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Filho és, pai serás

Enquanto nos divertimos com as dívidas à Segurança Social do Primeiro-Ministro, com o testamento político de Cavaco e com as questões da Grécia com a União Europeia, a realidade do mundo que nos rodeia continua, a cada dia, a passar-nos ao lado. Esta semana, a Grande Reportagem da SIC trouxe-nos mais uma faceta triste e feia da nossa sociedade, a agressão a idosos pelos próprios familiares, nomeadamente os filhos.

Tais casos, que todos nós conhecemos, mais próximos ou mais afastados de nós, no nosso prédio, na nossa rua, ou mesmo na nossa família, são reflexo do egoísmo e do materialismo que vivemos. Muitos podem dizer que a culpa é do estado a que o país chegou, da falta de emprego, da falta de dinheiro e de inúmeras outras coisas vindas de fora, mas isso é apenas uma parcela muito pequena de todo o problema.

A nossa sociedade, nos últimos anos, e este não é apenas um problema português, mas sim de grande parte do mundo ocidental, passou a dar mais importância às posses, aos bens, ao que mostra, do que às relações interpessoais, ao respeito pelo próximo, à comunidade e à entreajuda. Vivemos em prédios cheios de gente que não conhecemos e até preferimos passar despercebidos na escada, ou no elevador. Somos apenas mais um sisudo, agarrado ao telemóvel, de auscultadores nos ouvidos, a passar rapidamente na rua em direcção a um lado qualquer, sem esboçar um sorriso, sem observar o mundo que o rodeia. Queixamo-nos que somos tratados como números pelo Estado, pelas empresas, pelos hospitais e por outros organismos, mas, na realidade, fomos nós que nos colocámos nessa mesma condição.

O egoísmo, o egocentrismo e o materialismo que tão alimentados foram nas últimas décadas, nomeadamente através duma competição ridícula entre pessoas que têm coisas tão diferentes e tão únicas para dar, colocaram-nos numa postura cega perante o mundo, acreditando que somos apenas um grão de areia, mas que temos a possibilidade de chegar a algum lado na vida. Para isso, só precisamos de ganhar muito dinheiro, de sermos bem-sucedidos num cargo de destaque, de ter o carro daquela marca ou da outra, de morar numa casa comprada num crédito que carregaremos para o resto da vida, com tantas comodidades de que não usamos nem metade, até porque maioritariamente só lá vamos dormir.

No entanto, quando nos confrontamos com as mudanças de paradigma como a que estamos a viver, com as estruturas em queda e em ruptura, tudo isso já não serve para nada e revoltamo-nos com o mundo, colocando as culpas naqueles que, na nossa mente, são mais fáceis de manipular, aqueles que, na realidade, de uma forma ou de outra, melhor ou pior, com dificuldades, mas também com entrega e dedicação, deram de si para que pudéssemos ter as oportunidades que eles não tiveram. Como sempre, é mais fácil culpar os outros do que nos colocarmos em causa, compreendermos a vida que construímos e que apenas recebemos aquilo que plantamos.

Poderão dizer que muitos pais foram ausentes, precisamente para poderem dar aos filhos essas condições, que muitos pais nem sequer amaram os seus filhos e muitos outros os maltrataram. Poderão também dizer que muitos nem sequer souberam ser pais e outros ainda abandonaram os seus filhos. Olhemos a nossa própria realidade, não estaremos nós a cometer os mesmos erros de que acusam os nossos próprios progenitores? Filho és, pai serás, bem diz o ditado.

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