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Ainda que todos eu não

O termo “populista” foi sempre utilizado com um tom depreciativo para classificar um discurso demagógico, dirigido às “massas”, geralmente (nem sempre), com intuito eleitoralista de obter o apreço e o apoio de uma maioria.

De facto, ser “likeable” e saber o que o público-alvo do discurso quer ouvir é tido como característica essencial de um líder carismático. O triunfo da forma muitas vezes à custa do conteúdo.

O nosso presidente da República a título de exemplo, o político com maiores índices de popularidade do país, podíamos passar horas a ouvi-lo, já foi elogiado por ser populista e já foi criticado por ser populista. Pois ter uma politica de “afectos” e proximidade com a população é bom, muito bom até, em dose q.b., mas quando levada ao extremo, i.e., no momento em que passa de ser intrínseco ao seu modo de estar na politica e passa a ser uma atitude propositada para manter a aceitação dos seus pares e ímpares, é… mau… muito mau.

Por outro lado, veja-se a governação dura de Pedro Passos Coelho. Não teve tempo para afectos ou populismos. Tinha um país mergulhado em profunda crise para governar sob as algemas invisíveis da Troika. Como manter elevados índices de popularidade, quando todos os meses tinha que anunciar medidas que tanto tinham de difíceis como de necessárias? Como gerar consensos, quando era tão fácil (e ao mesmo tempo tão despudorado) fazer oposição?

Mesmo assim foi reeleito (ainda que não governe), provando que os portugueses compreenderam a inevitabilidade das medidas e confiaram nele para continuar ao leme do país e para ajudar naquela altura já a reergue-lo. O melhor discurso que o vi fazer foi o da sua despedida em sede do congresso nacional do PSD em que tomou posse Rui Rio.

Actualmente, tanto o Bloco de Esquerda como o Partido Comunista aprovam orçamentos que contêm medidas reprováveis à luz das respectivas ideologias. Em muitas situações durante o mandato traíram o seu eleitorado para viabilizar o governo. Mantendo o discurso (bonito) teórico e contestando esse mesmo discurso na prática. Não é isso demagogia no seu estado mais puro?

Virando novamente à Direita, Manuela Moura Guedes disse recentemente na sua rúbrica de comentário “A Procuradora”, a propósito do conselho nacional extraordinário do PSD, que Rui Rio tinha o carisma de um brócolo.  Sem tecer aqui considerações sobre a metáfora escolhida para se referir ao presidente de um partido, comentários destes mostram que o dom da palavra ainda é privilegiado. Mesmo para uma pessoa que criticou ferozmente uma das pessoas mais carismáticas deste país no que concerne a discursos: José Sócrates.

No entanto, o que é certo é que Rui Rio sem o carisma de um político típico, com uma postura que não estamos habituados a ver num líder da oposição e tendo como uma das suas frases favoritas “ainda que todos eu não” é – ainda – candidato a primeiro-ministro deste país.

Poderá ser este um caso de “primeiro estranha-se depois entranha-se”?  À frente de uma das principais camaras municipais do país, Rui Rio demonstrou por diversas vezes que consegue ser bem inflamado, quando quer. E assertivo. Fiel às suas convicções. Disse que o ia ser da mesma forma à frente do PSD e do país assim lá chegue.

Dificilmente vemos este tipo de política acontecer no panorama actual. As pressões são muitas. Dos que não gostam, dos que gostam mas que temem, dos que fingem gostar mas não gostam (estes talvez os mais perigosos). Há as alianças necessárias. As trocas de favores. O “toma lá dá cá”. E subitamente o político já não é livre.

Querer a aprovação dos que rodeiam, angariar eleitores e estabelecer acordos – ou até pactos de paz podre- não é, diga-se, uma característica negativa. É salutar. Faz parte.

O que é negativo é fazer política, seja local, nacional ou internacional só em prol do eleitorado e do que estes querem ouvir, ou por temer a reprovação, ou para não contrariar ou perturbar os colegas de partido – ou de gerigonça. Até para não comprometer actuais e futuras alianças. Ou para compensar favores. Ou para manter as selfies.

“Ainda que todos, eu não” é um bom mote. De Homem livre.

Nada populista.

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