Viver numa relação pode provocar em nós a vontade de nos renunciarmos ao outro, anulando a nossa própria essência. Anularmo-nos perante outrem, numa tentativa desesperada de sermos amados, é muito perigoso porque implica que a pessoa que está ao nosso lado não nos conheça. Se lhe mostramos que gostamos de chocolate (quando não gostamos), a pessoa que está ao nosso lado irá achar, com toda a legitimidade, que gostamos de chocolate.
Se nos calarmos quando nos diz algo que não gostamos de ouvir, tentando ao máximo evitar discussões, estamos a criar naquela pessoa a impressão de que estamos bem e que não discutimos porque a situação não nos afetou realmente. Se, pelo contrário, ripostarmos, dizendo aquilo que efetivamente pensamos, a pessoa tomará consciência da nossa posição e, se nos amar realmente, respeitará o nosso lado.
Sempre que calamos o que estamos a pensar, por medo de gerar discussões ou conflitos, estamos a negligenciar a importância dos nossos próprios sentimentos. E, ao fazermos isso, damos aos outros livre passe para também eles nos negligenciarem.
Viver a dois não é fácil, mas o mais importante é respeitarmos e sermos respeitados. Se, ao invés de nos autoanularmos, soubermos impor os nossos pontos de vista, as nossas vontades e os nossos desejos, haverá uma maior harmonia e um maior conhecimento e entendimento do outro e de nós próprios.
Somos pessoas e, como tal, precisamos da liberdade de sermos nós próprios, sem amarras nem limitações. Viver a dois requer respeito pelo outro e por tudo o que o caracteriza e, também, a capacidade de nos fazermos ouvir, de ouvirmos o outro e de encontrarmos um equilíbrio saudável entre as duas partes que participam neste jogo que é uma relação.