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Diz-me com quem falas, dir-te-ei quem és

Comunicar. Uma palavra tão simples e acessível e ao mesmo tempo tão complexa. Complexa, porque abrange um leque variadíssimo de ações e formas de o fazer. Afinal o que é comunicar? Podemos dizer que comunicamos, quando trocamos informações? É obrigatório haver pelo menos duas pessoas no acto comunicativo? Se estiver sozinho, a pensar, comunico? Se leio um livro, comunico? Só comunicamos no presente, ou podemos comunicar cruzando o tempo? Quando lemos Saramago, ou Dostoevski será que estamos num processo comunicativo?

Comunicamos desde sempre e, neste processo, claro está que falar é a forma mais óbvia. Porém, será que transmitimos o que sentimos, ou o que queremos dizer só pelas palavras? Então e os desenhos, as fotografias, as músicas – mesmo sem palavras, os sorrisos e as lágrimas, os gestos, as mimicas… ou seja, tudo. Podemos falar através das coisas menos óbvias?

Desde cedo, o homem sentiu a necessidade de se relacionar com os outros, a necessidade de trocar informações do seu dia-a-dia, mas também conhecimentos. A sociedade foi-se construindo baseada na comunicação. Desde os gestos aos grunhidos, passando por palavras, pinturas, até que, em meados do século XV, a invenção da tipografia permitiu-nos comunicar atravessando o tempo e com interlocutores desconhecidos. Porém, quem tinha acesso a estes meios (imprensa, pinturas…) era só uma parte da população – a população com maior poder económico e com conhecimentos para descodificar aquilo que era transmitido. A classe mais baixa sempre o fez apelando aos meios mais básicos e acessíveis, sendo, por isso, que a comunicação face a face foi sempre a mais utilizada ao longo dos séculos. Hoje em dia, ainda apelamos a este meio diariamente, quando falamos com familiares, amigos, desconhecidos, mas, cada vez mais, esta forma de comunicação é substituída pelo novo fenómeno que atravessa o nosso século – a Internet, ou, mais precisamente, as redes sociais, que mudaram a nossa forma de comunicar. A mesma comunicação que anteriormente nos obrigava quase a partilhar um espaço físico com a outra pessoa, agora é realizada à distância.

Não podemos afirmar que o fenómeno é novo. As cartas, mais tarde o telefone, desempenharam um papel pioneiro, mas, com o surgimento da Internet e da acessibilidade cada vez maior destes meios, a rapidez e o baixo custo, revolucionaram a comunicação no século XXI. Desde uma mensagem, ou até centenas delas, com amigos ou pessoas mais chegadas a nós, até uma troca de comentários com pessoas completamente desconhecidas. Podemos comparar este fenómeno a uma conversa de café, onde se discute um assunto de interesse público e todos participam, dando a sua opinião e ouvem o que os outros têm a dizer. Não precisam de se conhecerem, estão lá, seja porque é o café onde vão habitualmente, seja porque entraram lá por acaso para tomar o seu café diário. Uma conversa de café onde cada interveniente tem o seu espaço: em casa, à frente do seu computador, num banco de jardim, com o seu tablet, ou mesmo nas aulas, ou no trabalho, com o telemóvel, que com um simples clique leva-nos a uma nova discussão em que também podemos participar. No entanto, se o café tem um espaço limitado, o mundo virtual não. A pessoa com quem comunico tanto pode estar do outro lado da rua, como pode estar noutro país, noutro continente, com uma cultura e uma realidade completamente diferente àquela a que estamos a ver fora da nossa janela.

São conversas que podem ter milhares de participantes. São conversas poderosas. Quem não se lembra da Primavera Árabe? Das manifestações do Brasil? Ou mesmo das manifestações que ocorreram no final de 2012, em Portugal, onde, em apenas uma semana, convocou-se um milhão e meio de pessoas, em 40 cidades diferentes, estimando-se que 600 mil pessoas saíram às ruas, criando-se, assim, numa das maiores manifestações do nosso país.

Como estes exemplos demonstram, a Internet deu voz aos desconhecidos. Para o psicanalista Carlos Amaral Dias, as redes sociais “ampliam o conceito de cidadania”, visto que aumentam a liberdade de expressão. Amaral Dias, catedrático na Universidade de Coimbra, complementa afirmando que a “igualdade entre as pessoas é muito maior” nas redes sociais virtuais, ao “unir mais facilmente as pessoas.” Contudo, apesar desse poder todo, desta democratização, esta nova forma de comunicar não substitui aquilo que fazemos desde sempre: estar juntos dos outros, quando queremos transmitir uma mensagem. Mesmo que estas manifestações sejam planeadas nas redes sociais, as pessoas foram lá, junto de outros tantos indivíduos para mostrar o seu descontentamento. Têm mais força. Foi uma presença física, porque, por muito que estas redes melhorem o nosso dia-a-dia, nunca substituirão aquilo que o contacto pessoal provoca. Por muito forte que uma mensagem escrita seja, nunca vai substituir um aglomerado de pessoas a lutar pelo mesmo objectivo.

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