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Ai o caraças!

Ela estava perdidamente apaixonada por ele. Na sua cabeça era ele a toda a hora, a qualquer hora, de hora a hora, ora, ora, era a hora de se lembrar dele. Era lindo, alto, atlético, com o corpo perfeito, definido, trabalhado e um sorriso de deixar qualquer uma sem fôlego.

Quando ela o conheceu o coração saltou-lhe até à boca. Meu Deus! Que gajo bom! Podre de bom! O pior é que o resto do corpo começou a olhar também para ele e uma súbita atracção fez com que o abordasse. Ele pareceu surpreso, mas sorriu-lhe, com um olhar límpido e convencido (tipo, eu sou bom e sei isso!). Não lhe saía nenhuma palavra e, quando conseguiu articular alguma coisa, veio disparado o “Olá, tás bom?”, que não tinha ensaiado.

Uma coisa leva à outra e ele não era homem de deixar escapar uma oportunidade. Não tardou que fossem sair, numa noite em que tudo podia acontecer. E aconteceu. Quando ela deu por isso, estavam na cama dele, enrolados no lençol como uma salsicha em couve lombarda.

Oh! What a night! Os corpos entenderam-se e desejaram-se, completaram-se e extasiaram-se. Foi perfeito. Sem compromisso, uma noite. Simplesmente aquela. No dia seguinte, cada um ia à sua vida. Era assim que ele estava habituado e não havia motivo para ser diferente.

De manhã, os dois estranhos envergonharam-se. Houve ali um clique que se deu, alguma coisa que ele sentiu e que não era costume. Olhou para ela. Era bonita e atraente. Mas não era só isso. Havia ali algo mais que ele não soube identificar, porque ainda não conhecia. Gostou dela e a relação continuou.

Estavam apaixonados. Ele não passava sem ela e ela era feliz com ele. Ele comprou o carro que sempre desejou, o dos seus sonhos, para ir com ela até ao lugar mais fantástico e maravilhoso que pudessem conhecer. O seu paraíso. E assim foi a vida continuando, dia após dia, com momentos de alegria e satisfação. Ela amava-o e ele estava deslumbrado com ela.

Os amigos nem o conheciam. “Ela fez-te qualquer coisa, homem. Então, agora só estás com ela?” E ele fazia que sim com os ombros e com os olhos. Que mal é que tinha estar a sentir-se assim? Era tão bom. “És um parvo. Ela fez-te alguma bruxaria, colocou qualquer coisa na tua bebida e agora estás enfeitiçado.” Ele ria daquelas parvoíces. Eles é que eram parvos, porque nunca tinham sido escolhidos para sentir aquilo que ele tinha. Estava imperturbável.

O carro era a menina dos seus olhos. Lá dentro tudo podia acontecer: viagens, amor, decisões, vida a dois. Cuidava dele como de um bem precioso, algo só seu e que os outros nunca poderiam ter. Era a sua extensão, o outro lado do seu eu. Estava sempre impecável, limpo e disponível, tal como o seu amor por ela.

Um dia ela chega a casa, saltitante, cheia de vontade de lhe fazer uma surpresa, uma nova lingerie e uma nova receita, uma noite especial e, quando entra no quarto a cara que vê não é a que estava à espera. Ele estava lá, sim, mas não com ela, com outra que ela nem sabia quem era. Ficou sem reacção, estupefacta a olhar para aquilo que os seus olhos viam, mas não queria acreditar. Os pés estavam colados ao chão e o cérebro deixou de funcionar. Não admitia uma coisa daquelas!

Desceu as escadas, a correr, sem medo de cair e num instante chegou à rua. Onde é que estava? Onde é que ele o tinha estacionado? Olhou, olhou e acabou por o ver, no outro lado da rua. Parecia que sorria para ela. Ah! Estás aqui! Grande sacana! Já vais ver como elas te mordem! E, sem mais nem menos, começa a pontapear o carro.

Quem passava ficava sem reacção. Que se estava a passar? Aquela mulher estava descontrolada! O barulho é elevado e, à medida que lhe saíam os chutos, sentia-se melhor. Uma pedra. Onde é que estava? Ali, uma das grandes. Agarrou na pedra e pimba! Em cheio no vidro da frente. Ah! Que sensação poderosa! Outra, precisava urgentemente de outra. Além! Zúúú! Em cheio no vidro traseiro.

Estava doida! Só se queria vingar do que tinha visto. Que desplante! Também não ia ficar com o carro! Era mais importante que ela, não era? Então deixava de ser! Ordinário, pulha, inútil, filho duma… e não disse mais nada. Sentou-se no passeio e começou a chorar. Um choro tão profundo que se ouvia em todo o lado. As pessoas abordavam-na perguntando se estava bem. Não, não estava. Tinha a vida desfeita, tudo se tinha desmoronado. O coração estava roto e sangrava de tal modo que não conseguia estancá-lo.

Ele aparece e, perante o que vê, deita as mãos à cabeça, num sentimento de incredulidade.” Ó mor o que é que foste fazer? O meu carro!” “Tens a lata de ainda me dirigir a palavra? Escroque! Partiste-me o coração, o meu mais precioso bem e eu, então, desfiz-te o carro. Talvez possas entender a sensação.” Ela chorava, ele gesticulava, todos falavam e, do outro lado da rua, a outra, saía de fininho.

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