas usada por chefes ou gestores, mas também por colegas e ainda por colaboradores em relação aos seus chefes. É um conjunto de atitudes, palavras e acções praticadas na vertical, ascendente ou descendente, ou horizontalmente entre pessoas ao mesmo nível numa organização. E ainda podem estar envolvidos alguns cúmplices.

O perfil do agressor é alguém habitualmente com problemas pessoais ou familiares, instável mas extrovertida, com frequência um colega invejoso, de ideias fixas, manipulador, que gosta de impor aos outros ideias negativas, gosta de se fazer de vítima, expressa-se e influência com facilidade outros colegas. Não gosta dos colegas que se dedicam, por isso, conspira e influência outros colegas a terem a mesma atitude contra as vítimas, de forma a isolá-los. Actualmente, um agressor com este tipo de perfil usa dos desequilíbrios do mercado de trabalho para servir melhor os seus objectivos de medo e descompensação da vítima, com maior intensidade do que numa situação social normal.

A vítima de mobbing tem tendência a isolar-se e deve, pelo contrário, resistir a esse impulso. Na Função Pública, as vítimas podem procurar, além do isolamento, a saída de um serviço para outro dentro das instituições do Estado, o que é um erro frequente. As vítimas de mobbing são muitas e em geral não identificadas com facilidade, pois sofrem em silêncio e tende a pensar que é única, quando afinal muitos outros colegas podem ser vítimas de outro mobber, ou agressor (em inglês, to mobb, significa agredir).

A vítima é normalmente uma pessoa honesta, trabalhadora, com princípios e valores, características que podem incomodar e assustar os agressores, que se sentem ameaçados em ambiente de trabalho por alguém com valores e qualidades superiores. Os métodos do agressor são diversos e todos legitimados pelos resultados a atingir: fragilizar o colaborador ou colega e levá-lo a sair, a despedir-se, ou a ser despedido. Sempre será substituído por alguém que se deixe sujeitar a esse novo ambiente de forte pressão psicológica, de medo e de volatilidade.

Retirar autonomia, escamotear, ou omitir informações úteis ao desempenho das funções, exigir a apresentação de resultados específicos irrealizáveis em tempo útil e sobrecarregar de tarefas muito para além de qualquer capacidade humana normal. Contestar sistematicamente opiniões e decisões da vítima, criticar de forma injusta, não substanciada e exagerada o seu trabalho. Restringir o acesso a ferramentas facilitadoras de uma tarefa, retirar funções ou tarefas habitualmente atribuídas e constantemente o desequilibrar com novas tarefas ou funções, ou mesmo atribuir-lhe funções superiores à sua formação e competências. Agir de modo a impedir a promoção e provocar atritos com a promoção de colegas menos qualificados, menos preparados ou muito recentemente introduzidos no mesmo sector, ou função no trabalho. Atribuir-lhe deliberadamente tarefas, ou funções impossíveis de desempenhar. Induzir em erro um colaborador ou colega vítima, escolhida para a acção de mobbing.

AB_mobbingagressaonotrabalho_1Atentar contra a dignidade, usando de insultos frente a outros colegas, ou em privado. Usar de difamação, ou instituir uma intriga visando uma vítima. Desacreditar publicamente um colega ou colaborador, interromper constantemente em conversas em ambiente laboral ou em reuniões, evitar qualquer contacto com a vítima e provocar o seu isolamento num local de trabalho são ainda as atitudes mais frequentemente registadas em situações de mobbing.

Algumas destas frequentes acções, que muitos de nós podemos recordar ter ouvido, presenciado ou mesmo sido alvo em alguma função, em algum local de trabalho, empresa ou serviço público.

O agressor pode ser, pois, um chefe ou um colega e o mobbing pode ser também ascendente. A sua acção pode não deixar marcas visíveis a outros, se não for levada às últimas consequências, como a perda do emprego e até a perseguição pós-desemprego. A acção do agressor pode ser muito inteligentemente preparada, com o objectivo concreto de retirar autonomia e restringir capacidades à vítima. O agressor pode ser uma pessoa, ou mesmo um grupo de pessoas. Frequentemente, o agressor tenciona esconder as suas próprias insuficiências e limitações, através das suas acções como mobber.

O medo e insegurança são, com frequência, os factores desencadeadores das acções do agressor, que pretende humilhar e mostrar aos outros, ao invés das suas limitações e inferioridade intelectual, uma superioridade que não tem, perante uma inferioridade que a vítima efectivamente não possui. Pelo contrário, as vítimas são normalmente pessoas educadas, responsáveis e muito capazes em termos profissionais, características que os agressores tentam “roubar”. As atitudes dos agressores pretendem reduzir a auto-estima, infligir a confusão e levar à perda de auto-confiança e à auto-culpabilização.

Pode o agressor falar aos gritos, ameaçar de violência física, mentir deliberada e frequentemente, ignorar problemas de saúde dos agredidos, tentar isolar psíquica e fisicamente a vítima.

As consequências da acção agressiva de mobbing podem ser de foro psicológico ou misto, como a perda de memória, dificuldade de concentração, perturbação do sono, apatia, nervosismo, irritabilidade, agressividade, ataques de raiva, sentimentos de insegurança, inquietação. Do foro fisiológico, ou psicossomático podem surgir pesadelos, perturbações digestivas, dores estomacais e abdominais, diarreias frequentes, náuseas, choro inesperado. Muitos outros sintomas têm sido descritos, no entanto.

A Globalização e agora a Austeridade serviram o interesse destas atitudes violentas de foro psicológico.

A pressão e a ameaça de nunca concretizados processos de intenção ou de processos disciplinares e a sombra negra do desemprego, seguida da perseguição de empresa em empresa, acções frequentes nos agressores que são chefes tem sido muito mais comum do que seria normal, num ambiente de uma sociedade teoricamente civilizada.

Muitas são hoje as vítimas do mobbing e muitas ainda estão em funções laborais, alimentando uma depressão nunca resolvida e sempre servindo pior e tendencialmente a piorar as funções no seu local de trabalho. Muitas mais já chegaram a esse limbo social que um dia entra no anonimato do desemprego e do esquecimento social. Foram vítimas de uma arma de muita violência e foram incapazes de se proteger e de evitar a situação em que se encontram. Muitas atribuem ainda hoje a si mesmas a responsabilidade da sua situação. Tantas e tantas vezes não conseguem regressar a uma vida normal, com ou sem trabalho e não conseguem escapar dessa prisão da sua depressão.

As vítimas de mobbing são uma multidão de pessoas de capacidade normal, ou geralmente, muito acima da média, uma população silenciosa, vítima dos seus agressores e destes tempos e movimentos em ciclos económicos de desequilibrada injustiça. Um crescendo de violência humana e social.

O mobbing não deixa, como se constata, forçosamente sinais exteriores. O desemprego e o isolamento são muitas vezes atribuídos a outras causas, como a incapacidade laboral, ou inadaptação, ou a erros da vítima e não a acções objectivamente perpetradas por um agressor.

Estas acções agressivas, já amplamente tipificadas em várias sociedades evoluídas e legalmente enquadradas, não são ainda na generalidade dos países reconhecidas como um fenómeno que urge enquadrar e enfrentar, para que se evitem danos morais e psicológicos graves, com consequências evidentes na vida de muitas pessoas e na perda de recursos humanos de alto valor.

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