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A Porta de Saída

Estamos a terminar o prazo do programa de ajustamento e já sabemos por que porta vamos sair, foi-nos anunciado já pelo Primeiro-Ministro num discurso, a meu ver, bem construído, que teve como pecado uma situação que era dispensável, mas à qual já lá vamos.

Saímos sem programa cautelar, algo que não me surpreendeu minimamente, após todas as avaliações da dita troika terem sido positivas, naquilo que se chamou de saída limpa. Contudo, também é curioso analisar as reacções automáticas, quer da oposição, quer dos sindicatos, mas, principalmente, da opinião pública. Vamos por partes.

O discurso de Pedro Passos Coelho é um discurso bem construído e positivo, à medida do que se está a atingir, a libertação do programa de ajustamento. O discurso podia ter sido perfeito, se não tivesse caído na tentação de referir o anterior governo e a oposição, nomeadamente o PS, algo totalmente dispensável, ainda que, por um lado, não fuja da verdade o que foi referido. Este foi um discurso consciente da realidade, algo que deveria ter sido o tom da comunicação do governo desde o início da execução do programa.

Hoje vemos que o programa foi mal desenhado, partindo de pressupostos muito pouco realistas, mas que, dificilmente, acredito, se conseguiriam mudar. Fazer o que a oposição muitas vezes pediu nestes últimos 3 anos, como era o caso da extensão de prazos de pagamento, ou renegociação da dívida, seria, a meu ver, uma atitude irreflectida e com danos a médio/longo prazo muito fortes. Se tudo o que foi feito, foi bem feito? Não, a meu ver não foi, de todo. Muita coisa podia ter sido feita de forma diferente, sem dúvida, mas, acima de tudo e como já o referi por mais de uma vez, o que pior se fez foi mesmo comunicar o que se estava a passar. Era urgente que a população, a cada passo que se dava, fosse devidamente informada e esclarecida, não por Ministros das Finanças, de linguagem tradicionalmente seca e numérica, mas sim pelo Primeiro-Ministro, de forma simples e directa.

O resultado disso foi nefasto, traduzindo-se na criação dum ódio de estimação pelo governo de Passos Coelho e pelas suas medidas. Acima de tudo, o que creio que os portugueses não entenderam foi a real situação do país e o que este programa iria solicitar, desde o início. O programa de protectorado, como muitos chamam, termina nos próximos dias, sem dúvida, mas o trabalho do Estado (não do Governo, não confundir!) em repor a normalidade das contas públicas não está terminado. Seja este Governo, seja o próximo que, à partida, terá um PS no leme, terá de manter o mesmo tipo de filosofia de precaução e prevenção e apostar fortemente naquilo que, espero, seja o passo seguinte desta governação, a dinamização da economia e consequente alívio fiscal.

Voltemos ao discurso. Oposição em peso e opinião pública (alimentada pelo ódio, pela oposição e pelos sindicatos) levantaram-se contra o discurso de saída do programa de ajustamento, usando os mesmos argumentos de sempre e caindo no ridículo do zero que, neste momento, muitos começam a representar na solução para o desenvolvimento do país. António José Seguro veio, com o seu tom naturalmente demagógico de quem ainda procura apoios fortes dentro do próprio partido, dizer que o país saiu do programa pior do que entrou. Sou sincero, confesso que nunca vi nenhum doente oncológico ficar, exteriormente, melhor depois das sessões de quimioterapia e de radioterapia a que é submetido para destruir as células cancerígenas que foram detectadas, através de sintomas até, muitas vezes, subtis. Contudo, cabe a este doente e aos médicos acompanharem a evolução da cura e efectivar as mudanças no comportamento, alimentação, medicação, etc., que irão levar à cura definitiva. A chave está aqui mesmo, nas mudanças pós-tratamento. Não se trata duma questão do país crescer, mas sim de encontrar o seu ponto de equilíbrio e saber aproveitar melhor os seus recursos e dinamizá-los para que a economia se torne sustentável e suficientemente dinâmica para suportar os custos do Estado Social. Como há 30 anos, estamos na saída de um programa de ajuda financeira, mas está nas nossas mãos o caminho que se irá desenhar a seguir.

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