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A Uma Hora Incerta

Dentro do panorama do cinema português, Carlos Saboga é um nome a reter e não referimos apenas o seu trabalho enquanto realizador emancipador, mas sim como argumentista, cujo seu génio nos presenteou com algumas das mais obras mais interessantes da nossa filmografia, entre as quais Mistérios de Lisboa, do chileno e desaparecido cineasta Raúl Ruiz. Os seus guiões sempre haviam demonstrado uma riqueza no conteúdo histórico e nos enraizamentos com a narrativa, visto que uma experiência directa por detrás das câmaras poderia salientar esse artista completo, mais do que somente o alicerce para a criação de outrem.

Depois do arranque com Photo, em 2012, um filme que orquestrou as memórias de um Portugal regido ao salazarismo e que resultou num ensaio mais feliz que a grande produção Night Train to Lisbon, eis que surge outro olhar ao nosso país em pleno anos 40, A Uma Hora Incerta. Nesta sua nova obra, o tema dos refugiados é invocado reflectidamente num período onde a Fantasia Lusitana parece cada vez mais vincada numa nação de fronteiras encerradas. A Segunda Guerra era vivida lá fora sob horrores inimagináveis ao povo português, mas o cerco construído entre nós, o sistema politico que tentava levar um país à obscuridade, corrompia qualquer ligação exterior, quanto mais fugitivos de uma guerra inexistente, segundo os livros portugueses. Esse factor torna-se na combustão para esta intriga de um inspector da PIDE fascinado por uma “desertora” francesa, uma obsessão que se torna a sua respectiva salvação.

Judith Davis
Judith Davis

A Uma Hora Incerta instala-se como uma produção de baixo-orçamento, o qual se referencia na limitação da sua variedade cénica que como tudo converte-se numa imagem aludida à saúde que o nosso país apresentava no seu predilecto esconderijo da Guerra. Eis um filme que nos fala da ignorância social estabelecida pelos nossos líderes políticos e pela ligação fortalecida com os órgãos religiosos, pelo meio indiciámos a repreensão sexual, o constrangimento que tem muito de bíblico como de um erotismo digno de “buraco de fechadura”.

Quanto ao primeiro adjectivo, a história de incesto de Lot revela-nos o vector acrescente de A Uma Hora Incerta, onde a jovem actriz Joana Ribeiro dá cartas com uma interpretação calorosa e um misto de ingenuidade sexual com níveis elevados de teor psicótico. A juntar a isto, uma montagem profissional em conformidade com uma fotografia de Mário Barroso, que expele essa salada de sentimentos e sensações que este A Uma Hora Incerta evoca. Um dos mais interessantes filmes nacionais estreados num ano rico – mais concretamente o ano da trilogia As Mil e Uma Noites – há que a somente dar uma oportunidade e abraçar os nossos “defeitos” enquanto povo.

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