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Adeus Reino Unido, até depois

Sempre fui um anti-europeu convicto. Sempre achei e continuo a achar que entregar uma parte da soberania de um país, seja pequena ou grande, a uma organização é desprezível e pouco prudente. Acredito que ter forças exteriores a um país a ditarem ordens ao mesmo é simplesmente estúpido e perigoso. Chamem-lhe a minha mentalidade de Império, não gosto que decidam coisas por mim. No entanto, não sou completo alheio às vantagens do mercado livre e da livre circulação de pessoas e de bens. Apesar disto, apoiei a saída de Inglaterra da UE. Para mim a UE é uma organização arcaica, decrépita, excessivamente burocrática, ineficaz e, acima de tudo, que funciona sob a alçada do Estado Alemão. Isto é, a Alemanha diz saltem e o resto da Europa, em uníssono, pergunta a que altura.

Festejei o resultado do referendo com uma enorme alegria. Para mim, o Brexit é o primeiro prego no caixão da União Europeia. No entanto, o Reino Unido desiludiu-me. O Reino Unido, que para mim é o bastião da democracia europeia, tornou-se, literalmente do dia para a noite, num sítio onde é aceitável ser-se racista e xenófobo. Onde é aceitável insultar ou agredir pessoas apenas porque não são inglesas. Eu quero acreditar que a larga maioria das pessoas que votaram a favor da saída da União Europeia não são exemplos disto, que votaram a saída por saberem que o país está melhor fora do que dentro da União Europeia. Porém, cada dia vejo mais e mais notícias e relatos de ataques. Acredito que estes ataques serão passageiros, que rapidamente irão acabar e que não passam de uma estupidez realizada por uns quantos seres acéfalos.

Estes ataques relembram-me, como espero que relembrem a muitos outros, da ascensão do Regime Nazi na década de 30 na Alemanha, que também começou com um sentimento de “nós contra eles”, de querer uma parte da população fora do país e que culminou com um dos maiores genocídios do mundo. É extremamente necessário, imperativo até, impedir que o que aconteceu na Alemanha volte a acontecer na Europa do século XXI. Que se mande o Brexit às malvas, se for preciso.

Contudo, regressemos ao Brexit. Logo à partida, o Brexit arrisca-se a destruir o Reino Unido uma vez que Inglaterra e Gales votaram para sair e que a Escócia e a Irlanda do Norte votaram para ficar. E a Escócia, sempre senhora do seu nariz, ameaçou logo com um novo referendo sobre a independência. No imediato da vitória do sair, o Primeiro-Ministro Inglês, David Cameron, demite-se numa atitude de criança mimada que foi contrariada, o líder do partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, viu a sua liderança ser posta em causa, uma vez que não esteve verdadeiramente empenhado na campanha pelo ficar, e a União Europeia começa a ter atitudes de ressabiamento, porque o Reino Unido se vai embora, exigindo a invocação de imediato, sublinhe-se o imediato, do Art.º 50 do Tratado de Lisboa.

Isto para não falar no facto de pelas pesquisas da Internet no dia da vitoria do sair a maioria eram sobre o que era a União Europeia, significando que as pessoas não sabiam bem no que estavam a votar. E mais uma vez o bastião da democracia Europeia desilude-me. Não é suposto que as pessoas não saibam no que estão a votar, não é suposto que o Primeiro-Ministro de um país se demita, porque as pessoas não votaram da forma que ele queria e também não é suposto que uma União de países aja como um fedelho mimado apenas porque um dos países votou, democraticamente, pela saída dessa União. Ao ver esta situação, que se não fosse a real era bastante caricata, pensaria se não estaria nalgum país de Terceiro Mundo.

Passado quase um mês, os ânimos acalmaram na Europa. Cameron apresentou a demissão formal à Rainha, que rapidamente empossou a nova líder do Partido Conservador, Theresa May, como Primeira-Ministra (a primeira desde Thatcher e a segunda do Reino), a União Europeia acalmou a linguagem e as exigências e já não se comporta como um fedelho mimado e a libra esterlina, que tinha afundado no imediato, já está nos níveis que estava no pré-Brexit.

Agora vamos olhar para esta situação toda com calma e sossego. Era necessário o ressabiamento da União Europeia? Não, não era. Os lideres da União Europeia pouco ou nada intervieram no debate para além do “pessoal se saírem vai ser chato para todos”. As grandes vozes pelo ficar foram sempre do lado inglês e também ficaram aquém das expectativas. Era necessária uma campanha tão destrutiva como a que se viveu? Também não. Não havia necessidade de descer a um nível tão baixo como o que se desceu. A campanha devia ter sido focada nos méritos e deméritos da União Europeia. Infelizmente, transformou-se num debate sobre quem é que deve entrar no Reino Unido e sobre a quantidade de dinheiro que é enviado semanalmente para a União Europeia.

Finalmente, seria necessária a demissão de David Cameron? Para mim não. Apesar de ter perdido a credibilidade politica, o ex-Primeiro-Ministro recebeu em bandeja de prata uma oportunidade de ouro, quer para ele quer para o seu partido, ao negociar com sucesso a saída da União Europeia e os consequentes tratados com a mesma e com os restantes países. Preferiu demitir-se e passar a pasta a outra pessoa. De notar aqui, que o sentido de humor inglês não está morto uma vez que a pessoa que agora está a frente dos destinos do Reino Unido e na negociação do Brexit é uma Europeia convicta.

Em jeito de conclusão permitam-me duas notas. O Brexit aconteceu em primeiro lugar, porque a União Europeia quer funcionar como um bloco, quando não o deve ser. Sempre houve duas velocidades na Europa e sempre vai haver. E em segundo, porque os ingleses ainda têm (e espero que sempre tenham) uma mentalidade de Império.

A segunda nota é uma espécie de aviso. Sim, o Brexit é o primeiro prego no caixão da União Europeia, no entanto, ainda há tempo para remediar os restantes pregos. É necessário descartar este modelo federalista híbrido que rege a União em prol de um modelo mais fluído e menos homogéneo. Como disse, a Europa sempre teve duas velocidades e, quanto mais depressa a União perceber isso, menos risco há de ela colapsar sobre si mesma.

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