A minha memória mais nítida dos dias que se antecederam ao referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia é de dizer que, por muito engraçado que fosse a saída, provavelmente não ia acontecer. Quando, no dia a seguir ao referendo, acordei e vi as várias notificações a informarem-me que o Brexit era agora uma realidade, fiquei bastante contente. Como não ficar? Para euro-céptico convicto como eu, era o equivalente ao dia de Natal. Pouco tempo depois houve, pela Europa, uma vaga de pessoas e partidos a reclamarem a saída dos seus países da União Europeia, sendo o caso mais visível o da Holanda e de Franca com as eleições legislativas e presidenciais. Curiosamente em Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia, essas vozes, pouca ou nenhuma expressão tiveram, mas e se esses 4 países decidissem sair da União Europeia?
Se o Brexit é indicação de alguma coisa, é que a União Europeia tem medo que os seus Estados-membros, pensem sequer em, quanto mais decidam abandonar a União. Prova disso têm sido as constantes tentativas de humilhar o Reino Unido após o voto de saída, num sistema de coação organizado, destinado a gerar o medo nos restantes países-membros. Porém e se Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia tivessem coragem de se levantar e sair? Ficariam em melhor ou em pior situação do que já estão actualmente? Inicialmente, é obvio que iriam ficar em pior situação. Estando fora da União Europeia, seria natural que estivessem fora do Espaço Schengen, do mercado livre e acima de tudo da Zona Euro. Várias pequenas empresas seriam obrigadas a fechar as portas ou a vender as operações, uma vez que a grande maioria dos negócios das mesmas é feito com países-membros da União Europeia. Veríamos os fundos europeus a desaparecer e, muito provavelmente, veríamos os défices dos 4 países a crescer para níveis quase incomportáveis, com a possibilidade de novos resgates no pós-saída. As estimativas conservadoras apontam para um período entre os 10 e os 35 anos, dependendo do país, apenas para chegar aos níveis em que os 4 países estão hoje.
No entanto, seria esse cenário tão terrível? Estando fora da União Europeia, os 4 países seriam obrigados a voltar a sua moeda original nomeadamente o Escudo, a Peseta, a Libra Irlandesa e o Dracma, o que lhes permitiria usarem a desvalorização da moeda como “arma” contra a União Europeia e tornar-se-ia mais favorável vender a um destes países do que aos restantes da União Europeia. Teriam também a sua soberania reposta na totalidade, uma vez que quando se entra para a União, é-se forçado a entregar parte da soberania do País. Os quatro países voltariam a ser senhores dos seus Destinos e deixariam de ter de obedecer cegamente a Bruxelas. Nos 4 países visados, são tidos como dos melhores destinos de turismo, ver-se-ia um aumento do mesmo provocado pelos preços mais baixos das estadias e veríamos os produtores agrícolas e silvícolas poderiam finalmente começar a produzir a 100% uma vez que as quotas europeias não teriam de ser cumpridas.
Infelizmente, este cenário é utópico. Sejamos realistas, nem Portugal, nem Espanha estão em condições financeiras ou económicas de sair. Em Portugal, não há um superavit desde a década de 40 e actualmente a Taxa de Desemprego encontra-se nos 9%, Espanha está ligeiramente melhor que Portugal, mas não muito. A Grécia é considerada a ovelha negra da família europeia e a União Europeia não iria permitir a saída e a Irlanda já percebeu que está melhor dentro do que fora da UE. E mesmo que estes 4 países estivessem em condições plenas de sair da União Europeia (superavit ou défice 0 e emprego pleno), seria completamente estúpido sair, uma vez que, por muito má que seja a situação europeia neste momento e que sejam necessárias reformas profundas, é melhor ter uma voz pequena dentro da União do que nem sequer ter voz.