Segundo a sabedoria popular “a culpa nunca morre solteira” e quando algo corre mal ou a verdade que se queria esconder vem ao de cima o jogo da atribuição de culpas começa, por isso, fazendo jus ao senso comum popular, quando a real situação da economia portuguesa veio à tona os dedos recriminatórios começaram a surgir.
O primeiro a quem apontaram o dedo foi o ex-primeiro-ministro, José Sócrates. Enquanto para os meios de comunicação declarava que a situação estava controlada, o défice público aumentava e a inevitabilidade do pedido de ajuda externa, situação que Sócrates tentou evitar até ao fim com a tentativa de aprovação no parlamento do PEC IV, precipitou a demissão do líder socialista. A derrota nas eleições legislativas que se seguiram à demissão do governo confirmou o sentimento de culpa que se imponha sobre José Sócrates.
No entanto, com a tomada de posse do governo de coligação entre o PSD e o CDS/PP e a chegada da Troika, o buraco financeiro em que Portugal estava metido desvendou que os problemas que o país enfrentava eram estruturais e anteriores ao governo socialista, que apenas foi mais um a contribuir. O nome de vários ex-primeiro-ministros veio à tona com os partidos de segunda linha da esquerda e da direita a acusarem os dois maiores partidos políticos portugueses de anos de má gestão.
E neste jogo de atribuição de culpas, também o comportamento da sociedade portuguesa no “tempo das vacas gordas”, em que havia dinheiro para esbanjar, está a ser julgado em contraponto com as gerações mais novas que assistiram impávidas e serenas ao que se ia passando. Como que um reflexo da actuação política em Portugal, quando tudo corria bem poupar não foi a acção mais praticada pelas famílias portuguesas que viram o consumismo exacerbado ganhar expressão com o facilitismo em adquirir créditos. O estilo de vida de muitos foi sustentado à base de créditos passando a mensagem errada para as futuras gerações.
Agora que os anos de má gestão política estão a nu, tal como os anos de má gestão do orçamento familiar, a culpa, que realmente nunca quer morrer solteira, tem de ser repartida por todos. Tanto a geração mais velha e mais nova contribuíram para que a situação nacional chegasse ao ponto em que hoje nos encontrámos, os políticos numa escala macro e as famílias na escala micro tiveram a sua quota-parte no buraco financeiro ignorando as bases para criar um crescimento sustentável, pensando só no imediato.
Porém, mais que atribuir culpas, identificados os problemas, é altura de analisar aquilo que se tem feito de mal durante estes anos e realmente forjar estruturas que mantenham sólida a saúde económica do país mesmo em tempos adversos. A reintrodução do conceito de poupança é urgente na sociedade portuguesa que, até agora, viveu órfã de uma rede de segurança.