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A arte de explicar arte

O tema da Arte ainda suscita muitas reacções diferentes. É bom. É isso que se pretende. É salutar. Uns gostam e outros não. É inevitável. Agradar a Gregos e a Troianos é, de todo, impossível. Porém, o que podemos considerar como arte? O belo, o agradável, o atractivo, o que apela à emoção, ao sentimento, o que nos consegue tocar e despertar algo interior, será isto? É a transmutação da realidade, o modo como o artista sente, como pretende imortalizar um momento ou um acontecimento, a forma pessoal de sentir. É inato ao homem. Na sua longa caminhada, desde o aparecimento neste planeta, o terceiro a contar do Sol, aqui mesmo, onde estamos, o ser que habita este local, desde o fim da última glaciação, a de Wurm, tem mostrado os seus dotes, evoluído e entrado em mundos paralelos que deliciam milhões e suscitam pólos opostos de opiniões.

A descoberta de um osso gravado, em 1834, na gruta de Chaffaud, vai dar início a uma nova forma de analisar, não só a História, como também a arte. O homem pré-histórico tinha gosto pela arte, nutria já um conceito de beleza ou simplesmente obedecia a rituais religiosos e assistia a cerimónias mágicas? Começam as teorias. Em Lascaux, o “Caçador Ferido” dá o mote para um debate que se mantém até aos dias de hoje. O Paleolítico Superior é o maior período de história da humanidade que durou entre 8000 a 400 000 anos. É de pensar que se deram muitas ocorrências. Os registos estão nas rochas, nas grutas, em locais escondidos. Eram diários de luta, de fé, de necessidades. É curioso que o apuro permite verificar várias raças diferentes de cavalos, tal é a perfeição. As cores são fornecidas pela natureza, os ocres roxos e amarelos, que são pintados com os dedos ou com pincéis rudimentares, de pêlos de animais e misturados com sangue e água.

A religião sempre ocupou um lugar de destaque na vida do Homem. Na época cristã, no início deste nova e revolucionária religião, as catacumbas eram locais de culto, de refúgio e, também, de manifestação da arte. As paredes são cobertas de frescos, recriando as mensagens bíblicas de Noé, a arca, Daniel e os leões, bem como Lázaro saindo vivo do seu sepulcro. As referências à cruz, símbolo novo, são dissimuladas e subtis. O ícone maior será a Virgem, mãe de Jesus Cristo, que representa a pureza, a perfeição, a ausência de mácula e de pecado. A alma é feminina sendo uma mulher de braços entendidos, quando terrena e uma ave, quando se trata do céu, local de recompensa para quem pratica boas acções e cumpre os preceitos estabelecidos.

A Arte Gótica, que eclode na Idade Média, vai renovar a visão recolhida e clandestina da fé. As igrejas Românicas eram pequenas, grossas, pouco elegantes, escuras e frias. As góticas enaltecem o amor ao Criador, tentam tocar o céu, chamar-lhe a atenção. São dotadas de verticalidade, plenas de luz, usando novas técnicas, como o arco quebrado, a abóboda de cruzamento de ogivas, que suporta um peso muito maior, mas mantendo a leveza das linhas, os arcobotantes, auxiliares preciosos e as gárgulas, o aspecto caricato e brincalhão. São pequenos diabinhos provocadores, que olham os crentes e os alertam para os perigos. Na verdade, incitam mais do que penalizam, mas este não era o modo como se pensava na altura. Tinham um enorme valor documental e pedagógico pois era a leitura dos analfabetos, que se encolhiam com receio dos castigos futuros, como o inferno.

O Barroco é uma arte plenamente teatral, que busca o infinito e o fantástico, cheio de pompa e esplendor. É duma ostentação tal que aquilo que não aparece coberto, o despojado, pode parecer pecado. O contraste de luz e sombra é desenvolvido através da emoção, da afectividade e do misticismo. É a arte dos sentidos, visual, auditivo e olfactivo. O efeito da talha dourada, a exuberância, é de tal forma faustoso, que leva a crer que a religiosidade e a vida mundana estão no mesmo patamar, próximas uma da outra e não num cenário fictício da realidade, completamente teatral.

O Romantismo vai mudar tudo. Cria uma ligação entre a arte, a história e a literatura. Tem o condão de ser uma corrente muito culta, bem elaborada, que desenvolve temas como as questões históricas e literárias, a mitologia, o retrato, o sonho, as tradições populares, a vida rural e a paisagem. Dá-se a exaltação do rural, onde são encontradas as raízes de um povo, na Idade Média, na valorização do passado. A arte é inspiração e criação, interioridade, isolamento da alma. A luz produz efeitos que permitem a sugestão, o deambular por aquilo que não é mostrado, mas que, quem vê, percepciona no seu íntimo.

No início do século XX surgem as vanguardas. Todas inovadoras, cheias de energia, revolucionárias, com o intuito de agitar mentes e uma sociedade que dormia tranquila e sossegadamente. O Fauvismo, agressividade e exaltação de cor, o cubismo, escandalizando tudo e todos, desmaterializando o clássico e dando uma visão geometrizante, o abstraccionismo, que rejeita a realidade concreta, o expressionismo, pura emoção e sujectivismo, o futurismo, combatendo a estética do passado e dando primazia às tecnologias, à máquina e o surrealismo, a projecção do inconsciente que se liberta, após a descoberta da psicanálise, por Freud.

Mas afinal o que é a Arte? A imitação do real? A expressão do sentimento e de emoções? A transfiguração da realidade? O símbolo de algo ou a Arte é uma forma pura? Durante muito tempo considerou-se que a Arte consistia na habilidade e perícia na produção de um determinado objecto. Mais tarde, distingue-se entre artes liberais e artes mecânicas. O advento da Renascimento altera mentalidades e enaltece o papel puro do artista enquanto produtor de beleza e de bem-estar. O artista é o génio, que está acima de todos. Para Kant existe uma distinção entre “artes agradáveis” e “belas-artes”. As primeiras têm como finalidade o gozo e as segundas são mais que um prazer sensorial porque são um modo de conhecimento. Posteriormente, as belas-artes foram catalogadas em pintura, escultura, música, literatura, dança, arquitectura e eloquência que, acabou por ser destituída pela arte cinematográfica, a chamada sétima arte.

A arte tem atravessado as várias épocas, os diversos séculos, os vários estilos e criado sempre novidades. É inovadora, autónoma e nunca perde a sua veia infantil e inconsciente. Nos nossos dias surgem novas formas, novos materiais, novos modos de expressão que continuam a deliciar os sentidos, a estimular o cérebro e a suscitar aquelas opiniões polémicas que são peculiares à expressão artística e nunca deixarão de o ser.

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