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A síndrome de londres

Escolher a roupa a levar em cada viagem é sempre complicado, mesmo quando aparenta ser uma tarefa simples.

Não sou uma fashion victim, aliás, tenho um gosto peculiar que se importa mais com materiais do que com modas, mas fazer malas de viagem com peças confortáveis, adaptáveis a quente e frio, que não amachuquem durante a viagem, versáteis para qualquer tipo de combinação, e que ocupem pouco espaço na mala é igualmente um desafio.

Há uns anos fui a Londres. Nesta fase da ida a Londres, o meu guarda-roupa estava recheado de minissaias, minivestidos e minicalções, mas era fim do Inverno, estava previsto chover e dado o âmbito da viagem não incluí na mala qualquer uma destas peças.

Como qualquer turista que se preze, em Londres o que mais conhecemos foram estações de metro e, se esperava ficar maravilhada com a cidade, a cada nova estação de metro eu fiquei um bocadinho mais desanimada.

Em Londres, ou melhor, nas escadas de acesso às estações de metro, vimos o maior número de mini-saias por m2 e por pessoa. E eu que já só suspirava pelos meus exemplares que tinha deixado em Portugal, sem espaço na agenda para ir às compras londrinas, fiquei ainda mais desanimada quando fomos barrados à porta do “Tiger, Tiger”, em Picadilly Circus, porque não estávamos vestidos ao nível do local (segundo o porteiro).

Londres foi uma viagem marcante, não porque quase vimos a rainha ou quase comemos “fish&chips”, mas porque percebi que a maior parte das vezes não estava vestida ou preparada para me vestir ao nível do contexto em que estava.

Resultado desta viagem, apelidei a esta sensação de “Síndrome de londres”. Este síndrome não dói, nem acarreta outras consequências para além de uma pequena frustração pessoal e embaraço social ocasional, que eu facilmente ignoro, mas que pontua de pontos fracos à minha imagem perante algumas personalidades que se interessam mais pela embalagem do que pelo interior e desempenho do pacote.

Esta sensação repete-se variadas vezes: seja porque de repente surge uma reunião importante e justo naquele dia escolhi a minha t-shirt preta preferida (a mais ruça e coçada) e acabo a destoar no meio de presidentes que vestem camisa branca e peritos de seguro que vestem camisa azul, seja porque estou num ambiente familiar e numa ida à casa de banho apercebo-me que estou com uma peça demasiado transparente, seja porque saio descontraída para tomar café e ao chegar ao destino apercebo-me que tenho uma t-shirt lavadinha mas com nódoas do ofício, seja porque vou a uma cerimónia sem dresscode definido com as minhas calças preferidas (que custaram 10€) e nas quais desajeitamento tento não tropeçar com os próprios saltos e logo dou de caras com figuras saídas da alta parisiense, seja porque uso qualquer trapinho da “Feira dos Tecidos” como peças únicas de moda.

Esta síndrome é normalmente identificável por alguns sintomas exteriores, nomeadamente observações como:

  • Tens aqui um buraquinho na camisola.
  • Tens as meias rasgadas.
  • Isso é uma nódoa?
  • Penteaste o cabelo?
  • Essas cores não combinam.
  • Passaste a roupa?
  • O que é que tu tens vestido?
  • Isto aperta assim?
  • Vais assim?
  • Vais levar esse casaco?

Nos breves instantes após a verbalização destes sintomas, pondero se precisarei de ajuda médica ou eu própria conseguirei fazer um diagnóstico e administrar-me uma cura.

Recorrendo aos tempos de escola, a cura consistiria em combinarmos, o dia a ir de saia ou outras peças mais exuberantes, mas, a maior parte das vezes, quando o combinávamos, eu era a única a aparecer de saia.

Reinventar o guarda-roupa ou recorrer a constante consultadoria interna também não é opção que me agrade, pelo que após alguns segundos conscientes do embaraço, abano a cabeça, ergo o nariz e digo entredentes, mas o suficientemente alto para quem está perto ouvir: “Ai, esta doença dá cabo do meu guarda-roupa.

Alguém mais sofre como eu?

P.S. londres com l minúsculo.

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