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Ler precisa-se

Ler.

O ritual de agarrar num livro. O toque. O cheiro das suas folhas. Pode ser um livro novo que nunca folheámos ou um daqueles que já cheiram à nossa casa, que já têm marcas, folhas dobradas, talvez até sublinhados. Daqueles aos quais voltamos uma e outra vez.

Em cada um há um leitor e um mundo. E um mesmo livro poderá ser um mundo diferente para cada leitor. A leitura permite-nos usar os sentidos; podemos imaginar as cores, os sons, os cheiros, as texturas. Descobrimos novas palavras, novos significados e ideias. É um prazer que precisa de tempo e de degustação demorada. 

Mário Quintana disse: “Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. 

Ainda assim, estes motivos parecem não ser suficientes para uma grande franja da população que não lê.

Temos a tendência de destacar as gerações mais jovens como não leitores. De facto, o digital é muito mais apelativo, mais imediato e exige competências menos desafiantes, o que leva a um maior consumo deste formato em detrimento do papel. É muito mais rápido consultar um documento digital, quando qualquer informação que se pretende está à distância de um clique no ecrã do nosso telemóvel. 

As gerações mais jovens (e não só) valorizam o que é mais próprio do seu tempo, aquilo que vêem os amigos fazer, mas também o que os pais tantas vezes fazem. Vivemos na sociedade do entretenimento e do consumo imediato, retiramos satisfação momentânea de coisas rápidas, que não implicam assim tanta concentração ou raciocínio, mas que exigem outro tipo de destreza, como um jogo de consola ou uma viagem pelas redes sociais. Existe uma necessidade de permanente conectividade e uma ilusão sobre o domínio do conhecimento.

Continuam-se a comprar livros, mas será que são lidos? Se olharmos para o nosso lado (ou para nós mesmos), quantas pessoas vemos com um livro na mão? E com o telemóvel? Passam-se os olhos pelos jornais digitais, pelas redes sociais, por um ou outro artigo que chame a atenção, mas que forma de leitura é esta? Sem dúvida, uma leitura de consumo rápido e sem espaço para a verificação de fontes ou para distinguir o essencial do acessório. O objectivo prende-se com a voragem de passar de um sítio para o outro, mais do que ler e compreender.

Existe uma consciencialização sobre estas questões e até alguma culpabilização pelo facto de não se ler. É frequente as pessoas comentarem que não lêem por falta de tempo ou que infelizmente deixaram de ter hábitos de leitura. Se as gerações mais jovens puderem encontrar exemplos de leitura em casa, entre a sua família e na escola, existirá, com toda a certeza, uma maior vontade de ler. Contudo, mesmo assim, continua a haver uma concorrência desleal entre um smartphone e um livro. Como competir com um grupo do WhatsApp, com notificações e fotos novas a cada cinco segundos, se aquilo que um livro parece oferecer é só um aglomerado denso de palavras, escondido para lá da sua capa? 

Na tentativa de encontrar um meio termo, criaram-se os e-books e os audio books, que nos permitem o acesso ao livro, com as vantagens associadas ao formato digital, mas que não agradam aos mais puristas, àqueles que vivem o ritual descrito no início deste texto.

Não concordamos com a ideia de que, algum dia, o papel irá desaparecer. Continuará a existir espaço para as várias realidades e cada desafio será uma oportunidade de reinvenção. 

Em vez de nos restringirmos ao que é fugaz e imediato, vale a pena dar uma oportunidade a algo que nos permite usar a imaginação, que melhora o nosso sentido crítico, que ajuda na ligação ao outro, que nos dá ferramentas para compreender o mundo e que não nos deixa ser reféns da ilusão do conhecimento. Ler permite-nos tudo isso.

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