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Grandes Filmes Que Nunca Veremos – Parte 1

A história do cinema está repleta de estórias rocambolescas. Muitas delas ajudaram a criar grandes obras-primas do cinema, outras contribuíram para fracassos facilmente olvidáveis. A indústria de Hollywood, com os seus jogos de poder, corrupção, dinheiro (ou falta dele), batalhas de egos, produtores poderosos, realizadores exigentes ou actores desinspirados, deram azo a conflitos, equívocos, derrotas e demais aventuras. Uma faceta da história do cinema que poucos conhecerão é o facto de ter havido, ao longo das décadas, inúmeros projectos de filmes que nunca saíram do papel. Grandes projectos de filmes de grandes realizadores, que, pelos motivos mais diversos, nunca foram concretizados. É esta faceta que irei desvendar nas próximas linhas.

Orson Welles e Batman

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A HISTÓRIA: Em 1946 Orson Welles tentou realizar uma versão de Batman, uma personagem que tinha nascido em banda desenhada em 1939. O realizador de Citizen Kane era obcecado com a história deste super-herói e queria ser o primeiro a adaptá-la para o grande ecrã (uma década antes de Tim Burton nascer). Para cumprir os seus objectivos, Orson escreveu um guião e contactou com alguns grandes actores da época de ouro de Hollywood para integrar o elenco: George Raft, James Cagney, Basil Rathbone e Marlene Dietrich na pele de Catwoman. Welles queria um Batman negro, denso e violento. A primeira contrariedade veio do estúdio: impingiu a Welles o actor Gregory Peck para fazer de Bruce Wayne/Batman. O realizador finalmente cedeu e ainda filmou algumas cenas com Peck vestido com o traje de Batman. O estúdio não gostou do resultado dessas filmagens, reduziu o orçamento e o projecto acabou por ser cancelado.

CONCLUSÃO: Historicamente sabe-se que Welles gostava do lado negro de Batman, mas a verdade é que nunca tentou adaptá-la ao cinema. A ideia de que Orson Welles queria adaptar este herói de BD é um boato lançado em 2003 pelo autor de “artist novel” Mark Millar num jornal (Comic Book Resources). Rapidamente o boato se espalhou pela Internet e especulações várias surgiram. Até um falso trailer feito por um fã foi publicado no Youtube (está disponível aqui). Seja como for, é difícil de imaginar quão brutal e negra poderia ser a visão de Batman por parte do autor de Touch of Evil.

Robert Bresson e Genesis

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A HISTÓRIA: Em 1963, o cineasta francês Robert Bresson convenceu o produtor italiano Dino de Laurentis a financiar o seu próximo projeto: Genesis (com base no respectivo livro da Bíblia). Adaptar o livro do Génesis era um dos sonhos mais ambiciosos do realizador. A rodagem do filme começou em 1963, em Roma, mas as coisas não correram bem logo desde a primeira semana de trabalho. Dino de Laurentis passava o tempo no set de filmagens, intrometendo-se em todas as cenas filmadas por Bresson. Chegou, inclusive, a interferir em decisões de ordem artística, nas quais não era suposto ter voz activa.

CONCLUSÃO: Cansado da perseguição do produtor italiano (mais habituado a produzir filmes de aventura para grande público do que dramas existenciais), Robert Bresson chateou-se e desistiu do projecto. Depois passou as duas décadas seguintes a tentar levar por diante o seu filme Genesis, através dos seus próprios meios. Em vão. Bresson encontrou sempre pela frente incompreensão e dificuldades financeiras. Na primeira e única semana em que se rodou Genesis, restam algumas sequências filmadas que nunca foram vistas pelo público. Calcula-se que essas sequências estejam esquecidas nalguma caixa forte do produtor italiano. Robert Bresson morreu em 1999, sem ter conseguido concretizar o seu projecto. Dino de Laurentis faleceu em 2010, aos 91 anos.

Alfred Hitchcock e Kaleidoscope

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A HISTÓRIA: Em finais dos anos 60, Alfred Hitchcock debatia-se com um certa falta de inspiração. O seu apogeu artístico tinha sido já alcançado com as obras-primas Psycho (1960) e The Birds (1963). Como forma de se reinventar, o realizador inglês lançou-se no projecto mais negro e violento de sempre, de tal forma que Psycho parecesse uma produção da Disney. Corria o ano de 1971. O mestre do suspense já tinha deixado ao mundo todas as suas obras-primas, mas faltava-lhe fazer Kaleidoscope, um filme que retratava a vida de um serial killer e violador implacável. O próprio Hitchcock, amante do humor negro e dos recantos violentos da mente humana, achava que poderia ser um filme demasiado violento para o público. Kaleidoscope seria um filme brutal com vários assassinatos filmados de forma inovadora (com luz natural) – o actor Michael Caine foi sondado para interpretar o papel do terrível assassino.

CONCLUSÃO: Kaleidoscope nunca viu a luz do dia. O argumento estava escrito, a pré-produção em marcha, mas os estúdios de cinema que iriam financiar o filme – MCA Studios – abortaram o projeto. Razão? O argumento demasiado repulsivo e violento. E assim se perdeu, porventura, uma portentosa obra de Alfred Hitchcock, uma viagem aos abismos mais negros de uma mente psicótica, num filme extremo como o próprio Hitchcock nunca tinha feito.

Stanley Kubrick e Napoleão

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A HISTÓRIA: Stanley Kubrick era totalmente fascinado pela figura histórica de Napoleão Bonaparte. Em 1968, decidiu que o seu próximo projecto seria uma grande biografia do imperador. Para tal, reuniu, na sua colecção privada, durante muitos anos, 20 mil imagens, quinhentos livros e até dados sobre o tempo que fazia no dia da batalha de Waterloo (cortesia da NASA). O realizador falou com Jack Nicholson para interpretar Napoleão e o projecto esteve quase para arrancar – depois de anos de atrasos – através do estúdio Metro Goldwyn Mayer. Dado o extremo perfeccionismo maníaco de Kubrick nas filmagens dos seus filmes, os produtores assustaram-se perante tamanha magnitude do projecto: Kubrick dizia que queria 50 a 70 mil figurantes para os exércitos e 50 personagens históricas, principais e secundárias, em cena.

CONCLUSÃO: O orçamento para filmar este ambicioso filme de Kubrick nunca foi concretizado. Porém, ficou para a posteridade um esboço de argumento com 70 páginas que poderá resultar numa mini-série, realizada para a televisão, por Steven Spielberg. Há uns anos, foi publicado pela Taschen um álbum com fotografias e planos da pré-produção de Napoleão.

Lars von Trier e Holocausto

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A HISTÓRIA: Em finais dos anos 90, o realizador Lars von Trier tinha como projecto central um filme sobre o Holocausto. Os produtores associados ao projecto deram luz verde ao cineasta dinamarquês, mas quiseram conhecer os pormenores do mesmo. Lars von Trier escreveu um guião com todos os detalhes e nele defendeu um hiper-realismo total. Queria impor um conjunto de condições indispensáveis para trabalhar e dar o máximo realismo ao filme: desde logo, a construção de um campo de concentração que seguisse fielmente os planos dos nazis e queria também um período de seis semanas no qual os actores viveriam no campo quase nas mesmas condições extremas que os prisioneiros à época da 2ª Guerra Mundial.

CONCLUSÃO: Obviamente, os produtores ficaram assustados com a megalomania e ousadia do realizador e os actores convidados recusaram trabalhar num filme que exigisse tamanho sacrifício real. Conhecendo a obra do autor de Anticristo só podemos imaginar um filme absolutamente apocalíptico…

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