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As Pedras da Calçada

Em Outubro de 2013, quando iniciei este espaço de crónica, o mundo vivia alguns desafios fortes, começando-se a desenhar muito do que hoje, feliz e infelizmente, estamos a ver. Decidi chamar-lhe “As Pedras da Calçada”, não só por ser um admirador de calçadas, um fã de caminhos e trilhos, mas também por todo o simbolismo que tais coisas nos apresentam.

Muitos dos passeios que pisamos já cá estavam antes de nascermos e muitos ficarão depois de morrermos. Foram remexidos, mudados de sítio, virados ao contrário, quebrados e recolocados, mas cada uma das suas pedras tem mais história, em termos de tempo, do que nós. Este simples facto, esta simples percepção, devia criar-nos um pouco mais de humildade, lembrar-nos da efemeridade do ser humano e da eternidade dos actos, dos exemplos, dos legados que deixamos, pois é isso que, verdadeiramente, nós deixamos. Isso e pedras da calçada que nos contam histórias.

O mundo que vivemos está em convulsão, em profunda mudança, está a pedir de cada um de nós que se recorde que, no final, assim como no início, nada somos para além do que deixamos e, no fundo, essa é a grande questão que devemos fazer. Afinal, o que estamos a criar e como o estamos a fazer? O que estamos a deixar para o futuro, para aqueles que virão depois de nós? No referendo que se realizou no Reino Unido, maior parte dos jovens queriam permanecer na União Europeia, mas foram vencidos pelos mais velhos, que na sua maioria querem fazer valer velhos nacionalismos. Olhamos muito facilmente o nosso umbigo e esquecemos que existe vida para além da nossa.

É interessante como a história nos mostra os caminhos e a forma como deles nos desviamos. O sonho do Império Romano era ligar o mundo todo até ao centro, Roma, através das bem conhecidas estradas, com o domínio total e absoluto de todos os territórios, da Ibéria à Bretanha, da Germânia ao Norte de África, até ao Oriente. O egoísmo levou à divisão, à separação, à quebra do império e ao surgimento das nacionalidades, daí aos nacionalismos e ao proteccionismo foi um pequeno passo, à supremacia de uns perante os outros, à efusão de novos egos, mais perigosos, pois agora partiam do pressuposto da posse, do território, do orgulho nacional.

O mundo desenvolveu-se e encontrou outros desafios. Acredito que irá encontrar muitos outros no futuro, que lhe levarão a uma realidade muito premente, a da compreensão de que os nacionalismos têm de dar lugar à união, que cada um pode e deve ser ele mesmo, mas que nunca se pode esquecer que não é, de todo, uma ilha isolada, que necessita de todos para que possa crescer e dar aos outros a sua individualidade, a sua unicidade, e assim também permitir que os outros cresçam. Enquanto não percebermos que quando permitimos que os outros cresçam e se desenvolvam no que de melhor têm, na sua individualidade, ao mesmo tempo que fazemos o mesmo em nós, crescemos todos e deixamos de ter medo que nos tirem algo que, na realidade, nunca foi nosso. Esse, acredito, é o caminho da humanidade, o da unidade com a diversidade, o da diversidade que permite a verdadeira união.

As pedras da calçada mostram-nos que umas com as outras, em perfeita união, sem colas ou mais artimanhas, criam um chão, criam um caminho, criam uma base. Cada uma destaca-se, cada uma tem o seu lugar, e todas são necessárias. Quando uma salta, rapidamente outras saltam também, o chão torna-se instável e os buracos surgem, pois a coesão que antes existia, desapareceu. Da mesma forma, hoje precisamos de compreender que o mundo precisa de união e não de diferença, precisa de esforço conjunto e não de mais separação, precisa de mais identidade e menos egocentrismo, precisa de mais amor e menos apego, pois só assim conseguimos, cada um de nós, com o nosso legado, construir o caminho para que a verdadeira humanidade possa crescer e desenvolver-se, melhorando-se, elevando-se.

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