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Geração Fast Food

Geração Fast Food

Depois de ser lançado o trailer de The Founder (ver abaixo), realizado por John Lee Hancock e protagonizado por Michael Keaton no papel de Ray Kroc, o fundador da mais conhecida marca de fast-food a nível mundial (a McDonald’s), decidimos embarcar numa viagem ao baú indie do cinema americano – não esqueça que começou também mais uma edição do IndieLisboa que se prolonga até dia 1 de maio – com o filme mais polémico da cinematografia de Richard Linklater, realizador de Boyhood: Momentos de uma Vida e de Todos Querem o Mesmo, Geração Fast Food.

https://www.youtube.com/watch?v=hpSRzLUFkN4

Aqui, já tivemos tempo de percorrer Viena com Antes do Amanhecer ao lado de Julie Delpy e Ethan Hawke, o filme pelo qual Linklater fico mais conhecido, e que se fez acompanhar por duas sequelas – Antes do Anoitecer e Antes da Meia-Noite –, embora nunca tivemos oportunidade de abordar um dos seus registos mais peculiares, e que é de longe aquele que mais se afasta do seu estilo, pelo menos para a maioria dos fãs e para crítica especializada. Linklater baseou-se no best-seller Fast Food Nation: The Dark Side of the All-American Meal (2001) escrito pelo investigador e jornalista Eric Schlosser, para recriar o retrato mais anti-americano dos últimos tempos, no sentido em que rompe com o “american way of life” e claro com tudo aquilo de diferente do “american dream“. Cineasta de profunda preocupação com o tempo, Richard Linklater realça desta vez os espaços com as suas subjacentes dimensões sócio-culturais e políticas, como elemento preponderante na construção de personagens. De algum modo os espaços eram já uma dimensão considerada na trilogia Before, com influências de Antonioni e do seu A Aventura no entanto, vemos aqui esse enfoque sobretudo no estabelecimento de diferenças entre os cidadãos de origem americana e os cidadãos de origem mexicana que mesmo em países vizinhos têm uma cultura completamente distinta.

Geração Fast Food

Mesmo antes dessa dualidade, Geração Fast Food (no original Fast Food Nation, prova novamente um daqueles títulos portugueses que alteram o sentido original) é um retrato infalível sobre imagens de marca, sobre os produtos estreitamente divulgados em cartazes e em spot televisivos, tal como nas suas primeiras sequências. Além disso, faz parte do quotidiano o consumo de um hambúrguer do género, algo que está quase que entranhado na nossa maneira de estar, trata-se sem mais nem menos de uma experiência que jamais conseguirá ou poderá ser destruída, muito ao estilo de um dos comentários da personagem Harry Rydell (interpretada por Bruce Willis, numa participação curta mais interessante): “Por ano 40 000 pessoas morrem em acidentes de viação, não podemos deixar de fabricar automóveis” ou “de vez em quando todos nós temos que engolir um pouco de m****”. Pode-se considerar a situação do fabrico de hambúrgueres idêntica, sobretudo quando descobrimos que a marca Mickey’s não tem qualquer cuidado com os seus alimentos que são compostos por m**** das vacas. Sim, é bem verdade o que está a pensar.

Geração Fast Food

Para sermos mais exactos, e um quanto irónicos, Fast Food Nation segue a vida de The Big One, o mais recente hambúrguer da cadeia de “fast food” Mickey”s, que está à beira de se tornar no produto mais bem sucedido de sempre. Entretanto, vamos assistindo ao seu processo de ‘formação’, desde as pessoas responsáveis por criar os animais até aos matadores (onde trabalham na sua maioria imigrantes ilegais), sem esquecer os jovens adolescentes que trabalham ao balcão da cadeia de restaurantes para conseguir uns trocos e seguir rumo para a faculdade. São estas pequenas estórias, tramas paralelas que remetem a outros projectos do cineasta como Slacker (1991) e Waking Life (2001), que se vão intercalando para mostrar uma realidade próxima a todos nós e que num início até poderia ter um potencial protagonista, o diretor de marketing da Mickey’s, interpretado pelo sempre extraordinário Greg Kinnear. É ele o responsável pelo trabalho de investigação em torno da problemática e que inesperadamente emerge como o ousado american guy que decide enfrentar, mesmo sob pressão das outras tantas cooperativas, o facto, mesmo que no final a situação não se resolva, mais um exemplo dos dilemas da vida.

Similarmente encontra-se nesta personagem, pai de família, um reflexo da preocupação das grandes cadeias alimentares com o potencial prejuízo da sua imagem, vejamos como a McDonald’s por exemplo aquando da estreia do filme no Festival de Cannes anunciou que iria dar a conhecer todo o processo de fabrico dos seus alimentos, o que de certo modo revela os impactos deste filme. Quer dizer, entre tantos impactos não é que Fast Food Nation tenha sido um enorme sucesso do ponto de vista comercial, aliás os resultados nas bilheteiras americanos foram miseráveis (apenas um milhão de dólares em todo o país), mesmo assim chama a atenção para uma temática, o que só por isso não deixa de ser um dos mais interessantes estudos das relações humanas.

De referir inclusive o cuidado de Linklater nos diálogos e aparições de outros dois actores muito admirados por este, Ethan Hawke e Patricia Arquette, que trabalham com o cineasta em Boyhood. Sem esquecer que Linklater não faz um documentário, apenas documenta numa fórmula narrativa que lhe é própria, fazendo-nos questionar: será que deveremos comer carne?

Geração Fast Food
poster do filme

Ficha técnica
Ano de Produção: 2006/ Título português: Geração Fast Food/ Título original: Fast Food Nation/ Realizador: Richard Linklater / Argumento: Eric Schlosser & Richard Linklater/ Elenco: Patricia Arquette, Greg Kinnear, Kris Kristofferson, Wilmer Valderrama, Catalina Sandino Moreno, Ana Claudia Talancón e Ethan Hawke/ Música: Friends of Dean Martinez/ Duração: 116 minutos

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