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A hiperinflação: Um demónio macroeconómico

Tal como o nome indica, uma hiperinflação constitui-se, quando a inflação atinge valores acima daqueles que podem ser considerados normais, trata-te de uma inflação fora de controlo. É, sem qualquer margem para dúvidas, um demónio macroeconómico. Encarece os produtos a um ritmo alucinante, provoca uma desvalorização acentuada da moeda, mesmo numa moeda forte, e, consequentemente, provoca recessão. Todas estas consequências tornam fácil de prever que a hiperinflação é uma das piores coisas que podem acontecer numa economia.

No clima de austeridade em que a União Europeia está mergulhada, ou, pelo menos, ainda está banhada, o risco de hiperinflação não é tão reduzido como o desejável e um dos países com mais receio disto é a Alemanha. Porquê? Porque a história já lhes deu a desagradável experiência de saber como isso é prejudicial e arrasador. Vamos recuar até 1923, o ano que marcou o fenómeno em terras germânicas. Na altura, pouco depois da Primeira Guerra Mundial, a obrigação da Alemanha de pagar indemnizações avultadas às nações vencedoras foi o principal motivo do crescimento desmedido da inflação. Aliada a essa condição, a conjuntura interna da Alemanha era caótica ao ponto de se encontrarem impossibilitados de obter – pela via fiscal – o dinheiro necessário para fazer face à despesa. Para contornar a situação (e é preciso referir que não há nenhuma forma positiva de o fazer), a República de Weimar (antecedente do regime Nazi) optou por se financiar com injecções contínuas de dinheiro, sem a contenção necessária para o equilíbrio das contas do Estado.  No mês de Dezembro de 1923, o Reichsbank já tinha emitido 496,5 quintilhões de marcos, fazendo com que cada unidade valesse um trilionésimo do que valia em ouro de 1914. A moeda alemã valia, então, pouco mais do que… nada.

Existem quatros grandes motivos para a criação e, de certa forma, para a proliferação da hiperinflação na Alemanha nos anos 20, como existem os mesmos motivos que nos podem, hoje em dia, levar a uma situação similar na Europa, se o nosso poder político não estiver informado, ou se o eleitorado não souber retirar as conclusões necessárias dos programas eleitorais que se fazem para ninguém ler.

O primeiro é a tentativa de manipular a opinião pública para a fazer acreditar que o problema não existe, de todo. Ou seja, de que não existe inflação monetária, nem de crédito. Essa manipulação ocorreu na Alemanha, quando vários economistas, com ligações ao Governo, argumentavam que o valor real de todo o dinheiro em circulação, ou seja, o valor em ouro, também de bens e serviços, era, na verdade, muito menor, quando comparado com o anterior à Primeira Guerra e abaixo dos valores praticados noutros países industriais e desenvolvidos. O Ministro das Finanças e economista, Dr. Helfferich, garantia incessantemente ao eleitorado que não havia inflação na Alemanha, uma vez que o valor total da moeda em circulação, quando mensurado em ouro, estava assegurado pelas reservas de ouro no Reichsbank. É, portanto, uma questão de discurso político. O verdadeiro cliché de que “se disseres muitas vezes uma mentira, ela torna-se verdade”. Uma triste verdade.

O segundo motivo é o investimento desmedido, mas de causa, aparentemente, nobre e exclusivamente dedicado ao bem social. Nos anos 20 alemães, ocultavam-se os riscos e os caminhos da hiperinflação com promessas de melhores condições de saúde, mais e melhor educação, bem-estar e, claro, emprego. Os objectivos parecem-vos familiares? Pois, são semelhantes aos actuais. Na Grécia, na Irlanda, por cá… Mas calma, não são situações comparáveis em muitos e dissemelhantes sentidos. Apenas é preciso frisar que o risco não desapareceu, nunca desaparece, a responsabilidade deve ser a melhor qualidade dos nossos líderes nacionais e europeus.

O terceiro foi, em grande parte, o famoso Tratado de Versalhes. Durante o período da inflação, a explicação/retórica mais popular para a depressão monetária era aquela que colocava a responsabilidade do defeituoso balanço de pagamentos nas reparações e outras obrigações impostas pelo Tratado. A culpa não morre solteira, mas seria exclusivamente uma culpa externa. Para a maioria dos políticos alemães, os défices do governo e a inflação da moeda não eram as causas, mas, sim, as consequências da depreciação externa do marco. A popularidade dessa explicação/retórica/mentira, que responsabilizava os vencedores da Primeira Guerra pelo desastre alemão, trouxe implicações desastrosas para o futuro, tal como a história registou, como é o caso da implementação do regime Nazi.

O quarto e último motivo é entregar a culpa aos especuladores. O que as bruxas eram na época medieval, o que o capitalista é para o comunista, o especulador é para a maioria dos políticos, pelo menos para os que têm como principal objectivo a manipulação para conseguir levar as suas ideias em frente, em vez de discutir as ideias que têm, para as validarem e analisarem sem interesses singulares, ou de beneficio individual.

Existiram, provavelmente, outros motivos para a hiperinflação alemã dos anos 20, porém, estes quatro são os que mais facilmente se podem moldar ao mundo Ocidental, tal como o conhecemos hoje. A economia “unificada” da União Europeia não pode, hoje, passar por uma situação semelhante sem a existência de estragos profundos, que podem levar à destituição europeia. Esse facto, conjuntamente com a má experiência do passado, faz tremer a Alemanha. No entanto, mais do que o medo, deve haver consciência e, essa, não só alemã, mas de todos nós, sociedade informada e com um nível de instrução que supera qualquer registo histórico. Quando há informação não há manipulação e, muito menos, riscos de nos tornarmos meros peões em jogos de poder.

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