+1 202 555 0180

Have a question, comment, or concern? Our dedicated team of experts is ready to hear and assist you. Reach us through our social media, phone, or live chat.

A ditadura da juventude

O ser humano foi o último animal a povoar este planeta, mas rapidamente lhe tomou as rédeas e o tentou dominar. Das árvores até ao chão foi um passinho lento que a rapidez apanhou. Levantou a cabeça e o pescoço estreitou-se permitindo o aparecimento da linguagem. Comunicar e saber viver com os outros, em sociedade, foi uma conquista a pulso. Uma eternidade temporal. A humanização foi feita por etapas. As cordas vocais ficam mais soltas e as vocalizações saem dando origem à fala. Uma inovação. Depois olham para as mãos e usam-nas para fazer instrumentos, para os ajudar nas labutas diárias e necessárias. Finalmente perdem os instintos animais, de sobrevivência e de reprodução para dar lugar à chamada humanidade. Evolução, foi o nome encontrado para esse avanço. Sentimentos e emoções que servem de guia e de conforto. Saber viver num grupo muito grande, criar uma família alargada e resolver as questões colocadas, fez deste ser o chamado Homem, o animal superior.

Do Paleolítico ao século XXI, foi um caminho espigoso e armadilhado que se percorreu. Em nada fácil, em nada animador. Da luta da sobrevivência entrou-se na futilidade. Do nada se chegou ao tudo e o desperdício fez parar as mentes. Estamos no século XXI e pelos vistos ninguém quer envelhecer. Vive-se uma autêntica ditadura da juventude e quem não a seguir é alguém que fica mal visto. Deixar o corpo seguir os seu ritmo natural e responder à gravidade tornou-se um crime quase institucionalizado. Surgem as dietas milagrosas, sobretudo quando o sol se lembra de dizer que existe e que vai abrir os seus braços em calor. Quem não frequenta um ginásio é um marginal e certamente que se prepara para algo de muito perigoso. Um corpo bem delineado é que está na moda!

A falsidade e a falta de valores leva a que se perca a essência do ser humano, aquele que nasceu incompleto e que se vai descobrindo ao longo do tempo. Ser velho é sinónimo de viver muitos anos, de ter experiência de vida, de se ter conseguido ultrapassar várias barreiras e de ter a certeza que vai continuar. Ser jovem é estar ainda numa certa ingenuidade que querem que funcione em pleno. O corpo é somente o invólucro, mas o que o habita é essencial. Se só se pensar em músculos e definições corporais, o cérebro fica em estado de choque e não quer funcionar. Esses seguidores cegos atrofiam o pensamento e a mente recusa-se a funcionar. O corpo é que manda e sabe e de nada serve esta inútil tentativa de retrocesso. O tempo não pára e não perdoa.

Uma ruga é uma marca de um riso ou de uma dor, uma estria é a lembrança do filho que viveu seguro durante meses, um “pneu” é a recordação das reuniões com os amigos e das alegrias partilhadas. Saber envelhecer é uma arte que muitos não querem aceitar. Os corpos deixam de obedecer e crescem livres de amarras até chegarem ao ponto que entenderem. Os cabelos são brincalhões e mudam de tonalidade para obrigar a novas estratégias e outras combinações. Os braços ficam continuamente na posição do adeus, porque algo partiu e já não regressa. A juventude é somente uma fase, mas a maturidade é um estado que se quer manter. Onde está a dificuldade para aceitar estes factos?

Quem não sabe aceitar a passagem do tempo torna-se ridículo. É uma questão de inevitabilidade. A frescura perde-se, mas ganha-se em sabedoria e alguma experiência que permite fazer balanços mais equilibrados. Quando tudo se desmorona, quando o corpo cede, após tantas pressões, com plásticas, com dietas, com medicamentos e mezinhas é a decadência que toma a dianteira e é muito feio de se ver. A vida aparece, cheia de energia, para humilhar todos aqueles que estavam convencidos de que a enganavam. Saber viver é saber envelhecer e retirar todos os dividendos possíveis.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Tecnologia, cada vez mais uma parte de nós

Next Post

Estás dependente da pressão da sociedade?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

It’s a MATCH!

Quem nunca se sentiu mal consigo próprio, deprimido, com a autoestima na mó de baixo. Hoje em dia, cada vez isso…

Perder um Amigo

Como é que se perde um amigo? Falo de uma perda de amigos vivos, falo do fim da amizade, de uma árvore seca, sem…

Sei que nada sei

“Conheço-te como a palma da minha mão.” Foi, ao longo da minha pequena e feliz vida, a maior mentira que alguma…