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A Fragilidade de uma Vida

O resumo da actualidade é relativamente fácil de fazer. Entre a crise europeia, com foco especial na Grécia, com os avanços e recuos do Governo Grego e da União Europeia, a queda da Madonna nos BRIT Awards e a declaração de António Costa perante uma plateia de chineses, um acontecimento lembrou-nos de que existem outras crises, mais interiores na nossa sociedade, mais profundas.

Maria Zamora era uma actriz, tinha 40 anos e uma história de sofrimento por violência doméstica. Foi encontrada morta na sua casa, pelo actual namorado e tinha um processo a decorrer contra o anterior companheiro, aquando duma tentativa de assassinato por parte deste. Chamava-se Maria Zamora, mas poderia ter inúmeros outros nomes, pois, na verdade, ela é mais uma das muitas pessoas, mulheres e homens, que sofrem de violência doméstica e que, directa ou indirectamente, perdem a sua vida por causa de outros, que, numa vivência psicótica de posse, manipulação e ego, desrespeitam o mais básico da vivência humana, a independência, a liberdade, a individualidade.

Na minha vida, tenho contactado, por algumas vezes, com pessoas vítimas de violência doméstica, pessoas maltratadas, manipuladas e usadas por outras que se acham donas das suas personalidades, do seu amor, das suas posses. Aprendi que todos nós temos fragilidades e que o agressor conhece bem as da sua vítima, usando-as e minando-as até um ponto de ruptura total. A mais básica de todas essas fragilidades é o amor-próprio, algo comum a todas as vítimas, que, por via de circunstâncias, ou por padrão de vida, não se sente bem consigo, está frágil, carente, acha que não poderá viver por si mesma, que não sobreviverá sem ter um apoio. Nesse momento, há uma brecha que se abre e que é a porta de entrada para a manipulação.

Vivemos numa sociedade em que as mulheres viveram muitos séculos subjugadas às decisões dos maridos, por dependência financeira, mas também por condicionantes sociais, morais e religiosas. No entanto, vivemos hoje numa sociedade que sofre de falta de amor, demasiado focada no material, onde tantos crescem sem carinho e sem atenção. Temos vindo a criar, ao longo dos anos, uma sociedade com enorme falta de amor-próprio e a prova disso é a quantidade de casos de depressão e esgotamento que temos. É essa mesma origem que cria as duas partes do flagelo da violência doméstica, os agressores e as vítimas. Ambos têm a mesma fonte, mas cada um segue um caminho oposto.

Combater a violência doméstica é trabalhar o amor-próprio, é valorizarmos as emoções e sabermos ter tempo, mas também vontade, de criar uma sociedade mais humana. A Maria lutava por isso, não só com a sua postura perante a vida, mas também com o trabalho que fazia com as crianças na Missão Sorriso. A luta contra a violência doméstica não é um trabalho só das vítimas, é um trabalho de toda uma sociedade que necessita de ser mais atenta, de ser mais coesa, mais solidária. Ninguém pode obrigar uma vítima a apresentar uma queixa, mas todos nós podemos, em qualquer situação, estender a nossa mão e estarmos disponíveis para ajudar alguém a ter uma vida melhor, a sentir-se melhor consigo mesmo.

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