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Damien Rice: um guilty pleasure que calha sempre bem

Há pouco, enquanto lavava a louça, o rádio tocava no fundo da cozinha. Contudo, de um momento para o outro, a distância entre mim e as ondas hertzianas diminuiu de forma sagaz. Uma melodia que há muito não escutava, no meio de uma voz que cantava poesia, fez-me sorrir. Sem saber, tinha saudades daquele som. Foi quase uma sensação de dé jà vu, porque este exacto sentimento, com a mesma reacção, já fora provocado vezes sem conta pela mesma fonte.

É assim a minha relação com o Damien Rice. De vez em quando, ele aparece na minha vida. Não sei se acontece sempre em momentos chatos como aqueles que estou a lavar a louça, mas sei que dá cor ao contexto. É uma sensação de guilty pleasure que é boa. Tão boa que o mais certo é, nos momentos ou dias seguintes, passar algum tempo a descobrir músicas da voz irlandesa, que me traz aquele misto de revolta e harmonia. Até porque a rádio teima em passar sempre a mesma canção…

Pensaram em “The Blower’s Daughter”? Claro. O tema fez parte do álbum “O”, de 2002, que vendeu mais de 20 mil cópias nesse ano e que, no total, ultrapassou os dois milhões de unidades compradas. Entrou no drama “Closer”, tem uns laivos de romance e é a música mais conhecida de Rice. Uma melodia que poderia cair num cliché de paixão e perda conseguiu um lugar próprio, com um lado negro projetado por uma tríplice certeira de acordes, voz e energia.

Nunca assisti a um concerto de Damien Rice, mas o mais comum é as reportagens, os fãs e os críticos apontarem precisamente para o poder que esse trio tem por si só. Dizem por aí que, no palco, Rice é um “showman”. Quando a rádio ou a Internet o trazem até mim, confirmo a certeza de que ele preenche o espaço.

Nem sempre o fez sozinho. No início dos anos 90, o músico formou uma banda com outros três colegas. Os Juniper passaram por bares e, quando o guitarrista Dave Geraghty se juntou ao quarteto, assinaram um contrato com a editora PolyGram.

Contudo, reza a lenda que Damien se queria desprender das amarras dos acordos editoriais. Qual miúdo revoltado com o sistema, partiu para a Itália em busca de liberdade. Na Toscana, tocou na rua e, depois de alguns anos a recarregar baterias, voltou à Irlanda. Foi então que gravou “O”, na simplicidade de um estúdio caseiro.

De tempos a tempos, o músico foge dos média. Foi preciso esperar oito anos entre o álbum “9” e o “My Favourite Faded Fantasy”. Durante esse período, Damien Rice viveu na Islândia e pensou em deixar de fazer música.

Fugas e momentos de melancolia assim criam uma aura de mistério que reforça o estereótipo de artista inconformado. Talvez seja este turbilhão que dá um toque de fantasia ao modo como o vejo e sinto a sua música. E, no meio de tanta confusão, redefinição pessoal e incerteza, resta-me o padrão experienciado que me diz que, de vez em quando, a rádio lá me trará a música do irlandês cujas composições soam a poesia.

Agora, se me dão licença, vou dar aos ouvidos de uma mescla de revolta e harmonia. Acho que a “9 Crimes” é um bom começo. Que dizem?

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